Surtos populacionais de lagartas no Brasil
Por Eduardo Engel, Daniele Caroline Hörz (Esalq/USP); Thomas Eliel Hörz, Maísa Jungbeck, Leonardo Wallauer Van Ass (Next Agrociência LTDA); Marcelo Zakseski (Conhecimento Agronômico)
Estados Unidos, China e Brasil são responsáveis por quase 65% da produção mundial de milho. No entanto, apenas o Brasil é capaz de cultivar anualmente o cereal em três safras consecutivas: primeira safra (verão), segunda safra (safrinha) e terceira safra (Nordeste).
O potencial produtivo das lavouras é influenciado pela ocorrência de doenças foliares. No Brasil, a frequência do uso de fungicidas em lavouras comerciais tem aumentado nos últimos anos devido aos aumentos dos preços das comodities e da pressão das enfermidades no campo. Este é um dos mais importantes métodos de controle nos quatro principais estados produtores (PR, MS, GO e MT).
Esta reportagem relata as principais manchas e ferrugens dos ensaios cooperativos e divulga alguns resultados de controle por fungicidas na safrinha 2023.
Até o início dos anos 1990, as doenças foliares ocasionadas por manchas foliares e ferrugens apresentavam pouca importância no Brasil. Os prejuízos causados por essas doenças aumentaram devido ao avanço tecnológico de produção como épocas de semeadura, sistema plantio direto, cultivo mínimo e irrigado.
No Brasil, existem diversas manchas e ferrugens, muitas delas ocorrendo de maneira silenciosa, mas que reduzem a produtividade. Dentre estas múltiplas doenças foliares mais encontradas, sete ocorrem nos ensaios da rede cooperativa (Figura 1). A importância de cada uma delas, assim como o melhor período para monitoramento, é variável, dependendo da safra e da região de cultivo e híbrido (Figura 2). Isso demanda que produtores e assistência técnica aperfeiçoem o posicionamento de fungicidas para o controle.
Mundialmente, até 1970, dava-se pouca importância às doenças foliares. Fungicidas protetores foram utilizados em 1980 para controle da mancha de cercóspora. Somente na década de 1990 os fungicidas passaram a ser amplamente utilizados no controle de doenças foliares em países como Estados Unidos e África do Sul.
No Brasil, o uso de fungicidas em escala comercial ocorreu no início dos anos 2000. Desde então, houve a intensificação gradativa do seu uso em áreas produtoras do grão. Na safrinha de 2017, foi estabelecida no Paraná uma rede cooperativa. Esta pesquisa tem possibilitado acelerar a modernização do portfólio de fungicidas registrados para a cultura em tradicionais e novos alvos como a mancha de bipolaris e a mancha de macróspora.
Um estudo metanalítico do uso de fungicidas entre 2007 e 2013 observou alta probabilidade (82%) para manter a produtividade em 300 kg/ha comparado à testemunha, e 57% de probabilidade para manter 600 kg/ha. Recentemente, um estudo divulgado pelo grupo Kynetec Brasil na Revista Cultivar demonstrou que o mercado anual de fungicidas no país cresceu de R$ 561 milhões na safra 2014-15 para R$ 2,83 bilhões na safra 2022-23. Ainda, foi mencionado que 97% da área de milho safrinha teve pelo menos uma aplicação de fungicida e intensidade média de duas aplicações.
A metodologia utilizada para conhecer a eficiência de controle por fungicidas foi disponibilizada em publicações (www.fitossanidadetropical.org.br/informacoes-tecnicas/publicacoes). Os tratamentos foram constituídos por 11 fungicidas formados por moléculas simples, misturas duplas e misturas triplas, com ou sem associação de fungicidas multissítios. Além disso, três tratamentos padrões foram adicionados (Tabela 1). Pesquisadores das instituições parceiras dessa rede cooperativa conduziram 30 ensaios de campo em 25 localidades de sete estados no sul e Cerrado.
Em todos os ensaios, 50% das ocorrências das sete principais doenças foliares foram ocasionadas por mancha de bipolaris ou mancha de túrcicum. Em Mato Grosso, maior produtor do cereal, essa ocorrência nos ensaios foi de 41% (dados não apresentados).
Os resultados médios de severidade total representados pela AACPD tiveram menor valor ao abranger todos os tratamentos com fungicidas (638) em relação à AACPD (1.576) da testemunha. Houve efeito significativo dos tratamentos com fungicidas (de 532 a 807) em relação à testemunha (1.576) (Tabela 2).
Nas análises sumarizadas de oito localidades, a severidade final média dos tratamentos com fungicidas foi de 28,5%, o que representou uma diferença absoluta de 34,9% na severidade de doenças entre a testemunha e a média dos tratamentos com fungicidas (Tabela 2). Houve severidade de 63,4% na testemunha que diferiu estatisticamente de todos os tratamentos com fungicida de menor severidade (22% a 35,6%). Também, do ponto de vista estatístico, para a AACPD, os tratamentos foram separados em dois grupos de médias pelo Teste de Tukey, tratamento testemunha e os demais tratamentos com fungicida.
Numericamente, houve maior AACPD no tratamento sem fungicida (1.576) e menor AACPD, de 532, no tratamento 7 (piraclostrobina + mefentrifluconazole), apesar de não haver ocorrido diferença significativa entre os tratamentos com fungicidas (Tabela 2). Os tratamentos testados com aplicações de misturas duplas, misturas triplas, associadas ou não a fungicidas multissítios, apresentaram controle variando de 49% no tratamento 3 (mancozebe, controle positivo) a 66% no tratamento 7 (Tabela 2).
Exceto os dois tratamentos controle positivo com fungicida multissítio (tratamento 3, mancozebe; e tratamento 4, clorotalonil), os demais tratamentos com aplicação de fungicida destacaram-se por apresentar produtividade superior à testemunha. A produtividade média dos tratamentos com fungicida foi 7.257 kg/ha comparada a 6.250 kg/ha à testemunha (Tabela 3). A manutenção produtiva nos tratamentos com aplicação de fungicida variou de 10% no tratamento 4, a 22% no tratamento 5 (trifloxistrobina + protioconazole + bixafen) (Tabela 3).
Maior severidade de doenças foliares, em especial a mancha de bipolaris, reduziu a produtividade. O uso dos fungicidas promoveu a manutenção do potencial produtivo. A maior eficiência de controle e manutenção de produtividade foi de 66% e 22%, respectivamente. A integração entre a resistência genética, as épocas de semeadura e as aplicações de fungicidas deve ser melhor explorada como medida de controle.
Por Adriano Custódio (IDR-Paraná); Dagma Silva (Embrapa Milho e Sorgo); Carlos Utiamada (TAGRO); Hércules Campos (UniRV/CPA); Rodrigo Véras (Embrapa Milho e Sorgo); Lucas Fantin (Fantin Agro/Fitolab); Karla Braga (Fantin Agro); Marcelo Canteri (UEL); Gisèle Fantin (APTA/IB); Inês Yada (IDR-Paraná)
Artigo publicado na edição 296 da Revista Cultivar Grandes Culturas
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