Pústula bacteriana em soja (causada por Xanthomonas axonopodis)

Por Luana Laurindo de Melo (Unesp); Marcos Giovane Pedroza de Abreu (Unesp); Tadeu Antônio Fernandes da Silva Júnior (Unesp)

17.03.2024 | 14:12 (UTC -3)

A soja (Glycine max) é o quarto produto mais consumido entre os cereais e as oleaginosas, sendo considerada uma importante fonte de proteína e matéria-prima para a produção de óleos. O Brasil é o maior produtor mundial.

Problemas fitossanitários são responsáveis pela diminuição do desenvolvimento da cultura em campo, ocasionando perdas de produtividade e prejuízos aos produtores. As bactérias fitopatogênicas apresentam facilidade de disseminação e dificuldade no manejo nas diferentes áreas de cultivo. Na soja, dentre as bacterioses, a pústula-bacteriana é considerada uma importante doença em todo o mundo, sendo recorrente em países produtores como Brasil, China, Índia, Argentina e Estados Unidos.

Ainda não há estudos sobre perdas e danos causados pela doença no Brasil, mas é de conhecimento que em condições de alta umidade, os rendimentos da cultura podem diminuir de 21% a 40%. Na Índia, a doença foi relatada causando reduções de produtividade de aproximadamente 38%, reduzindo significativamente o tamanho e o número de grãos, bem como a produtividade da cultura.

Agente causal

Xanthomonas axonopodis pv. glycines (Xag) é uma bactéria que sobrevive em restos culturais deixados na superfície do solo, entre as estações de cultivo por até 210 dias. Nas sementes, a sobrevivência do patógeno pode ultrapassar dois anos, sendo esta considerada uma das principais formas de transmissão de Xag. Para produtores que sucedem o cultivo da soja com o trigo, estudos apontam que a rizosfera de plantas de trigo pode ser considerada um ambiente favorável à sobrevivência da bactéria.

Com incidência de chuvas e ventos, a bactéria pode ser disseminada rapidamente pelas lavouras, ocorrendo infecções secundárias. A doença se desenvolve em condições de clima quente, temperatura ótima de 30°C a 33°C, acompanhada por precipitações e umidade relativa superior a 70%.

Sintomas da doença

A bactéria penetra nas plantas de soja por aberturas naturais ou através de ferimentos, coloniza os espaços entre as células vegetais, e desta forma, os sintomas podem ser expressos.

Toda parte aérea da planta pode ser afetada, entretanto, nas folhas, os sintomas são mais visíveis. Nelas, inicialmente, aparecem manchas de coloração verde-amarelada, com centro elevado de coloração amarelo-palha. Essa elevação, no centro da lesão, é conhecida como pústula, e sua formação é resultado do aumento do tamanho das células vegetais em razão da presença da bactéria. A Xag realiza uma síntese de substâncias que resultam em distúrbios nas células do parênquima, ocasionando essa disfunção celular. Em consequência, ocorrem a expansão e ruptura da epiderme, a exteriorização do tecido parenquimatoso e a formação da pústula, sintoma característico da doença. Esta pode ser confundida com a pústula formada na ferrugem da soja. Entretanto, a pústula-bacteriana não apresenta, em sua abertura, uma massa de esporos como a da ferrugem-asiática.

Nos estágios iniciais, muitos produtores também confundem a pústula-bacteriana com o crestamento bacteriano (Pseudomonas savastanoi pv. glycinea). Entretanto, é possível diferenciar uma doença da outra nos primeiros estádios, pela formação de uma pequena elevação esbranquiçada no centro da lesão. O fato de o crestamento bacteriano se desenvolver em condições de temperaturas amenas (20°C a 26°C) também acaba por auxiliar os produtores na diferenciação.

Cultivares de soja suscetíveis tendem a formar fortes halos amarelos ao redor das pústulas, tornando o sintoma bem característico.

Manejo da bactéria

Para um manejo eficiente da pústula-bacteriana, o MID (Manejo Integrado de Doenças) se faz necessário. Os produtores devem implementar os métodos de controle disponíveis para a doença antes da instalação da cultura, passando por todo o ciclo de cultivo até o pós-colheita.

O emprego de cultivares resistentes representa um pilar dentro das estratégias de manejo para a doença. O método é considerado ideal no controle, pois pode ser aplicado em grandes áreas, além de possuir baixo impacto ambiental. Dentre as cultivares convencionais mais antigas, BR-16, BR-36, BR-37, BRS-132, BRS-133, BRS-134, BRS-135, BRS-136, BRS-155, BRS-156, BRS-157, Embrapa-48, Embrapa-58, Embrapa-59, Embrapa-60, Embrapa-61 e Embrapa-62 apresentam resistência completa contra a doença. Todavia, é importante destacar que Xag apresenta raças fisiológicas, possuindo graus de agressividade distintos em relação às cultivares de soja. Essas condições, associadas ao uso excessivo da mesma fonte de resistência, vêm possibilitando a redução na eficiência do método.

Pelo fato de Xag poder ser disseminada pelas sementes, fazer uso no plantio de sementes livres da bactéria reduzirá sua ocorrência nas áreas de cultivo. A incorporação de restos culturais de soja infectados ao solo é uma tática recomendada, pois possibilita a redução do inóculo de Xag para a próxima safra.

Durante os tratos culturais, também é importante evitar pulverizações quando a parte aérea da planta apresenta molhamento foliar, pois o aumento da umidade sobre o tecido vegetal favorece a infecção das plantas de soja por Xag.

A alternância das espécies cultivadas durante um determinado período também reduz o inóculo em áreas de cultivo com histórico da doença. Para Xag, existem poucas informações disponíveis de quais espécies podem ser utilizadas. Sabe-se apenas que o milho é tido como uma boa opção. Plantas daninhas recorrentes nas entrelinhas também podem se tornar possíveis nichos de sobrevivência para a bactéria, desta forma, a erradicação é uma prática indicada para os produtores.

Para o controle químico, não existem produtos específicos registrados para a doença na cultura, assim como produtos biológicos.

Por Luana Laurindo de Melo (Unesp); Marcos Giovane Pedroza de Abreu (Unesp); Tadeu Antônio Fernandes da Silva Júnior (Unesp)

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