A má regulagem da semeadora, mesmo com falhas que pareçam pequenas, pode ser a chave entre o lucro e o prejuízo no final da safra
29.05.2023 | 17:06 (UTC -3)
Estudo mostra que o momento da semeadura é uma das etapas mais importantes na implantação da lavoura, onde a má regulagem da semeadora, mesmo com falhas que pareçam pequenas, pode ser a chave entre o lucro e o prejuízo no final da safra.
A produção nacional de grãos na safra 2015/2016 foi de 186.609,5 mil toneladas. E em 2016/2017 foi de 232.391,5 mil toneladas (aumento de 24,53%), segundo a Conab (2018). A área plantada em 2015/2016 foi de 58.331,6 mil hectares, e em 2016/2017 aumentou para 58.449,9 mil hectares (0,2%), segundo a Conab (2018). Isto significa que a produção total do Brasil crescerá muito mais do que as novas áreas para o plantio, o que mostra um grande desafio que deverá ser aliado com planejamento e inovações.
O momento da semeadura é uma das etapas mais importantes na implantação de uma lavoura. Almeida et al., (2010) afirmam que um bom processo de semeadura se caracteriza pela correta deposição longitudinal das sementes no solo juntamente com a correta profundidade. A qualidade da semeadura está combinada a diversos fatores como a qualidade das sementes, o contato com a água e o solo através da boa cobertura, a profundidade e a uniformidade de deposição na linha de plantio, assim como o preparo adequado do sulco e o espaçamento entre fileiras (Márquez, 2004).
Para se alcançar a produtividade adequada, Portella (1999) afirma ser necessário que as sementes sejam depositadas no sulco com a máxima regularidade possível.
A velocidade de deslocamento do conjunto trator-semeadora está diretamente relacionada a uniformidade de semeadura e a produtividade, podendo alterar a profundidade de deposição das sementes, o estande de plantas, a qualidade da abertura e fechamento do sulco, além da deposição de fertilizante dentre outras coisas. Existe diferença da velocidade máxima aceitável no uso de semeadora mecânica e pneumática, sendo que a velocidade da primeira não deve ultrapassar os 6 km/h e a segunda os 8 km/h. Também se deve considerar que velocidades de semeadura muito baixas afetam o desempenho operacional e que o bom manejo do solo auxilia na qualidade, pois é mais vantajoso que o mesmo seja nivelado e que não possua torrões, além de estar com o teor de água ideal. Não basta apenas o produtor rural investir em maquinário de última geração e com alto custo, se não empregar a velocidade ideal no plantio e não realizar as devidas manutenções e medidas de conservação.
Baseado na hipótese que o erro de uma semente ao longo do sulco de semeadura faz falta, surgiu a ideia de contabilizar quanto esta falha representa no total de perdas no campo. Como exemplo foi feito o cálculo de falha de uma única semente na semeadura de milho a cada 2,5 metros de linha. Para isso foi considerada, como hipótese, uma população por hectare de 60 mil sementes, semeadas a 0,45m entre fileiras, resultando a quantidade de 2,7 sementes por metro. No caso de um produtor que plante 150 hectares de lavoura, e obtenha produção por espiga de 0,200 Kg e venda cada saca de milho por R$ 35,00, ele teria enormes perdas, como mostra a seguir:
Caso se tenha uma boa regulagem da máquina semeadora se consegue criar a hipótese de uma semeadura melhor do que a apresentada anteriormente, como por exemplo, supondo uma falha a cada 4 metros.
Comparando as duas situações, sendo uma falha a cada 4 metros e uma falha a cada 2,5 metros, pode-se observar diferenças que fazem com que estas discrepâncias levem os produtores a se atentarem para as boas práticas de semeadura.
A população alcançada por hectare poderia subir de 51.111,11 para 54.444,44 plantas, apenas diminuindo o índice de falhas, proporcionando um ganho de 3.333,33 plantas de milho, com isso o erro diminuiria de 14,81% para 9,26% perdendo, portanto, 11,11 sacas a menos por hectare, e com isso o produtor deixaria de perder R$ 388,89 por hectare. Analisando essa diminuição de falhas na área total suposta, a perda total mudaria de R$ 155.555,56 para R$ 97.222,22, ocasionando uma diminuição de R$ 58.333,34.
Assim, cabe salientar que os cuidados na hora da regulagem antes da semeadora ir a campo são preponderantes, podendo ser a chave entre o lucro e o prejuízo do produtor.
Na Unesp de Botucatu, integrantes do Grupo de Plantio Direto (GPD) vêm apresentando as boas práticas agrícolas com o projeto Inspeção Periódica de Semeadoras (IPS). O objetivo do projeto é levar os conhecimentos oriundos de estudos da universidade para os produtores rurais, a fim de mostrar a importância da boa regulagem da semeadora no aspecto geral da safra de uma cultura.
Existem casos reais em que se extrapola o número de apenas uma falha a cada 2,5 metros. De todas as semeadoras avaliadas pelo GPD até hoje no estado de São Paulo, nenhuma apresentava uniformidade entre todas as linhas na deposição de adubo e sementes. Isso mostra que as perdas financeiras que aqui foram simuladas, realmente acontecem no dia-a-dia dos produtores brasileiros.
Pode-se concluir que o sucesso de uma safra está no planejamento e isto está diretamente ligado à operação de semeadura. Precisamos nos conscientizar que às vezes não é a semente ou o maquinário comprado que é ruim, mas que na verdade, deve-se ter cuidado especial com a regulagem da máquina para que seja obtida uma semeadura uniforme, que vise a ocorrência do mínimo possível de falhas e duplas, que as sementes fiquem todas na mesma profundidade e que o contato água/solo/semente seja ideal e permita uma boa germinação, resultando em maior produtividade.
Luan Solér Francischinelli, Luiz Henrique Menck Rusconi, Adriano Fabbro Gandini, Paulo Roberto Arbex Silva, FCA Unesp de Botucatu
Artigo publicado na edição 183 da Cultivar Máquinas, mês abril, ano 2018.
Compartilhar
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura