Como fazer o controle eficaz da cigarrinha-do-milho
A presença de plantas tigueras, que fornecem abrigo e comida para o inseto durante o período de entressafra e de cultivo da soja estão entre os fatores que ajudam a explicar a maior incidência. O tratamento de sementes com inseticidas neonicotinoides, associado a outras estratégias integradas e preventivas, tem mostrado bons resultados no manejo desta praga
23.03.2022 | 14:51 (UTC -3)
A presença de plantas tigueras, que fornecem abrigo e comida para o inseto
durante o período de entressafra e de cultivo da soja estão entre os fatores
que ajudam a explicar a maior incidência. O tratamento de sementes com
inseticidas neonicotinoides, associado a outras estratégias integradas e
preventivas, tem mostrado bons resultados no manejo desta praga.
A intensificação do cultivo do milho na safrinha e de sistemas irrigados
quebrou a sazonalidade de plantio, proporcionando maior pressão de pragas e doenças
específicas, com exposição da cultura durante todo o ano no campo.
Aliado a isso, outros fatores como as condições
climáticas favoráveis, altas temperaturas e invernos amenos tem favorecido a multiplicação
de insetos. Dentre os problemas fitossanitários da cultura
do milho, a cigarrinha-do-milho Dalbulus
maidis (DeLong & Wolcott) (Hemiptera: Cicadellidae) tem
aumentado substancialmente com frequência nos últimos anos, exigindo
estratégias de controle em função dos prejuízos
provocados.
Um dos possíveis fatores que tem proporcionado o
aumento da cigarrinha-do-milho, principalmente na Região Central do Brasil, é a
presença de plantas tigueras de milho durante o período de entressafra e de
cultivo da soja, já que estas plantas voluntárias são as principais hospedeiras
da praga e das doenças transmitidas por ela. Em função da adoção da tecnologia
de resistência a herbicidas presentes em grande parte dos materiais disponíveis
no mercado, essas plantas de milho não são devidamente controladas na cultura
da soja, servindo de alimento, abrigo e de fonte de reprodução para diversos
insetos praga. O aumento da oferta de alimento durante o período de entressafra
e de cultivo da soja proporciona a manutenção da cigarrinha D. maidis no
ambiente, favorecendo a multiplicação e ainda a manutenção de plantas
infectadas, com viroses e enfezamentos.
A manutenção da praga no ambiente durante a
entressafra e o cultivo da soja tem gerado altas densidades populacionais na
fase inicial de desenvolvimento da cultura do milho, período de maior
susceptibilidade ao ataque da praga com elevados prejuízos aos produtores.
Os adultos de D.
maidis medem cerca de 4 mm de comprimento e menos de 1 mm de largura.
Embora a coloração predominante seja palha, no abdômen possui manchas negras,
que podem ser maiores nos indivíduos desenvolvidos em climas com temperaturas
amenas. Na cabeça destacam-se duas manchas negras com o dobro do diâmetro dos
ocelos. Possuem como característica duas fileiras de espinhos nas tíbias
posteriores (Oliveira et al., 2003, Waquil, 2004).
Durante a fase adulta, esses insetos podem ser facilmente
visualizados no interior do cartucho das plantas de milho. O estabelecimento
ocorre na fase inicial de desenvolvimento da cultura, porém é capaz de se
manter em altas populações durante todas as fases de desenvolvimento do milho. A
longevidade média dos adultos é de 16,3 dias para machos e de 42,1 dias para
fêmeas (Marín
1987). No
entanto, esse período pode chegar a 106 dias em condições de temperaturas mais
baixas (Tsai, 1988).
As fêmeas depositam os ovos de maneira
isolada, em pares ou em grupos de cinco a seis ovos no limbo foliar ou na parte
adaxial das folhas, de preferência na metade basal das
primeiras folhas das plantas jovens. A postura é endofítica,
ocorrendo dentro do tecido da nervura central das folhas da planta. Cada fêmea deposita
aproximadamente por 14 ovos por dia, podendo depositar durante seu ciclo de
vida até 611 ovos. Os ovos são translúcidos,
com o formato de uma banana e medem menos de 1mm x 0,2 mm e são fáceis de
observar com a folha do milho contra a luz. Depois de sete a dez dias, se
tornam leitosos. A biologia da cigarrinha é diretamente afetada pela
temperatura. Sob condições de temperaturas amenas não ocorre a eclosão dos ovos.
No entanto, quando incubados a temperaturas acima de 20ºC ocorre a eclosão
normal das ninfas (Marín 1987).
Durante a fase de ninfa passam por cinco instares, que
duram em torno de 15 dias. As ninfas tendem a permanecer estáticas, alimentando-se na
folha, e só se movem se forem incomodadas (Oliveira
et al., 2003, Waquil, 2004). A fase de ninfa até a
formação de adultos ocorre, geralmente, entre 20 dias e 25 dias, sendo esse
período influenciado pela temperatura ambiente.
