Plantas de cobertura como aliadas

Importantes no auxílio ao controle de daninhas e de pragas como nematoides, plantas de cobertura são grandes aliadas do produtor. Contudo é necessário realizar sua escolha correta para cada ambiente

30.09.2022 | 15:05 (UTC -3)

Importantes no auxílio ao controle de daninhas e de pragas como nematoides, plantas de cobertura são grandes aliadas do produtor. Contudo é necessário realizar sua escolha correta para cada ambiente.

No campo a principal ferramenta utilizada para o controle das plantas daninhas reside no emprego de herbicidas, porém, um dos problemas enfrentados no manejo são os biótipos resistentes, o que inviabiliza o uso de determinados herbicidas e aumenta o custo de produção total ao produtor. Existem várias soluções para um manejo eficiente e rentável, destacando-se o manejo integrado no sistema de produção como o mais eficiente. Dentre as possibilidades disponíveis para o controle, uma opção que vem sendo cada vez mais recorrente é a adoção de plantas de cobertura intercalares ou sistema de sucessão nos cultivos agrícolas.

Plantas de cobertura são aquelas que têm por finalidade cobrir o solo, protegendo-o contra erosão, perdas de nutrientes por lixiviação, além de servir para o pastoreio, produção de grãos e sementes, feno, silagem, fornecimento de palhada para o sistema de plantio direito (SPD) e algumas espécies possuem a capacidade de ciclar nutrientes.

Em razão desses atributos as plantas de cobertura constituem importantes aliadas no manejo de plantas daninhas, pois o acúmulo da palhada serve como uma barreira física, que além de manter a umidade do solo e aumentar a matéria orgânica, suprime a emergência das plantas daninhas, tanto pelo impedimento da passagem de luz como pelo efeito alelopático que dificulta a germinação, emergência, e estabelecimento na área por meio de exsudados liberados pela parte aérea em decomposição ou pelas raízes.

Área em pousio com cultivo de Azevém
Área em pousio com cultivo de Azevém

A adoção de plantas de cobertura contribui para a melhoria dos atributos do solo, como os físicos, químicos e também os biológicos. As raízes das plantas de cobertura desagregam as partículas do solo, formando microporos que favorecem a distribuição de água no sistema e são de grande importância na construção do perfil do solo. Além disto, as plantas de cobertura auxiliam no controle de doenças, nematoides e outras pragas, beneficiando de forma direta a cultura de interesse.

Tipos de Plantas de Cobertura

É importante lembrar que para cada ambiente, e dependendo da cultura sucessora há uma planta de cobertura que se adequa melhor, ou seja, para escolher uma boa planta de cobertura devem-se levar em conta alguns fatores, como: a planta deve ser de crescimento rápido e fácil estabelecimento, ter um sistema radicular profundo e vigoroso para assim reciclar nutrientes, não ser hospedeira de pragas e doenças, oferecer boa cobertura para o solo, ser uma boa produtora de matéria seca, ter baixo custo de manejo e preferencialmente o produtor obter algum retorno econômico, como fornecer grãos ou servir para o pastejo animal nos períodos de entressafra.

Entretanto, a adoção dessas plantas requer cuidado, pois não há uma planta de cobertura que se adeque a todas as condições e que ofereça todos os benefícios que quaisquer sistemas possam requerer. A escolha deve levar em conta as limitações da área e as características de cada espécie.

A maioria das plantas usadas para este fim se dividem em duas famílias: Leguminosas (Fabaceae) e Gramíneas (Poaceae). As plantas da família das leguminosas, como a crotalária, são importantes fixadoras de nitrogênio atmosférico. E as gramíneas, como as braquiárias e o milheto, possuem sistema radicular vigoroso e profundo, eficientes em reciclar nutrientes essenciais para o crescimento e desenvolvimento das plantas que serão cultivadas em sucessão.

Área com o cultivo de capim braquiária
Área com o cultivo de capim braquiária

Podem ser implantadas em consórcio com algumas culturas, entre elas  o milho, café e frutíferas, ou então serem cultivadas sozinhas, na época da safrinha e inverno, normalmente em regiões que não fazem o cultivo de grãos nessas épocas. Assim, além dos benefícios já citados, impede a incidência de plantas daninhas na área em época de pousio, e consequentemente impede o aumento do banco de sementes, principalmente das plantas daninhas resistentes, trazendo assim um impacto positivo na safra de verão, uma vez que o banco de sementes estará reduzido. Vale lembrar que a dessecação das plantas de cobertura é bem mais fácil e econômica que a de plantas daninhas lignificadas e resistentes.

Manejo de dessecação

A dessecação das plantas de cobertura e das plantas daninhas deve ser realizada aproximadamente 15 a 20 dias antes do plantio, devido aos vários benefícios proporcionados, como quebra de ciclo de pragas e doenças; diminuir a competição por água no início de desenvolvimento da cultura; aumentar a decomposição dos restos culturais das coberturas e das plantas daninhas; melhorar uniformidade do plantio; diminuir efeitos alelopáticos causados pelas plantas de coberturas e plantas daninhas; uniformizar estádio das plantas daninhas para assim facilitar a aplicação de herbicidas pós emergentes; promover o controle de plantas de difícil controle e consequentemente aumentar a produtividade.

Área de pousio com crotalária
Área de pousio com crotalária

Tipos de plantas de Cobertura

  • Aveia-preta (Avena strigosa): muito utilizada no cultivo de grãos, é uma planta bastante precoce e rústica, possui resistência às principais pragas e por isso é empregada como regeneradora da sanidade, diminuindo a população de patógenos como a ferrugem e o ataque de pulgões, além de servir para a produção de feno, silagem e alimentação tanto para os animais como para humanos. Também produz uma elevada quantidade de massa verde e contribui para a ciclagem de nutrientes. É uma planta muito utilizada para proteger o solo durante o inverno e é uma excelente forrageira.
  • Azevém: (Lolium multiflorium): possui compostos alelopáticos que diminuem a incidência de plantas daninhas, é um importante aliado contra a erosão e pode ser utilizado para alimentação animal. Utilizada também como forrageira e formadora de palhada para o plantio direto, mas em alguns cultivos de inverno é considerada planta daninha, como por exemplo, no trigo. É frequentemente usado como cobertura antes de culturas, como, milho e soja.
  • Capim Braquiária: braquiária ruziziensis (Urochloa ruziziensis), braquiária brizantha (Urochloa brizantha) e braquiária decumbens (Urochloa decumbens) são as espécies usadas como plantas de cobertura. Possuem alta capacidade de produção de biomassa, tanto na parte aérea, fornecendo palhada, como nas raízes, contribuindo muito para a estruturação do solo e incorporação de carbono orgânico em camadas mais profundas. Suas raízes formam uma malha que seguram as partículas superficiais do solo e que o protegem do impacto das gotas da chuva, protegendo o solo da erosão.
  • Crotalária: (Crotalaria spectabilis) e (Crotalaria juncea): importantes fixadoras de nitrogênio apresentam elevada capacidade de ciclagem de macro e micronutrientes, melhorando as características físicas e químicas do solo, e aliadas no controle de nematóides formadores de galhas e cistos. Favorecem a descompactação do solo e auxiliam no controle da erosão. São adotadas principalmente em associação com a soja, milho e algodão. Aliado a isto, possui grande capacidade de fixar nitrogênio atmosférico no solo, contribuindo assim para a fertilidade e nutrição das plantas.
  • Milheto (Pennisetum glaucum): também usado para a alimentação animal, é uma planta de baixa exigência hídrica, com alta capacidade de ciclagem de nutrientes, crescimento rápido e de elevada produção de biomassa, o que contribui para a formação de palhada. É um aliado importante no controle de pragas e nematoides, pois por apresentar resistência, quebra o ciclo de reprodução desses parasitos.
  • Nabo Forrageiro: (Raphanus sativus): muito utilizado para adubação verde no inverno, alimentação animal e na rotação de culturas, além de ser um importante aliado na descompactação do solo devido ao seu sistema radicular pivotante bastante profundo. Apresenta elevado crescimento inicial, com importante efeito supressor sobre plantas daninhas e se decompõe rapidamente, fornecendo nutrientes de forma imediata para a cultura seguinte.

