Métodos de controle do bicho-mineiro no café

Praga de maior importância no cafeeiro, o bicho-mineiro é favorecido por períodos secos, com maior insolação e baixa umidade do ar; responsáveis por desfolha intensa, esses insetos demandam controle químico para a manutenção da produtividade, principalmente em regiões de clima quente

22.03.2022 | 14:28 (UTC -3)

Praga de maior importância no cafeeiro, o bicho mineiro é favorecido por períodos secos, com maior insolação e baixa umidade do ar. Responsáveis por desfolha intensa, esses insetos demandam controle químico para a manutenção da produtividade, principalmente em regiões de clima quente.

O bicho-mineiro das folhas do cafeeiro, Leucoptera coffeella (Guérin-Mèneville & Perrottet, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) é a praga de maior importância para o cafeeiro (Coffea spp.) nas regiões de clima quente e mais seco. É uma praga exótica que tem como região de origem o continente africano, tendo sido introduzida no Brasil provavelmente em mudas de cafeeiros atacadas e provenientes das Antilhas e Ilha de Bourbon em 1851. É considerada praga monófaga, atacando somente cafeeiro.

O surgimento da ferrugem-do-cafeeiro no Brasil, Hemileia vastatrix Berk. & Br., no início da década de 1970, pode ser considerado um marco para colocar o bicho-mineiro no status de praga. Cafeeiros plantados em espaçamentos adequados para alta tecnologia e a pleno sol, para o controle da ferrugem, propiciam ambientes favoráveis para a multiplicação do inseto que se desenvolve bem em condições de maior insolação e baixa umidade do ar.

O inseto adulto é uma pequena mariposa com 6,5mm de envergadura, de coloração branco-prateada e asas anteriores e posteriores franjadas. Quando em repouso as asas anteriores cobrem as posteriores.

Casal de adultos do bicho-mineiro pousado sobre uma folha de cafeeiro
Casal de adultos do bicho-mineiro pousado sobre uma folha de cafeeiro

A fêmea coloca os ovos na superfície superior das folhas e a lagarta ao eclodir penetra diretamente em seu interior, sem entrar em contato com a parte externa, o que ajuda a explicar uma das dificuldades para o seu controle. Nessa fase a lagarta vive dentro da lesão ou mina foliar, por ela construída, e quando completamente desenvolvida mede aproximadamente 3,5 mm de comprimento.

Lagartas de bicho-mineiro no interior da mina, com a retirada da epiderme superior da folha na lesão
Lagartas de bicho-mineiro no interior da mina, com a retirada da epiderme superior da folha na lesão

As lesões ou minas foliares apresentam o centro mais escuro, como resultado do acúmulo de excreções da lagarta sob a epiderme. A epiderme superior da folha, no local da lesão, destaca-se com facilidade.

Após completo desenvolvimento a lagarta abandona a folha por uma abertura realizada na face da superfície superior da mina, e com o auxílio de um fio de seda desce até as folhas baixeiras para empupar em casulos construídos também com fios de seda e no formato da letra X.

Casulo característico do bicho-mineiro construído por fios de seda e no formato de X
Casulo característico do bicho-mineiro construído por fios de seda e no formato de X

De modo geral e principalmente nas épocas de grande infestação, o maior número de lesões é encontrado nas folhas do terço superior da planta. Isso ocorre devido às lagartas encontrarem nesses locais maior insolação, temperatura e vento (que retira a umidade das folhas) o que lhes é favorável.

O ciclo evolutivo de ovo a adulto dura entre 19 dias e 87 dias, sendo o mais curto em temperaturas mais elevadas. Dai a severidade da praga em regiões mais quentes. A fase de lagarta (a que causa dano), dura de 9 dias a 40 dias, passando por três fases (ecdises) (Fig. 1), e podem ocorrer de 8 gerações ao ano a 12 gerações ao ano.