A cigarrinha D. maidis possui poucos hospedeiros, com
multiplicação restrita ao gênero Zea.
Há relatos
de outros hospedeiros, como a cana-de-acúcar, sorgo e algumas espécies de
plantas daninhas, como o Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) e Capim colchão (Digitaria horizontalis) (Oliveira et al., 2016). Além de alguns
hospedeiros alternativos para D. maidis,
espécies da família Poaceae, como o capim-colonião (Panicum maximum), o capim-marmelada (Brachiaria plantaginea) e a Brachiaria
decumbens podem ser infectadas por fitoplasmas (Hass, 2010), no entanto,
segundo Sabato et al. (2015)é necessário uma melhor avaliação da importância
epidemiológica dessas espécies vegetais na perpetuação e disseminação desse
patógeno na cultura do milho.
A cigarrinha D. maidis é um inseto de ampla
ocorrência, com presença tanto nas
lavouras da safra de verão quanto na safrinha. Movimenta-se
dentro e entre lavouras de milho e, nas plântulas. A cigarrinha D. maidis é considerada uma praga inicial em milho, visto que
ocorre nas plântulas de milho logo após a emergência da cultura, sendo
proveniente de outras lavouras de milho (Oliveira et al., 2013a). Ao longo do
ciclo do milho, a população desse inseto-vetor aumenta desde os estádios
iniciais de desenvolvimento até o florescimento das plantas, em função da
produção de novas gerações de insetos, e da entrada contínua de mais
cigarrinhas adultas, especialmente quando há milho em estádios mais adiantados nas
imediações (Oliveira et al., 2015b). Em
áreas infestadas, as cigarrinhas podem ser facilmente observadas,
alimentando-se, preferencialmente na região do cartucho da planta de milho (Vianna
et al., 2002; Waquil, 2004).
Embora a cigarrinha D. maidis possa provocar danos diretos
através da sucção da seiva nas plantas de milho, comprometendo o
desenvolvimento da planta, e principalmente o sistema radicular, essa espécie é
mais importante devido a sua capacidade de transmitir de forma persistente e
propagativa o vírus da risca do milho (maize rayado fino vírus –MRFV) e dois
molicutes, associados aos enfezamentos Spiroplasma kunkelii e
o maize bushy stunt fitoplasma (MBS-fitoplasma), agentes causais,
respectivamente, das doenças do milho denominadas de enfezamento pálido e
enfezamento vermelho (Sabato et al., 2015).
Os molicutes são responsáveis por infecções e entupimentos dos tecidos
do floema. A crescente importância do complexo dos enfezamentos verificados nos
últimos anos, nos cultivos de milho tardios e de safrinha, está relacionada
diretamente ao aumento da população do inseto vetor, a cigarrinha D. maidis.
Os agentes causais dos
enfezamentos são adquiridos pela cigarrinha quando se alimentam de plantas de
milho doentes. Esses microrganismos multiplicam-se nas cigarrinhas (inseto
vetor) e são transmitidos para plântulas de milho jovens e sadias, quando a
cigarrinha migra de lavouras maduras para as recém implantadas. As cigarrinhas
infectadas conseguem transmitir os fitopatógenos para as plantas sadias por um
tempo de alimentação relativamente curto, de aproximadamente uma hora (Vianna
et al., 2002; Waquil, 2004; Oliveira& Oliveira, 2010). A transmissão de
fitopatogenos, ocorre na fase inicial de desenvolvimento da cultura do milho,
fase em que a planta apresenta menor diâmetro de colmo, permitindo com que a
cigarrinha D. maidis consiga alcançar
os vasos de condução de seiva (floema) com o estilete. Em consequência das infecções
nos tecidos do floema ocorre um menor desenvolvimento das plantas e
enfraquecimento dos colmos, podendo se dar a queda das plantas em função da
ação de ventos.
Os sintomas do Enfezamento Vermelho são
caracterizados pela descoloração e avermelhamento da margem e do ápice das
folhas. Em infestações severas, todo o limbo foliar pode apresentar características
típicas do enfezamento. É possível verificar também o perfilhamento das
plantas, seja nas axilas foliares ou na base da planta e a proliferação de
espigas, além de redução na altura. Os sintomas de enfezamento normalmente são
mais visíveis a partir do florescimento e próximos à maturação da cultura, principalmente
em regiões de temperatura mais alta (Reis et al., 2004; Sabato et al., 2002).
Os sintomas do Enfezamento Pálido
caracterizam-se pela presença de faixas cloróticas ou esbranquiçadas, que se
estendem da base em direção ao ápice das folhas, podendo apresentar
avermelhamento das folhas inferiores. Plantas infectadas demonstram crescimento
reduzido, espigas menores com grãos frouxos, pequenos e descoloridos ou
manchados. Dependendo do cultivar, pode apresentar perfilhamento e secamento
precoce. Os sintomas foliares se manifestam a partir do florescimento das
plantas e os demais sintomas depois da
formação e enchimento de grãos (Balmer& Pereira, 1987; Fernandes &
Oliveira 1997).
Plantas de milho infestadas com Virus do
Rayado fino apresentam sintomas da doença
entre 7 dias e 10 dias após a
inoculação, na forma de pequenos pontos cloróticos alinhados. Com o crescimento
desses pontos, se fundem e formam uma risca fina. Em cultivares susceptíveis, a
infecção precoce pode acarretar redução de crescimento e aborto das gemas
florais.
A intensidade dos danos na cultura do milho
depende da fase fenológica em que a
cultura é atacada pela cigarrinha infectada. Quanto o ataque ocorre na fase
inicial da cultura (V1 – V3-4), maiores são os prejuízos e quanto mais
tardiamente as cigarrinhas infectadas chegam à cultura, menores são os danos e
prejuízos.
Manejo da cigarrinha do milho
As estratégias de manejo
da cigarrinha D. maidis devem ter
início antes da semeadura do milho, através da eliminação de plantas tigueras
no período de entressafra e durante o cultivo da soja, com intuito de eliminar
as possíveis fontes de alimento e de reprodução da praga, para a redução na
população da praga na fase inicial de desenvolvimento do milho semeado em
sequência. Tais medidas, além das possíveis reduções das primeiras gerações de
cigarrinhas, têm por objetivo também a redução de plantas de milho infectadas
nesses períodos, que servem de fonte de aquisição e posterior inoculação desses
patógenos nos cultivos. No entanto, como se trata de um inseto com alto
potencial biótico e com grande capacidade de migração a longas distancias para
colonizar campos de milho recém emergidos, essas estratégias devem ser realizadas
em conjunto com todos os produtores de uma mesma região.
O uso de materiais tolerantes, ou menos
suscetíveis é o método de controle mais
eficiente e recomendado para o controle dessas doenças transmitidas pela
cigarrinha D. maidis,. No entanto,
nem todos os materiais de milho disponíveis no mercado possuem tolerância satisfatória,
assim, cabe ao produtor fazer a melhor escolha no momento da aquisição das
sementes e optar por materiais que apresentem maior tolerância, com intuito de
diminuir as perdas.
Como os danos mais severos ou a transmissão
de fitopatógenos ocorrem na fase inicial de desenvolvimento da cultura do milho,
medidas de controle na fase inicial são extremamente necessárias por protegerem
as plântulas neste período, além de promover ou reduzir a população inicial evitando
uma explosão populacional da cigarrinha D.
maidis nos estágios subsequentes. Entre as estratégias químicas de controle
adotadas na fase inicial, o Tratamento de Sementes com inseticidas
neonicotinoides, é fundamental, para reduzir a população da praga nesse período
de desenvolvimento da cultura e tem proporcionado resultados muito eficazes no controle
desta praga. Em trabalhos realizados
pela Rattes Consultoria e Pesquisa Agronômica em parceria com a Universidade de
Rio Verde (UniRV), na safra atual, os inseticidas disponíveis no mercado para
tratamento de sementes realizados com as moléculas Tiametoxan, Imidacloprido, e
Clotianidin proporcionaram supressão de até 80% da população de D. maidis, até 15 dias após a emergência
da cultura.
Após esse período, dependendo da pressão e região,
se fazem necessárias aplicações foliares
de inseticidas. As aplicações foliares devem ser realizadas com base nas
amostragens das populações da praga, com intuito de complementar o tratamento
de sementes e de controlar as populações em função da produção
de novas gerações dentro do mesmo cultivo ou de insetos migrantes de áreas
vizinhas. Até o momento não existe um Nível de Dano Econômico (NDE) que possa
ser adotado em função de ser um inseto transmissor de fitopatógenos. Assim, os
danos não são proporcionais ao tamanho da população, mas sim em função da
capacidade de disseminação dos agentes causais dos enfezamentos, o que torna
necessário o uso de medidas preventivas. As pulverizações foliares são
realizadas normalmente até os estádios V8 –V9 na cultura do milho, podendo se
prolongar até a fase de pendoamento.
Dentre as possíveis estratégias de manejo
desta praga, o produtor tem que conscientizar que com a adoção de uma única, de
modo isolado, não vai obter sucesso no controle da D. maides.
Artigo publicado na edição 217 da Cultivar Grandes Culturas, mês junho, ano 2017.
Compartilhar
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura