Plantas de cobertura como aliadas
Importantes no auxílio ao controle de daninhas e de pragas como nematoides, plantas de cobertura são grandes aliadas do produtor. Contudo é necessário realizar sua escolha correta para cada ambiente
Crescem as evidências da presença de híbridos de Helicoverpa no Brasil. Amostras de lagartas das espécies Armigera e Zea, coletadas no Mato Grosso e analisadas por pesquisadores do Reino Unido e da Austrália, através de sequenciamento genômico completo, confirmam hibridização. O uso de diferentes táticas de manejo integrado deve ser adotado para que os problemas fitossanitários resultantes desta e de outras pragas agrícolas possam ser resolvidos da melhor maneira possível.
Os insetos pertencentes à família Heliothinae estão entre as pragas agrícolas mais prejudiciais do mundo. Dentre os principais representantes desta família estão Helicoverpa armigera e H. zea, popularmente denominadas Lagarta do Velho Mundo do Algodoeiro e Lagarta da Espiga do Milho, respectivamente. A comunidade científica mundial classificou H. armigera como uma das pragas de maior impacto agrícola entre os anos de 2012 e 2016.
H. armigera é uma praga extremamente polífaga, sendo registrada em mais de 300 hospedeiros, entre os quais estão plantas cultivadas, invasoras e silvestres em diferentes partes do mundo, incluindo culturas como algodão, soja, milho e tomate, enquanto H. zea possui um número menor de hospedeiros, 123 espécies, dentre essas também estão culturas de grande importância econômica para o Brasil, tais como, algodão, milho e tomate. Sendo assim pode-se dizer que há uma relação próxima e continua entre as duas espécies, principalmente em cultivos anuais. Esta situação pode se agravar ainda mais em sistemas contínuos de cultivo, como por exemplo, áreas irrigadas, criando assim as conhecidas “pontes verdes”, muito comuns em regiões agrícolas do Cerrado Brasileiro.
Helicoverpa armigera e H. zea são espécies morfologicamente semelhantes e análises moleculares comprovaram a similaridade genética entre seus genomas, o que justifica os casos relatados de hibridização entre as duas espécies. Aproximadamente 1,5 milhão de anos atrás, na linha evolutiva do tempo, H. armigera e H. zea compartilhavam um ancestral comum, o que explica esta proximidade genética. A capacidade de hibridização entre a lagarta do Velho Mundo (H. Armigera) e a do Novo Mundo (H. Zea), em produzir descendentes férteis têm sido claramente demonstrada em experimentos de laboratório desde 1965, embora tais cenários tenham se restringido apenas a condições laboratoriais, anteriores à recente chegada de H. armigera no Continente Sul Americano. Por meio do sequenciamento genômico completo, conforme estudo do renomado Instituto CSIRO na Austrália, foi possível constatar a existência de indivíduos híbridos provenientes de amostras brasileiras.
No recente estudo publicado na revista científica internacional Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (PNAS) os pesquisadores do Reino Unido e da Austrália analisaram um pequeno número de espécimes do Mato Grosso, originalmente identificados como H. armigera por meio do DNA mitocondrial, porém, quando realizado o sequenciamento completo do genoma, ficou evidênciado de que essas supostas “H. armigera” na verdade seriam híbridos, com quantidade variável de contribuição genética de H. zea. Além disso, outra amostra também identificada, como H. zea, a partir do DNA mitocondrial, apresentou uma grande porcentagem de DNA de H. armigera em seu genoma. Portanto, essa introgressão genética pode levar ao surgimento de novos ecótipos (presença de populações geneticamente únicas que são adaptadas ao seu ambiente local) na família Heliothinae.
Uma hibridização natural sem precedentes e em larga escala, se iniciou com a chegada de H. armigera na América do Sul. Além disso, essa hibridização pode estar ocorrendo há mais tempo do que se imagina, já que a entrada da H. armigera no Brasil pode ter ocorrido muito antes do que se supõe na literatura. Sendo assim, a avaliação precisa das proporções de híbridos dentro de determinados sistemas agrícolas exigirá análise completa do genoma devido a imprevisibilidade do genoma híbrido, pois pode haver uma contribuição desigual de cada uma das espécies parentais de Helicoverpa ao longo de várias gerações.
Assim, o método amplamente utilizado de identificação rápida de espécies com base em “genes barcodings’’, de DNA herdado da mãe para diferenciar entre H. armigera e H. Zea, será agora ineficaz, uma vez que este marcador de DNA não consegue identificar híbridos. Sem contar que com a possível existencia desses hibridos a identificação taxonômica não poderá ser utilizada como ferramenta única para a confirmação de qual espécie se está manejando no campo. Uma incognita a ser desvendada.
Diante deste cenário, algumas hipóteses podem ser traçadas, quanto ao futuro das duas espécies mais importantes de Helicoverpa, no Brasil. Estas incluem:
Isso com certeza só o tempo dirá, mas alguns indícios de que as espécies originais estão desaparecendo aos poucos estão sendo constatados. Contudo ainda são apenas especulações, por isso estes estudos devem ser cada vez mais incentivados e pesquisadores de todas as instituições brasileiras, públicas e privadas, devem se unir para que esses e outros desafios advindos da agricultura possam ser solucionados de forma a beneficiar a agricultura de todo o país.
Ainda não se sabe ao certo o impacto destes híbridos sobre a agricultura brasileira, porém o potencial de danos agrícolas causados por híbridos e ambas as espécies parentais é preocupante, bem como a evolução da resistência aos diferentes inseticidas químicos disponíveis no mercado brasileiro. O que é certo é que a praga precisa ser monitorada e as nossas fronteiras devem ser mantidas sob vigilância contínua, como fazem inúmeros outros países. A biossegurança precisa ser reforçada para minimizar as oportunidades de novas incursões por outras populações oriundas do Velho Mundo e geneticamente distintas, como a literatura recente mostrou que importantes pragas agrícolas como H. armigera e a mosca-branca Bemisia tabaci entraram no país em diversas ocasiões e trouxeram genes resistentes a agroquímicos. Além disso, precisamos entender que o Brasil pode se tornar um "exportador" de indivíduos resistentes para outros países, complicando ainda mais os esforços globais para gerenciar o impacto nos sistemas de produção agrícola.
O uso das diferentes táticas de manejo integrado de pragas deve ser adotado para que os problemas fitossanitários resultantes desta e de outras pragas agrícolas possam ser resolvidos da melhor maneira possível, sem elevar os custos de produção no país. Vale a pena lembrar que pragas como a H. armigera não podem ser controladas confiando apenas em ferramentas químicas, como se observou nos últimos anos em que se seguiram após sua identificação oficial. Uma verdadeira mudança de práticas e hábitos em relação ao que se está adotando no campo para controlar essa praga são urgentemente necessárias, e isso deve ser realizado em conjunto com o conhecimento genômico atualizado da praga, independentemente de seu status híbrido. Existem inúmeras ferramentas que podem ser usadas em conjunto para reduzir efetivamente os danos causados por pragas como a Helicoverpa, os quais já foram discutidos exaustivamente nos últimos anos. Embora esses métodos e ferramentas não tenham sido amplamente adotados nos campos, suas eficiências no controle dos híbridos da Helicoverpa também precisarão de avaliação por meio do esforço da pesquisa. Vale lembrar que apenas o investimento em estudos científicos e, consequentemente, conhecimento podem garantir safras mais sutentáveis no futuro.
Cecilia Czepak, Universidade Federal de Goiás; Wee Tek Tay, CSIRO Black Mountain Laboratories; Humberto O. Guimaraes, Corteva Agriscience; Tiago Carvalhais, Matheus Le Senechal, Rafael F. Silvério, Universidade Federal de Goiás
Artigo publicado na edição 229 da Cultivar Grandes Culturas, mês junho, ano 2018.
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