Manejo de lagartas em algodão

Prática comum nas fazendas, misturas em tanque podem ocasionar problemas como entupimento de bicos de pulverização e até mesmo redução da eficácia dos produtos. Quando esse processo envolve misturar inseticidas biológicos com defensivos químicos os efeitos no desempenho de controle de lagartas na cultura do algodão podem se tornar ainda mais evidentes

28.03.2022 | 14:48 (UTC -3)

Prática comum nas fazendas, misturas em tanque podem ocasionar problemas como entupimento de bicos de pulverização e até mesmo redução da eficácia dos produtos. Quando esse processo envolve misturar inseticidas biológicos com defensivos químicos os efeitos no desempenho de controle de lagartas na cultura do algodão podem se tornar ainda mais evidentes.

A cultura do algodão está entre as mais importantes no cenário brasileiro de produção agrícola. A cada ano tem aumentado a área plantada, o que gera a necessidade de desenvolvimento de ferramentas que otimizem o manejo da cultura e sejam viáveis ao agricultor. Uma dessas ferramentas é a mistura de tanque.

Muitas vezes a prática de mistura em tanque ocasiona problemas de incompatibilidade dos produtos, o que pode formar precipitados, entupir bicos de pulverização e até mesmo reduzir a eficácia dos produtos. Esse fato tende a ser mais evidente quando se trabalha com mistura de defensivos com produtos de controle biológico. Com o surgimento dos inseticidas biológicos muitos produtores ainda continuam a adotar essa prática de mistura sem ter certeza de que as reações que ocorrem entre o defensivo e o agente de controle biológico, que são geralmente as bactérias Bacillus thuringiensis (Bt), não venham a causar danos, diminuindo sua eficiência sobre lagartas.

Dano severo causado pelo ataque de lagartas na cultura do algodoeiro
Dano severo causado pelo ataque de lagartas na cultura do algodoeiro

Diante da prática comum adotada nas últimas safras e do desconhecimento do efeito de fungicidas sobre a bactéria Bt, foi realizado ensaio com o objetivo de avaliar a eficiência de inseticida biológico à base de B. thuringiensis em mistura com fungicidas no controle de lagartas na cultura do algodão.

O ensaio foi instalado em condições de campo na Estação Experimental da Assist Consultoria e Experimentação Agronômica, no município de Campo Verde, Mato Grosso. A variedade de algodoeiro utilizada foi FM 944 GL semeada em 27/01/2015. O delineamento foi em Delineamento em Blocos  Casualizados (DBC ) com 6 tratamentos (inseticidas, fungicidas e misturas) e 4 repetições. A parcela experimental  foi composta de 4 linhas de algodão  espaçadas de 90cm entre linhas, com 5 metros de comprimento. Foram avaliadas 10 plantas/parcela (Tabela 1).

Tabela 1
Tabela 1

Os produtos foram aplicados duas vezes com intervalo de 7 dias. A primeira aplicação ocorreu em 15/05/2015 (estádio C4) e a segunda em 22/05/2015 (estádio C5) com auxílio de pulverizador costal de ar induzido com pressão constante. O volume de calda foi de 130 litros por hectare, com barra de aplicação composta de 6 pontas tipo leque, com espaço de 50 cm.

As avaliações para determinação do número de lagartas foram realizadas antes da aplicação dos tratamentos (prévia) e aos 3 dias e 7 dias após primeira aplicação e aos 3, 7, 10 e 14 dias depois da segunda aplicação. Foram avaliadas 10 plantas em cada parcela, com varredura da planta inteira (observação criteriosa em todas as partes da planta) para identificação e contagem das lagartas presentes. As principais lagartas encontradas e avaliadas foram Helicoverpa spp e Curuquerê.

Para Helicoverpa foi possível observar que aos 3DA1A (3 dias após primeira aplicação) não houve diferença estatística entre os tratamentos. Porém, o tratamento que recebeu Espinosade (0,15 L/ha), apresentou maior eficiência de controle com 75%. Na avaliação aos 7 DA1A (7 dias após primeira aplicação) verificou-se que os tratamentos com Espinosade e Bacillus thuringiensis aplicados isoladamente foram estatisticamente superiores aos tratamentos onde foram aplicados em mistura com fungicida. Mesmo com baixa quantidade de lagartas foi possível diferenciar os tratamentos, onde os dois melhores apresentaram eficiência acima de 80% de controle (Tabela 2).

Tabela 2
Tabela 2

B. thuringiensis aplicado isoladamente apresentou bom controle de lagartas.  Porém, em mistura com Tetraconazole, Hidróxido de fentina e Mancozeb não foi possível observar essa eficiência. Provavelmente, a adição dos fungicidas ao produto à base de B. thuringiensis pode ter ocasionado alguma reação que interferiu na efetividade desse inseticida biológico.

Nas avaliações após a segunda aplicação foi possível observar novamente que houve diferença entre os tratamentos. Aos 3DA2A (3 dias após a segunda aplicação) constatou-se novamente que Espinosade e B. thuringiensis aplicados isoladamente foram mais eficientes no controle de Helicoverpa (Tabela 3).

Tabela 3
Tabela 3

Aos 7, 10 e 14 DA2A, Espinosade e B. thuringiensis apresentaram eficiência de controle semelhante entre si e distinguiram de B. thuringiensis + Tetraconazole, B. thuringiensis + Hidróxido de fentina e B. thuringiensis + Mancozeb que foram iguais entre si e tiveram o mesmo comportamento da testemunha. Esses resultados demonstram que a adição dos produtos afetaram o comportamento do inseticida biológico no controle da lagarta Helicoverpa spp.

Para a lagarta curuquerê foram realizadas duas avaliações, aos 10DA2A e aos 14DA2A. Na avaliação aos 10DA2A constatou-se que os tratamentos onde foram aplicados o produto à base de B. thuringiensis e Espinosade foram semelhantes entre si, diferindo das misturas de B. thuringiensis + Tetraconazole e B. thuringiensis + Hidróxido de fentina que foram estatisticamente superiores à mistura de B. thuringiensis + Mancozeb que se igualou estatisticamente à testemunha (Tabela 4).

Tabela 4
Tabela 4

Aos 14 DA2A (dias após segunda aplicação), conforme observado para Helicoverpa, observou-se que houve efeito da mistura do inseticida biológico com fungicidas, onde essas misturas foram pouco eficientes no controle da lagarta, sendo estatisticamente iguais à testemunha. Isso evidencia que há algum efeito do fungicida sobre a bactéria contida no inseticida à base de B. thuringiensis.

Segundo Knaak et al. (2003), a presença de emulsificantes e outros aditivos concentrados utilizados nas preparações pode gerar problemas de compatibilidade com entomopatógeno. Além dos emulsificantes foi possível observar que o fungicida Pó Dispersível em água (WP) e suspensão concentrado (SC) também podem acarretar problemas de compatibilidade com o entomopatógeno.

Foi possível concluir que os tratamentos que receberam Espinosade e B. thuringiensis apresentaram os melhores níveis de controle para as lagartas curuquerê e Helicoverpa. Já a adição dos fungicidas Tetraconazole, Hidróxido de fentina e Mancozeb apresentaram efeito antagônico sobre Bacillus thuringiensis quando misturados ao inseticida biológico. Constatou-se que a mistura de B. thuringiensis com esses fungicidas testados influencia negativamente no controle de Helicoverpa e Curuquerê.

Artigo publicado na edição 217 da Cultivar Grandes Culturas, mês junho, ano 2017. 

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