Custo x Benefício

A adoção recorrente desta técnica se deve em parte a acessibilidade na aquisição das sementes, cujo preço não ultrapassa R$300,00 por hectare. No princípio da instalação o produtor tende a questionar o investimento a ser feito, incrédulo quanto ao retorno. Entretanto, estudos mostram que a prática pode resultar em uma economia de R$960,00 por hectare com insumos e manejo do solo.

Outro problema comumente reportado é quanto ao manejo das plantas de cobertura, uma vez que os sistemas de produção atuais são muito baseados em sucessão de cultivos (ex.: soja/milho). Este tipo de sucessão indica de forma clara o papel das plantas de cobertura na diversificação e viabilidade dos sistemas de produção, assim contribuindo para uma maior produção e de forma mais sustentável, isto é, menos susceptível a ataques de pragas, doenças e menos dependente de insumos agrícolas.

Aplicações

Cafeicultura x Plantas de Cobertura

Cada vez mais a adoção de plantas de cobertura na cafeicultura vem se tornando uma técnica consagrada, porque conferem grandes benefícios à cultura, e consequentemente asseguram maior rentabilidade no cultivo aliado à produção sustentável.

Na cafeicultura, a otimização da água, ciclagem de nutrientes, descompactação do solo, auxilio no manejo de plantas daninhas, fixação biológica de N (Fabaceae) e aumento da matéria orgânica são os principais benefícios associados à sua utilização.

O capim braquiária é a planta de cobertura mais empregada em cultivos de cafeeiros,  pelos ganhos que esta gramínea proporciona às plantas. O manejo deste sistema se dá de forma integrada, onde o controle químico é realizado na linha de cultivo, e nas entrelinhas o manejo se dá de forma mecânica, por meio de roçadas. Neste sentido, os restos culturais oriundos da roçada são lançados para a linha do cafeeiro na busca de ganhos com matéria orgânica, melhoria na utilização de água, redução da amplitude térmica do solo e supressão das plantas daninhas, tanto por efeito físico, quanto por alelopatia.

Plantas de cobertura como o feijão de porco, mucuna, amendoin forrageiro, crotalária, e nabo forrageiro também são frequentemente utilizadas como plantas de cobertura no cafeeiro, cada qual com suas especificidades.

Sistema Santa Fé

O sistema Santa Fé é consagrado na agricultura, onde há a associação do cultivo de milho com o capim braquiária, de forma que, após a colheita do milho, o capim passa a ser utilizado como forrageira para pastoreio.

Desafio da produção de grãos (box)

O Brasil é um dos maiores produtores de grãos do mundo, estima-se que sua produção possa ultrapassar os 226 milhões de toneladas na safra 2017/2018, sendo a soja e o milho responsáveis pela maior parte da produção do país, representando aproximadamente 89%. De acordo com as estimativas para este ano agrícola, espera-se que a produção de soja seja cerca de 119,2 milhões de toneladas e de milho 92,2 milhões de toneladas.

Apesar da grande quantidade produzida, a produtividade média de grãos no Brasil ainda é considerada baixa, o que ocorre em função de vários fatores,  entre os quais se destacam os solos brasileiros, por serem ácidos e pobres em matéria orgânica, e os agricultores de subsistência não adotarem as tecnologias disponíveis, o que faz com que atinjam uma média produtiva baixa.

Além disso, a não adoção de manejos adequados como rotação de culturas, tratos fitossanitários, controle de plantas daninhas e manutenção da fertilidade do solo e nutrição mineral das plantas, afetam a produtividade. Em relação às plantas daninhas, quando não manejadas de forma correta, podem causar reduções no crescimento, desenvolvimento e produtividade da lavoura, devido à elevada capacidade de competir com a cultura por elementos essenciais disponíveis no meio, como: água, espaço, luz e nutrientes.

Klinger M. Lima Júnior, Lenise Oliveira Coelho, Giovani Belutti Voltolini, Maurício A. de Paula Santos, Artur José Lima Guedes, UFLA

Artigo publicado na edição 229 da Cultivar Grandes Culturas, mês junho, ano 2018.

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