Tecnologia de aplicação eficiente

Adoção de boas práticas agrícolas, desde a escolha da formulação, passando pela regulagem dos equipamentos até a aplicação correta, garante uma pulverização segura e eficiente

02.06.2023 | 14:50 (UTC -3)

A adoção de boas práticas agrícolas, desde a escolha da formulação, passando pela regulagem dos equipamentos até a aplicação correta, garante uma pulverização segura e eficiente.

A Tecnologia de Aplicação é uma área de estudo multidisciplinar que visa à correta colocação do produto biologicamente ativo no alvo, quando e se necessário, de forma econômica e com o mínimo de contaminação ambiental. Abrange o controle de insetos, ácaros, plantas daninhas e agentes patogênicos nas diferentes culturas e considera procedimentos desde a formulação dos produtos aplicados e da preparação das caldas até a aplicação eficiente e segura e o gerenciamento das operações.

No contexto dos tratamentos fitossanitários estão envolvidos custos de produção significativos do processo produtivo da agropecuária, com reflexos importantes na sustentabilidade das culturas.

A utilização de volumes elevados é comum devido à distribuição aleatória e generalizada dos alvos nos cultivos, inclusive em locais de difícil acesso aos produtos fitossanitários, como sob tecidos vegetais ou sob o solo. 

Tradicionalmente, as pulverizações são realizadas lançando as caldas de fora para o interior do dossel vegetal, implicando dificuldades de atingir o subdossel. Por conta disto é comum que apenas uma pequena quantidade de gotas alcance o baixeiro, ao mesmo tempo em que pode haver escorrimento de calda das folhas na parte mais exposta da cultura.

Por outro lado, para aumentar a penetração das gotas para o baixeiro, são utilizadas gotas menores, que são sujeitas a perdas por evaporação e por deriva, deslocando-se para áreas distantes daquela destinada ao tratamento fitossanitário (Figura 1). Todas estas perdas, via de regra, são compensadas por maiores volumes de calda ou mesmo por maior número de aplicações, ambas onerosas tanto para a atividade quanto para o ambiente.

Figura 1 - Isolinhas da distribuição espacial da deriva de aplicação de acaricida em citros. Método do inverso do quadrado da distância(IQD). Fonte: Pita, 2015 (https://alsafi.ead.unesp.br/bitstream/handle/11449/132173/000855287.pdf?sequence=1&isAllowed=y)
Figura 1 - Isolinhas da distribuição espacial da deriva de aplicação de acaricida em citros. Método do inverso do quadrado da distância(IQD). Fonte: Pita, 2015 (https://alsafi.ead.unesp.br/bitstream/handle/11449/132173/000855287.pdf?sequence=1&isAllowed=y)

Com isto, tem-se verificado crescimento contínuo no uso dos produtos fitossanitários, agravado pelo surgimento de pragas e doenças exóticas e pela seleção de organismos resistentes.

Para a proteção das gotas finas em menores taxas de aplicação são disponíveis estratégias como atuar com a barra mais baixa ou com a assistência de ar, selecionar as horas mais úmidas, menos quentes ou com menos vento durante o dia, ou utilizar adjuvantes. Cada uma das técnicas depende de quão críticas são as situações no momento das aplicações, que resultem em perdas das gotas.

Quanto ao uso de adjuvantes, tem sido um assunto de grande interesse para produtores agrícolas devido às propostas de proteção às gotas para a redução de deriva e da evaporação, o melhor espalhamento das gotas e uma possível melhora na absorção da calda pelos alvos. Com isto, tem-se expandido rapidamente o número de produtos comerciais.

Com função de aumentar a eficiência por modificar determinadas características da calda, o adjuvante não apresenta propriedade fitossanitária. Seus efeitos destacam-se na redução da tensão superficial das caldas pulverizadas, diminuindo a força de ligação entre as moléculas de água, o que aumenta o espalhamento das gotas sobre as superfícies tratadas, com maior cobertura e probabilidade de contato com o alvo biológico (Figura 2). Pode haver ainda um aumento da afinidade da calda com a superfície tratada, o que aumenta o espalhamento da gota.

Figura 2 - Espalhamento de gota sobre folha de laranja em função do uso de óleo mineral em calda aquosa
Figura 2 - Espalhamento de gota sobre folha de laranja em função do uso de óleo mineral em calda aquosa

A tensão superficial refere-se às forças que existem na interface entre fluidos, impedindo que eles se misturem. Dentre os líquidos utilizados para pulverização, normalmente a água é a que possui a maior tensão superficial. A adição de adjuvantes à calda de pulverização pode alterar estas forças da interface, modificando a interação das superfícies. Com isto, espectro das gotas pulverizadas também pode ser alterado, podendo promover os efeitos que podem resultar em proteção contra evaporação e deriva, com meteorologia desfavorável. 

Na superfície vegetal, há uma estrutura cerosa complexa denominada de cutícula, que age como uma barreira para a troca de líquidos nas plantas. As características da cutícula variam de espécie para espécie e das condições climáticas. Esta superfície pode ser lipofílica ou hidrofílica e com ou sem pilosidade.

Estas características, além de interferirem diretamente na retenção das gotas sobre as superfícies no momento das aplicações, podem influenciar a quantidade de depósitos de ingredientes ativos após a ocorrência de chuvas (Tabela 1). A interação entre caldas e os intervalos entre a aplicação e as chuvas implicam  quantidades diferentes de depósitos remanescentes sobre as superfícies.

Tabela 1
Tabela 1

Atuando com boas práticas agrícolas, desde a seleção de formulações, bom preparo de calda e uso da tecnologia adequada para a aplicação, é possível obter resultados satisfatórios do tratamento fitossanitário tanto do ponto de vista da eficiência, quanto da segurança das aplicações.

Ricardo Augusto Decaro,Marcelo da Costa Ferreira, Dep. de Fitossanidade, Unesp, Jaboticabal

Artigo publicado na edição 184 da Cultivar Máquinas, mês maio, ano 2018.

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