Representação do ciclo evolutivo do bicho-mineiro das folhas do cafeeiro
Representação do ciclo evolutivo do bicho-mineiro das folhas do cafeeiro

Dano causado pelo bicho-mineiro

As lesões ou minas produzidas pelas lagartas reduzem a capacidade foliar de fotossíntese em função da redução da área foliar. Em ataque intenso ocorre a desfolha da planta, de cima para baixo, devido à distribuição da praga. Lavouras intensamente desfolhadas pelo inseto podem levar até dois anos para se recuperar.

As pesquisas mostram que o nível de controle para L. coffeella encontra-se entre 26% a 36% de área foliar lesionada, percentuais após os quais começam a ocorrer prejuízos à produção de café.

No Sul de Minas foi constatada, em 1976, uma redução na produção de café da ordem de 52% devido a uma desfolha de 67% no mês de outubro, ocasião em que ocorreu a maior florada daquele ano. Posteriormente, na mesma região, entre 1987 e 1993, também foram constatados altos prejuízos, sendo encontrada uma redução na produção entre 34,3% e 41,5%.

Condições para a ocorrência

Épocas do ano com temperaturas mais elevadas e maior déficit hídrico são condições propícias para o desenvolvimento da praga. Lavouras mais arejadas, com maior espaçamento entre plantas estão mais predispostas ao ataque do bicho-mineiro. Em geral os cafeeiros em locais de maior altitude em uma mesma lavoura estão mais sujeitos ao ataque do inseto, por esses locais propiciarem condições ideais para a sua ocorrência, como maior exposição aos ventos e consequentemente menor umidade do ar e maior insolação.

As épocas em que são constatadas as maiores populações da praga são os períodos secos do ano, com início em junho e pico em outubro, sendo menor antes e após esses meses, nas principais regiões cafeeiras. Há casos em que a população aumenta em março-abril em decorrência de veranico no mês de janeiro e/ou fevereiro, como frequentemente ocorre na cafeicultura do cerrado mineiro. A precipitação pluvial e a umidade relativa influenciam negativamente a população da praga. Ao contrário, a temperatura exerce influência positiva.

Métodos de controle

Além do controle químico convencional, diversas outras formas de controle natural ou aplicado podem auxiliar na redução da praga. Porém, nem sempre com eficiência que permita reduzir significativamente os danos. Destacam-se o controle cultural, a resistência genética, o controle por comportamento e o controle biológico.

Controle químico convencional

Em regiões de clima quente, favorável ao bicho-mineiro, o controle químico tem sido imprescindível para a garantia da produtividade. Nessas regiões geralmente ocorrem dois picos populacionais da praga. O primeiro em abril-maio e o segundo em setembro-outubro. O primeiro pico, de abril-maio, pode ser evitado por meio da aplicação de inseticidas sistêmicos via solo durante a época chuvosa anterior ao pico, com uma aplicação em outubro-novembro e outra em fevereiro, tanto com produtos na formulação granulada (GR) ou em grânulos dispersíveis em água (WG). Na formulação WG os produtos podem ser aplicados na forma de esguicho (drench) no colo da planta ou em filete contínuo no solo, sob os cafeeiros e acompanhando a linha de plantio ou ainda na água de irrigação por gotejamento. Cada produto tem suas particularidades, cujas informações devem ser obtidas junto aos fabricantes ou assistência técnica especializada. Como o efeito residual dos inseticidas aplicados em novembro e fevereiro nem sempre é suficiente para manter baixa a população do inseto até o mês de outubro (pico da praga), haverá a necessidade de complementação do controle a partir de junho com pulverizações foliares, sempre com base no monitoramento da praga. No Sul de Minas, com ouso do inseticida thiamethoxam, por exemplo, aplicado em outubro-novembro (só ou em mistura com fungicida) e novamente em fevereiro (sem mistura com fungicida), não tem havido necessidade de pulverização foliar até agosto para complementar o controle da praga durante o ano.

As pesquisas realizadas pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), desde 1973, mostram que ao ocorrer 30% de folhas minadas (nível de controle), sem apresentarem rasgaduras provocadas por vespas predadoras, nos terços médio e superior das plantas, principalmente entre os meses de junho e outubro (período mais seco), há necessidade de ser efetuado o controle químico via pulverização. Caso não seja efetuado e as condições nos meses de agosto, setembro e outubro forem favoráveis à praga, a desfolha será significativa e o prejuízo considerável.

