Uso de cultivares resistentes, plantas antagonistas e a aplicação de produtos químicos ou biológico, via tratamento de sementes ou sulco de semeadura, formam o complexo de ferramentas com grande potencial de utilização no manejo
07.10.2022 | 14:22 (UTC -3)
O uso de cultivares resistentes, plantas antagonistas e a aplicação de produtos químicos ou biológico, via tratamento de sementes ou sulco de semeadura, formam o complexo de ferramentas com grande potencial de utilização no manejo.
O cultivo da soja nos últimos anos tem se
tornado extremante desafiador, devido a elevada diversidade de problemas
fitossanitários que incidem na cultura. Além das doenças que podem atacar as
plantas via parte aérea, o complexo de patógenos habitantes do solo tem aumentado
significativamente. Microrganismos de difícil controle atacam o principal órgão
da planta (raízes) em seu período mais crítico de desenvolvimento, acarretando
perdas no rendimento da cultura. Dentre os diversos grupos de microrganismos
que habitam o solo e podem atacar as raízes da soja, os nematoides parasitos de
plantas tem o papel de destaque, com perspectivas sólidas de agravamento para
os próximos anos, muito em função do sistema intensivo de cultivo.
Há pouco tempo os fitonematoides apresentavam
status intermediário de preocupação
em muitas regiões produtoras do Brasil, quadro por hora, já ultrapassado nos
dias atuais. Esses parasitos possuem ampla distribuição geográfica e são
capazes de causar severos danos à cultura, podendo impactar em mais de 50% da
produção. Fatores que contribuem neste processo passam, inevitavelmente, pelo
grau de suscetibilidade da cultivar, a densidade populacional da espécie
envolvida, bem como as condições climáticas durante o cultivo.
Das espécies que atuam abaixo da linha do
solo, os nematoides das galhas (Meloidogyne
javanica e M. incognita), o
nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus
brachyurus), o nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines) e o nematoide reniformis (Rotylenchulus reniformis) figuram como
as principais espécies associadas ao sistema radicular das plantas de
soja. No
entanto, recentes estudos de mapeamento em diversas regiões do Brasil têm apontando
o surgimento de espécies de nematoides potenciais para a cultura, como é o caso
de Helicotylenchus dihystera, Scutellonema brachyurus e Tubixaba tuxaua.
Na busca por informações sobre a ocorrência
de fitonematoides associados à soja na região Sul do país, o Instituto Phytus,
Rio Grande do Sul, vem realizando o mapeamento de áreas de produção comercial,
com o objetivo de verificar a presença de espécies prejudiciais à cultura. Este
estudo teve seu início na safra 2012/13 e sua primeira compilação ocorreu no
ano de 2014/15 contemplando 23 municípios da região. Nessa safra de 2017/18 esse
mesmo estudo abrange 71 municípios da região (Tabela 1).
Os resultados das análises apontaram a
presença dos nematoides das galhas Meloidogyne
spp., o nematoide do cisto da soja Heterodera
glycines, o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus), nematoide reniformis (Rotylenchulus reniformis)e
o nematoide espiralado Helicotylenchus
dihystera. No levantamento populacional realizado entre 2012 a 2014, dos 23
municípios amostrados 21,7% apresentaram a presença de Heterodera glycines, sendo que, no levantamento de 2017/2018, esse
percentual aumentou para 31,42% dos 71 municípios avaliados. Nesse caso, mesmo
tratando-se de um nematoide que até pouco tempo não era relatado no estado do Rio
Grande do Sul houve aumento de 9,72% em 6 anos (Gráfico 1).
No caso de P. brachyurus,
no
primeiro levantamento realizado 69% das amostras apresentaram a presença do
nematoide em diferentes níveis populacionais. Já em 2018 houve aumento de
aproximadamente 4%, chegando a estar presente em 72,8% das amostras. Já Meloidogyne spp. mostrou-se o nematoide
mais comum no estado do Rio Grande do Sul, pois no levantamento iniciado em
2012 foi constatada a presença em 86,9% das amostras. Em 2018 esse percentual
baixou para 72,85%, porém, ainda é extremamente significativo.
O nematoide R. reniformis apesar de menos frequente em relação aos demais,
praticamente duplicou a sua incidência nas cidades amostradas. Nesse caso houve
aumento de 8,69% (2012/2014) para 14,28% (2018). Helicotylenchus dihystera teve taxa de frequência em 2012/14 de
60,8% e em 2018 houve incidência desse nematoide em praticamente todas as
amostras analisadas, com percentual de 98,5%. Entretanto, existem variações não
somente no percentual de incidência dos nematoides encontrados nos pontos
amostrados (considerando os levantamentos realizados), mas também na sua
densidade populacional. Cabe salientar que todas essas espécies interagem de
modo parcial ou intimamente com as plantas, necessitando perfurar o sistema
radicular, culminando em ferimentos que podem servir como porta de entrada para
fungos patogênicos presentes no solo, capazes de potencializar o dano sobre as
plantas.
Certamente esses resultados seguirão
apresentando variação, conforme os estudos avancem anualmente para municípios
ainda não contemplados. No tocante a falta de conhecimento dos produtores sobre
a presença dos nematoides em suas lavouras, esse aspecto pode causar o aumento da
problemática, pois a disseminação dos nematoides ocorre principalmente por
trânsito de implementos agrícolas e veículos. Esses maquinários podem carrear
partículas de solo contendo nematoides aderidos em suas rodas e latarias,
levando-os para áreas talvez ainda isentas, implicando diretamente na
introdução de espécies oriundas de outras regiões do Brasil. Um exemplo reside
em produtores que plantam ou alugam seus maquinários para semeadura ou colheita
em outras regiões e que correm grande risco de introduzir essas espécies em
suas próprias áreas.
Embora ocorra grande variação em sua
densidade populacional (solo e/ou raízes), este cenário requer alguns cuidados,
pois esses microrganismos podem rapidamente aumentar sua densidade populacional
no solo, devido à alta taxa de reprodução em curto período de tempo (2 a 4 semanas),
principalmente se o cultivo de variedades de soja suscetíveis estiver associado
a outra cultura também hospedeira suscetível, seja ela precedente ou
subsequente, promovendo continuidade à alimentação e reprodução desses
nematoides. Cabe salientar que com o passar do tempo o não cuidado com o
sequenciamento (Rotação/Sucessão) ou a utilização do monocultivo de culturas
hospedeiras durante alguns anos certamente favorecerá o estabelecimento ou o
agravamento dos problemas em determinadas áreas.
Alguns sintomas que a planta expressa quando atacada
por esses microrganismos, podem ser facilmente diagnosticados pelos produtores.
O primeiro aspecto percebido e quase sempre não creditado à presença de
nematoides passa por um leve declínio na produção, que evolui consideravelmente
nos anos subsequentes. Outros eventos são visualizados nas lavouras como a
diminuição no tamanho de plantas, seguido de amarelecimento na parte aérea,
murchamento e queda de folhas, normalmente disposto em manchas ou reboleiras.
Já os sintomas visualizados abaixo da linha
do solo passam por uma abrupta redução no volume do sistema radicular, apresentando uma
coloração mais escura, seguido de necrose causada pela rápida colonização de
agentes oportunistas, ou até mesmo deformações na estrutura do sistema
radicular comumente conhecida como galhas. No entanto, o
fato da observação desses sintomas não deve ser tomado como medida única de
identificação, pois serviram apenas como indício da problemática, sendo necessária
a identificação da espécie. O envio das raízes para um laboratório de nematologia
o mais breve possível é indispensável. A identificação da ocorrência em campo
deve sempre ser acompanhada de análise em laboratório.
Medidas gerais para o manejo
O sucesso do manejo de fitonematoides passa primeiramente
pela identificação e quantificação das espécies presentes na área. Deve-se
optar por medidas combinadas que possibilitem a manutenção das populações
próximas ou abaixo do limiar de dano econômico. O manejo e controle de
fitonematoides não é tarefa fácil, pois dependendo do nível de infestação e a
espécie presente na área cada cenário ou situação exigirá adoção de uma medida
diferente. Cabe ressaltar que a dificuldade aumenta principalmente em áreas com
mais de uma espécie. Nesses casos os esforços são ainda maiores.
De maneira geral a rotação ou sucessão com
plantas não hospedeiras ou a utilização de hospedeiras desfavoráveis com baixo
fator de reprodução (FR) do nematoide, associados a temperaturas baixas, podem
reduzir a densidade populacional do nematoide no solo, pois impedem o contado patogênico
desses organismos com as raízes. A utilização de cultivares resistentes,
plantas antagonistas e a aplicação de produtos químicos ou biológico, via
tratamento de sementes ou sulco de semeadura, formam o complexo de ferramentas
com grande potencial de utilização no manejo. Quando somados podem apresentar
resultados ainda mais satisfatórios.
Paulo S. Santos, Caroline A. Gulart e Gracieli
Rebelatto, Instituto Phytus
Artigo publicado na edição 230 da Cultivar Grandes Culturas, mês julho, ano 2018.
Compartilhar
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura