Perdas na colheita de arroz

Método de identificação de perdas na plataforma, criado pelo Nimeq, da Universidade Federal de Pelotas, facilita a coleta e a interpretação dos dados obtidos na lavoura

09.06.2023 | 16:50 (UTC -3)

Método de identificação de perdas na plataforma, criado pelo Nimeq, da Universidade Federal de Pelotas, facilita a coleta e a interpretação dos dados obtidos na lavoura.

O arroz irrigado é cultivado numa área de aproximadamente 1,083 milhão de hectares no estado do Rio Grande do Sul, com produção de 7,4 milhões de toneladas. O sistema de colheita destas áreas é totalmente mecanizado, sendo que perdas quantitativas são inerentes a este processo.

Não existem dados exatos sobre as perdas totais durante a colheita de grãos nas lavouras brasileiras, porém, estimativas dão conta de que as mesmas encontram-se em torno de 20% da produção total.

Durante o processo de colheita mecânica, as perdas quantitativas deveriam ser inferiores a 3% do total de grãos disponíveis para serem colhidos na lavoura, porém, no caso da lavoura de arroz, estudos demonstram que essas perdas podem atingir 10%. 

Perdas na lavoura podem ser classificadas em três tipos: perdas pré-colheita, perdas no processo de colheita e pós-colheita. As perdas pré-colheita são aquelas que ocorrem antes do processo de colheita, por fatores climáticos, naturais e ataque de animais. As perdas que ocorrem durante o processo de colheita (perdas devido à colhedora) podem ter origem na implantação inadequada da lavoura (escolha da variedade/cultivar, erros na semeadura/adubação, falta de tratamento fitossanitário adequado), podem ocorrer devido a fatores climáticos (ocorrência de ventos e chuvas intensas, causando acamamento) e a fatores operativos, como o estado de manutenção, regulagens e qualificação do operador. Já as perdas denominadas de pós-colheita são aquelas que ocorrem no processo de transporte, beneficiamento e armazenamento do produto.

Perdas na colhedora

Nas colhedoras, as perdas podem ser analisadas em dois locais distintos: parte frontal (devem-se à plataforma de corte) e parte posterior da máquina (que resultam dos sistemas de trilha, separação e limpeza).

A plataforma de corte apresenta como função cortar, recolher e encaminhar a cultura para a unidade de trilha, sendo composta por separadores, barra de corte, molinete, condutor helicoidal (caracol) ou esteira (draper) e canal alimentador. A diferença entre a plataforma que utiliza o sistema draper é que, neste caso, o sistema responsável por recolher o produto que cai na base da plataforma e é encaminhado ao canal alimentador, não é um cilindro helicoidal, mas sim esteiras de borracha.

Considerando que a colheita é a etapa final do processo produtivo, as perdas devem ser mantidas dentro de padrões aceitáveis, a fim de não comprometer a lucratividade da lavoura. Portanto, a avaliação sistemática das perdas de grãos nas lavouras, aliada a um processo de constante regulagem da colhedora, reduz a quantidade de grãos perdidos, garantindo a produtividade e a lucratividade esperadas da lavoura.

Devido à complexidade dos diferentes métodos utilizados para avaliar as perdas na colheita em lavouras de arroz, principalmente aquelas que ocorrem na plataforma de corte, a equipe do Núcleo de Inovação em Máquinas e Equipamentos Agrícolas (Nimeq) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) desenvolveu uma metodologia prática para analisar as perdas na plataforma de corte em lavouras de arroz irrigado, a qual pode ser empregada para outras culturas, onde a barra de corte trabalhe numa altura vertical mínima de 30cm.

Método convencional 

O método comumente utilizado prevê a utilização de armação de 1m2 de área, que deve abranger toda a largura da plataforma de corte da colhedora. Inicialmente se faz a determinação da quantidade de grãos disponíveis para serem colhidos pela máquina na lavoura, a qual é obtida com a coleta dos grãos disponíveis em uma área de 1m2, para tanto se utiliza uma armação quadrada com 1m de lado. Com essa mesma armação se faz a determinação das perdas pré-colheita.

Para a determinação das perdas na plataforma, a colhedora deve ser parada durante o processo de colheita, desligada a plataforma de corte e a máquina retrocedida. À frente de onde ficar a marcação dos pneus dianteiros da colhedora, deve ser colocada a armação de 1m2 e coletados os grãos caídos. Da quantidade de grãos assim obtidos deve ser subtraído o valor referente à perda pré-colheita anteriormente registrado.

Posteriormente a estas determinações, nas quais, geralmente, apenas se contam os grãos, deve-se proceder ao cálculo da sua equivalência em peso, para tanto se pode utilizar o peso específico do grão com o qual se está trabalhando. Desta forma será possível calcular as perdas quantitativas de grãos em função da produtividade da lavoura, obtendo-se um resultado percentual que indicará a necessidade ou não de se fazer ajustes na máquina.

Esse método é de difícil execução em lavouras de arroz irrigado, podendo levar a erros amostrais, visto que, em muitos casos, na hora da colheita resta uma certa quantidade de água na lavoura. Soma-se a isso o fato de que a quantidade de grãos que deverão ser contados normalmente é bastante alta. 

Método NIMEQ

Tentando contornar este problema e agilizar a obtenção de resultados sem perder a precisão, a equipe do Nimeq desenvolveu uma metodologia para obtenção da quantidade de perdas na plataforma de corte em lavouras de arroz irrigado. Esta metodologia consiste em determinar, ao longo da largura da plataforma, em locais predeterminados, a perda de grãos. Isso também possibilita identificar os pontos que geram as maiores perdas e relacioná-las às condições de trabalho da máquina, como velocidade de deslocamento, tipo de plataforma e altura de corte. Para isso, foram projetados coletores de PVC em forma de calha com dimensões de 15cm x 75cm com área individual de 1.125cm², os quais são posicionados sobre o solo, nas entre linhas da cultura, regularmente espaçados ao longo da largura da plataforma de corte da máquina.

Para o teste desta metodologia realizaram-se dois experimentos de campo: um no Departamento de Treinta y Tres, no Uruguai, em lavoura de 200ha de arroz irrigado e outro na Província de Entre Rios, na Argentina, numa lavoura de 850ha de arroz irrigado.

A colhedora utilizada, em ambos os casos, foi da marca John Deere modelo 9670 STS Rice com o módulo Single Tine Separation (STS), na qual foram utilizadas duas plataformas com sistema draper dos modelos 625D, com 7,60m, e 630D, com 9,10m de largura, respectivamente.

Para maior precisão na quantificação das perdas na plataforma, foi definido que o número de coletores utilizados seria variável de acordo com a largura da plataforma, a fim de se obter uma área de coleta mínima de 1,200m2. Na plataforma 625D foram utilizados 12 coletores, obtendo-se uma área de coleta de 1,350m², já na plataforma 630D foram utilizados 14 coletores, tendo uma área de coleta total de 1,575m².

Os coletores foram posicionados de maneira equidistante, ao longo da plataforma de corte, e após a passagem sobre estes, a colhedora era parada, a plataforma desligada e a máquina retrocedida. Os grãos captados pelos coletores foram, então, contados e a operação repetida, no mínimo, três vezes. Desta forma não se faz necessária a obtenção das perdas pré-colheita, visto que os grãos captados pelos coletores se referem apenas à perda da plataforma de corte, o que reduz o tempo gasto no processo. Outro ponto importante é que, com a utilização desta metodologia torna-se possível localizar ao longo da largura da plataforma, quais os pontos que geram maiores perdas, o que é impossível com a utilização do método tradicional.

Na Figura 1 são apresentadas as perdas na plataforma de corte, obtidas para a colhedora modelo 625D, sendo possível observar que os maiores valores ocorrem nas extremidades e no centro da plataforma.

Figura 1 – Ilustra a localização exata das perdas na plataforma 625D
Figura 1 – Ilustra a localização exata das perdas na plataforma 625D

Quando se determinaram as perdas referentes à plataforma 630D, verificou-se que as mesmas apresentaram uma distribuição lateral praticamente igual à da plataforma 625D, embora com um volume maior de perdas (Figura 2). Nota-se que, a exemplo do caso anterior (625D), as maiores perdas também ocorrem nas extremidades e no centro.

Figura 2 – Ilustra a localização exata das perdas na plataforma 630D
Figura 2 – Ilustra a localização exata das perdas na plataforma 630D

Quando se compara o método convencional com o proposto pelo Nimeq, verifica-se que o primeiro é bastante trabalhoso, demorado e de difícil entendimento, principalmente para os produtores e operadores de máquinas, além de não fornecer os pontos exatos das perdas ao longo da plataforma.

Se comparado com as demais técnicas, a utilização do método Nimeq, possibilita a identificação das perdas de grãos por locais específicos ao longo da plataforma, pois os grãos ficam retidos dentro dos coletores, facilitando a contagem, ou mesmo a pesagem direta, podendo-se gerar gráficos que facilitam a visualização e o entendimento do processo de perdas.

Antonio L. T. Machado, Ângelo Vieira do Reis, Fabricio A. Medeiros, Mauro F. Ferreira, Roberto L. T. Machado, Tiago Vega Custódio, César Silva de Morais, Marina Peter Schwab, Nimeq - UFPel

Artigo publicado na edição 184 da Cultivar Máquinas, mês maio, ano 2018.

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