Controlando pragas sugadoras e preservando inimigos naturais em algodoeiro
Por José Ednilson Miranda, Bruna Diniz Mendes Tripode, Valeria da Silva Jardim e Ana Mônica Teixeira Saraiva, Embrapa Algodão
O cultivo em hidroponia é uma alternativa para otimizar recursos como áreas, fertilizantes, água, energia, defensivos e trabalho especializado, que resultam em produção e qualidade superior. Vale ressaltar que este sistema proporciona maior qualidade fisiológica às plantas, sendo a menor incidência de doenças e pragas relacionada tanto pela barreira física do ambiente protegido, quanto pela nutrição balanceada.
A técnica do filme de nutrientes (NFT) é uma das mais comuns em hidroponia, sendo amplamente utilizada no Brasil, principalmente para o cultivo de alface. Do ponto de vista sanitário, atenção especial deve ser dada ao conjunto das estruturas de suporte para as plantas e de circulação da solução nutritiva. Entretanto, quando os tratamentos preventivos não são suficientes para garantir a sanidade do sistema de produção, o vazio sanitário se torna uma alternativa.
Diferente das grandes culturas a campo, que possuem orientações com calendários e tempos de duração regionalizados, as hortaliças possuem indicações de práticas profiláticas que variam de acordo com a cultivar, o sistema de produção e a época do ano. Assim, para a hidroponia, o vazio sanitário pode ser caracterizado como o período em que o sistema é totalmente esvaziado, limpo e sanitizado entre os ciclos de cultivo, sendo um conjunto de práticas essenciais para garantir a eficiência do cultivo.
Neste artigo apontamos algumas situações em que o vazio sanitário pode ser recomendado em sistemas hidropônicos sem substrato.
Em sistemas hidropônicos podem ocorrer circunstâncias favoráveis à infecção, disseminação e sobrevivência de muitos patógenos, a exemplo do Pythium spp., Rhizoctonia solani, Sclerotinia sclerotiorum, e Septoria lactucae. As doenças causadas por estes agentes são reconhecidas por danos severos ao colo e sistema radicular das plantas, sendo de fácil disseminação e difícil controle.
A solução nutritiva recirculante, que após passar por todas as plantas é coletada e novamente distribuída para todas as plantas no sistema, pode ser carreadora destas doenças. Uma vez instaladas no ambiente de produção, há necessidade de tratamentos curativos, e os critérios técnicos da viabilidade econômica e segurança alimentar devem ser ponderados quando do uso de ingredientes ativos fungicidas ou bactericidas. Na maioria das vezes o potencial de comprometimento dos tecidos pode ser irreversível, sendo importante uma correta avaliação do potencial de recuperação que a medida curativa pode proporcionar.
De acordo com o patógeno, os sintomas podem aparecer de forma pontual (figura 1. A) ou rapidamente serem observados em todas as plantas da bancada de cultivo (figura 1. B). Porém, quando os sintomas de murcha são percebidos nas folhas a evolução do dano nas raízes já é irreversível, mas vale ressaltar que as perdas provocadas por danos no sistema radicular variam de acordo com a espécie e com o grau de virulência da estirpe predominante.
O ciclo reduzido das hortaliças, que é ainda mais precoce em ambiente protegido, condiciona limitações no uso de defensivos agrícolas de largo espectro de ação e prolongado período de carência, sendo inviável o uso em plantas com ciclo próximo a colheita. Assim, pode ser uma alternativa mais segura, rápida e econômica a eliminação de todas as plantas do ambiente, seguindo os devidos cuidados para o descarte das plantas contaminadas e o protocolo de vazio sanitário no sistema hidropônico.
Entre os principais insetos praga de ocorrência no cultivo de alface hidropônica, podemos citar a tripes (Frankliniella spp. e Thrips spp.) causadora de danos na parte aérea, e fungus gnats (Bradysia spp. e Scatella spp.) que causa danos no sistema radicular das plantas cultivadas. Elencamos a seguir algumas particularidades sobre as medidas integradas de controle e quando pode haver indicação para realização de vazio sanitário.
Em relação à tripes (Frankliniella spp. e Thrips spp.), as condições ambientais registradas entre os meses entre setembro a março (primavera/verão) são os de maior infestação, sendo entre janeiro e fevereiro o período mais crítico. A sintomatologia característica do ataque de tripes são as manchas em tom prateado, enrolamento e deformação nas folhas e redução do crescimento da planta. Há possibilidade de antecipar a colheita para evitar maiores perdas, mas a exclusão das plantas que tenham seu desenvolvimento comprometido acaba sendo uma prática frequente.
Entretanto, o mais alarmante é que estes insetos também são vetores de vírus (p. ex.: LCV, INSV, TSWV), os insetos adultos se alimentam das plantas infectadas e depois se movem para outras plantas saudáveis, espalhando a infecção de forma rápida e irreversível. Para os sintomas causados pelas viroses (figura 2) não há tratamento curativo, apenas a adoção de medidas profiláticas preventivas.
Há alguns gêneros de moscas que têm sua fase larval na água, o que potencialmente pode ser um problema em hidroponia. As moscas Bradysia spp e Scatella spp, são conhecidas como “fungus gnats” pelo fato das larvas se alimentarem de fungos e algas, mas, quando instaladas em ambiente hidropônico, atacam as raízes e o colo das plantas cultivadas (figura 3). Possuem ciclo de vida variável entre 28 a 36 dias e encontram condições ótimas para desenvolvimento em perfis de hidroponia com deposição de água, formação de incrustações de limo e sujidades. A capacidade de multiplicação destas espécies promove, além de centenas de ovos por postura, a existência de sobreposição de ciclos em um mesmo ambiente, e este fator é o mais preocupante pois dificulta as medidas de controle.
Apesar de haver tecnologias e material para revestimento do piso em estufas agrícolas, é comum em espaços comerciais de produção a adoção pelo piso sem revestimento. Assim, o solo exposto permite que partículas fiquem em suspensão em condições de incidência de ventos e, ao longo do tempo, ocorre deposição e formação de camadas incrustadas sobre os perfis. Este fato também contribui para a formação de limo em diferentes pontos da estrutura dos canais de circulação de solução nutritiva (figura 4).
Conforme citado anteriormente, a deposição de sujidades nos perfis e tubulação de distribuição e recolhimento se relaciona com todos os problemas sanitários graves do ambiente hidropônico de produção. Para o manejo integrado a primeira recomendação é a correta limpeza e profilaxia em todas as áreas da produção, principalmente nos perfis, por dentro e no chão, evitando pontos de formação de algas e fungos.
Além da limpeza das tubulações, é recomendada como medida de controle integrado a limpeza do piso abaixo das bancadas e no entorno das estufas. A vegetação espontânea pode se desenvolver com muita rapidez (figura 5. A), sendo potencial hospedeiro de patógenos ou insetos praga para o cultivo. Desta forma, é fundamental manter o ambiente totalmente livre destas plantas, conforme ilustrado na figura (Figura 5. B).
Após a retirada da vegetação espontânea, pode ser realizada a distribuição de calcário, gesso agrícola ou mesmo a cal hidratada no piso abaixo das bancadas (figura 6). A mudança de pH e a característica higroscópica deste material modificam as condições para o desenvolvimento das espécies causadoras de doenças, o que contribui como medida preventiva no manejo do sistema.
Importante ressaltar que, uma vez instaladas no sistema hidropônico, essas doenças e pragas requerem tratamento curativo que pode ser através dos métodos de controle químico, biológico ou cultural. Cabe ao técnico a avaliação do nível de severidade do dano, a relação de eficiência técnica e econômica, sendo indicada a prática de vazio sanitário do sistema sempre que houver risco de não atender os critérios produtivos, econômicos e de segurança alimentar esperados no contexto de produção de hortaliças.
São etapas do vazio sanitário:
1° Remoção total de plantas, restos culturais, solução nutritiva e resíduos dos reservatórios.
2° A limpeza do sistema hidropônico para a remoção de sujidades e incrustações presentes nos componentes hidráulicos.
3° Sanitização que garanta a eliminação de microrganismos patogênicos.
4° Tratamento fitossanitário específico: fungicida, bactericida, inseticida.
5° Período de carência de acordo com o tratamento fitossanitário escolhido.
Por Narielen Moreira de Morais, Marcia Xavier Peiter, Adroaldo Dias Robaina e Nicolas Gerotto, UFSM
Artigo publicado na edição 145 da Revista Cultivar Hortaliças e Frutas
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