Lagartas de bicho-mineiro retiradas do interior da lesão e vistas em maior aumento
Lagartas de bicho-mineiro retiradas do interior da lesão e vistas em maior aumento

A amostragem de folhas, para ser conhecida a população do bicho-mineiro deve ser efetuada nos terços médio e superior das plantas, em função da distribuição do inseto. Recomenda-se evitar a coleta de folhas apicais dos ramos ou do interior das plantas. São indicadas folhas do 3º ao 5º par, a partir do ápice do ramo. Não devem ser coletadas folhas somente na altura média do cafeeiro, pois os resultados não expressarão a infestação real da praga.

Para a região Sul de Minas, caso não seja constatado o nível de controle (30%) não é recomendável o controle químico, pois somente o equilíbrio natural está sendo suficiente para manter baixa a população da praga. Este nível de controle não se aplica em cafeeiros novos, de até três anos de idade, onde a desfolha, mesmo que pequena, é prejudicial à sua formação.

As lavouras devem ser inspecionadas constantemente na época crítica de ataque da praga, principalmente aquelas muito expostas a ventos constantes. Na maioria das vezes, o controle é necessário somente em alguns talhões do cafezal, e as inspeções devem continuar até que comecem as chuvas mais frequentes e haja início de novas brotações nas plantas, quando a infestação apresenta níveis insignificantes.

Uma segunda pulverização, nos talhões já pulverizados, somente deve ser feita após 20 dias 30 dias, se nas amostragens forem constatadas lagartas vivas do inseto dentro das minas.

Caso haja condições extremamente favoráveis ao bicho-mineiro nos meses de janeiro e fevereiro (veranico) pode ocorrer um pico nos meses de abril e maio, que também deve ser controlado (muito comum na região dos cerrados de Minas Gerais). Esse pico pode não ocorrer quando são usados inseticidas sistêmicos (thiamethoxam, imidacloprid etc.), no solo, em drench no colo da planta ou na água de irrigação por gotejamento, no início da época das chuvas (outubro-novembro). Porém, como já mencionado, o efeito residual nem sempre é suficiente para manter baixa a população do inseto até julho, havendo necessidade de complementar o controle com pulverizações foliares.

Diversos produtos, ou mistura comerciais de produtos, em pulverização, apresentam eficiência no controle do bicho-mineiro, tais como abamectina (avermectina), análogo da nereistoxina (cartape), antranilamida (rynaxypyr), benzoiluréia (novaluron), carbamatos, éter piridiloxipropílico (piriproxifem), organofosforados, piretroides e espinosinas (espinosade) entre outros. Inseticidas de efeito fisiológico, como os inibidores da formação de quitina, têm mostrado eficiência no controle do bicho-mineiro, podendo ser outra opção de controle químico, principalmente se forem associados a um inseticida fosforado.

O manejo integrado do bicho-mineiro nas regiões onde sua incidência não é frequente, como no Sul de Minas, fica restrito ao uso de pulverizações quando for constatado o nível de 30% de folhas minadas, sem a presença de rasgaduras produzidas pelas vespas predadoras, geralmente no período seco do ano. Nas regiões onde o inseto frequentemente se constitui em praga, como na cafeicultura do cerrado, o controle deve ser feito com inseticidas sistêmicos aplicados via solo no período chuvoso que antecede o ataque, associados ou não a fungicidas sistêmicos para ferrugem, em aplicação escalonada (outubro-novembro e em fevereiro) complementado com pulverização (entre junho e outubro) caso seja constatado 30% de folhas minadas sem sinais de predação. Em grandes plantios talvez seja recomendável iniciar o controle com 10% a 20% de folhas minadas, devido a fatores operacionais. A partir daí, com o início do período chuvoso e a emissão de novo enfolhamento pelo cafeeiro, que ocorre anualmente, a infestação de bicho-mineiro é reduzida a índices muito baixos e praticamente desaparece no período chuvoso do ano.

Artigo publicado na edição 217 da Cultivar Grandes Culturas, mês junho, ano 2017. 

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