Por Karen Helena de Andrade Rodrigues, especialista em manejo de pragas
23.08.2024 | 16:06 (UTC -3)
O milho é uma das principais culturas no Brasil e no mundo, pois além de ser uma grande fonte de nutrientes, é também fonte de matéria prima na fabricação de subprodutos em grandes áreas como química, farmacêutica, alimentícias, bebidas e combustíveis.
A parte mais significativa da cultura do milho se encontra na área de nutrição para animais com uma parcela de 70% de toda produção mundial. No Brasil este número varia de 60 a 80%. O restante é dividido entre consumo humano, combustíveis e farmacêuticas.
No início de seu cultivo o milho era apenas utilizado para subsistência humana, com o passar dos anos ganhou grande importância e força para produção de aves e suínos como implementação nutricional.
O milho é atacado por diversas pragas, aproximadamente 20 espécies, dentre as quais está a lagarta do cartucho, algumas espécies de hemípteros, lagarta-rosca e a Diabrotica, mais conhecida como vaquinha, todas com grande potencial para causar enormes prejuízos.
Conhecendo Diabrotica speciosa
Diabrotica speciosa, conhecida também como vaquinha, vaquinha verde, vaquinha patriota ou larva alfinete (cujo nome se deu origem pela associação de seus danos a batata ser parecido com furos de alfinete) é uma espécie de besouro (coleóptero) sendo de hábito polífago, podendo se alimentar de diversas culturas como milho, tomate, batata, feijão, soja, girassol, berinjela, couve, abóbora, moranga, pimentão entre outras.
O adulto possui em torno de 4,5 a 6 mm. Há dimorfismo sexual: o macho menor que a fêmea. Possuem coloração verde com três manchas amarelas em cada élitro, sendo a mancha basal mais longa e avermelhada. Possuem antenas escuras e cabeça variando de marrom ao preto. As fêmeas, geralmente, ovipositam em torno das raízes das plantas possuindo preferência por solos com alta drenagem e geralmente de coloração escura, devido à quantidade de matéria orgânica sobposta, mantendo condições ideais para a sobrevivência dos ovos e das larvas com temperaturas em torno de 25 graus e 65% de umidade. Podem colocar até 2000 ovos em seu ciclo de vida.
Os ovos são amarelos e medem cerca de 0,5mm de diâmetro e o período de incubação é de aproximadamente sete dias.
As larvas medem cerca de 10 mm de comprimento e possuem coloração esbranquiçada para amareladas, com cabeça, tórax e pernas pretos. Possuem três instares larvais, baixa mobilidade e não possuem hábito de escavar galerias, por isso sua preferência de solos bem drenados e soltos. Vivem em torno de 10cm da superfície do solo, em torno das raízes e se aprofundam alguns centímetros a mais em épocas de extrema geada.
As pupas possuem em torno de 5 mm de comprimento, são brancas e ficam protegidas em uma câmera pupal abaixo da superfície do solo
Diabrotica specicosa possui ciclo de 24 a 40 dias, sendo este inseto bem suscetível a mudanças climáticas e variações de temperaturas, podendo alterar seu ciclo. Pode ocorrer de cinco a seis gerações por ano e não possuem diapausa em épocas de inverno
A qualidade e quantidade de alimento consumido também afeta o ciclo do inseto na fase larval em relação a taxa de crescimento, tempo de desenvolvimento, peso corporal, sobrevivência, fecundidade, longevidade, movimentação, capacidade de competição e quando não consome alimentos adequados ao se transformar em pupas forma adultos frágeis, com restrição de movimentação e alimento. Na fase adulta, a disponibilidade de nutrientes que o alimento consumido dispõe influencia no comportamento, sobrevivência e reprodução, afetando diretamente seu ciclo biológico.
Devido à eficiência de ovoposição da fêmea, uma infestação descontrolada pode ocorrer rapidamente quando não monitorada de forma eficaz.
Danos de Diabrotica
Este inseto praga possui grande importância econômica, pois desde a fase larval até a fase adulta, é capaz de causar danos e perdas na cultura, desde a sua germinação até a colheita. São capazes de atacar as sementes, raízes, brotos folhas, frutos, polem e ainda podem servir como vetores de doenças bacterianas e virologias. De acordo com alguns estudos, uma infestação de dois indivíduos por planta pode acarretar perdas de 50% a 70% na cultura.
Os adultos se alimentam das folhas causando a raspagem, dano que muitas vezes se assemelha aos danos da lagarta do cartucho, sendo facilmente confundido. Ocasionam grande desfolha nas plantas prejudicando a área fotossintética ativa, reduzindo significativamente a produção de fotoassimilados para a planta, influenciando no crescimento e desenvolvimento foliar refletindo na perda de produtividade e lucratividade.
As larvas geralmente possuem o hábito de causar danos em reboleiras, se alimentando das raízes, causando deficiência nutricional e hídrica, como também problemas de sustentação, causando o acamamento e o “pescoço de ganso”, chamado assim pelo aspecto recurvado que a cultura fica, diminuindo também a performance da planta, tornando-a fraca e suscetível a doenças. Podem também se alimentar das sementes, tornando-as inviáveis, acarretando em falhas no plantio.
Controle químico
Existem vários inseticidas registrados no Ministério da Agricultura para controle de Diabrotica sp. em fase larval e inseto adulto. No entanto, para ter uma boa eficiência no controle desta praga na fase larval é necessário que o produto tenha ingredientes ativos com alta persistência no solo entre 6 a 10 semanas.
Os inseticidas granulados ou pulverizados no sulco de plantio têm se mostrado bastante promissores no controle desta praga em fase larval, principalmente em técnicas de plantio direto.
Apesar de serem bastante promissores, os inseticidas granulados têm menor disponibilidade de equipamentos adequados para a sua aplicação, maiores riscos de intoxicação e custos mais elevados.
As técnicas de tratamento de sementes na cultura do milho para esta praga não possuem grande eficácia, pois as larvas podem causar danos nesta cultura em até dois meses após a semeadura e os inseticidas não possuem residual suficiente para proteger o sistema radicular neste período.
Controle cultural
O manejo adequado da área é sempre a melhor alternativa, assim como um monitoramento eficaz e constante e é sempre importante realizar também uma analise do histórico da área e incidência de pragas.
O uso de cultivares resistentes é pouco recomendado e utilizado para esta praga na cultura do milho. Existem cultivares resistentes a outras espécies de diabroticas na cultura, mas nenhuma especificamente para especiosa. As cultivares resistentes apresentam sistema radicular mais desenvolvido ou emitem novas raízes suportando melhor o ataque, evitando a morte da plântula.
Para o controle cultural desta praga é bastante utilizada uma técnica chamada de “cultura armadilha” onde são plantadas linhas de outras culturas consideradas mais “atrativas” que o milho em relação a questão nutricional (ex.: feijão, abóbora) de forma a não atacarem a cultura foco, no caso o milho.
Controle biológico
Quando se usa o controle biológico, como o próprio nome já diz, são utilizados e preservados os insetos benéficos na cultura, pois os agentes biológicos possuem especificidade ao hospedeiro.
A tática de controle biológico é muito promissora para o controle desta praga, pois existem na natureza diversos inimigos naturais como algumas espécies de aranhas e mosca celatoria. Outras técnicas usadas e promissoras para controle deste inseto são os fungos Beauveria basiana e Metarhizium anisopliae. Porém, quando Diabrotica sp. ingere algumas espécies de plantas da família das curcubitaceas (melão, abobrinha, moranga, melancia, pepino), não é parasitada. Nessas culturas há substância chamada curubitacina, ingerida pelo coleóptero, tóxica para muitos desses predadores naturais.
Outra técnica utilizada é a de armadilhas de feromônios, que atraem os machos para garrafas pets espalhadas pelo campo, contendo água e detergente.
Devido ao hábito desta praga ser polífago e a grande viabilidade e capacidade de oviposição da fêmea em seu período de vida, é de extrema importância um bom acompanhamento da cultura, com monitoramento e utilização de técnicas eficazes para o controle de infestações, pois podem se alastrar facilmente em qualquer cultura.
Por Karen Helena de Andrade Rodrigues, especialista em manejo de pragas
Artigo publicado na edição 292 da Revista Cultivar Grandes Culturas
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