Colheita mecanizada de café conilon

Estudos mostram que a colheita mecanizada do café conilon pode ter eficiência similar à da operação realizada no café arábica, desde que as colhedoras estejam corretamente reguladas

02.06.2023 | 14:37 (UTC -3)

Estudos mostram que a colheita mecanizada do café conilon pode ter eficiência similar à da operação realizada no café arábica, desde que as colhedoras estejam com as frequências de trabalho e velocidades operacionais corretamente reguladas e adequadas a cada tipo de material genético.

A falta de mão de obra no campo tem preocupado os produtores de café conilon. Ela afeta a safra, eleva os custos de produção e torna o produto menos competitivo no mercado nacional e internacional. Há melhores condições de trabalho e salários nos centros urbanos e isso se torna ainda mais crítico durante o período de colheita, quando a demanda por trabalhadores aumenta. 

Como consequência, muitos produtores não conseguem colher na condição recomendada, com no mínimo 80% de maturação dos frutos, e precisam se antecipar para garantir uma colheita completa, sem prejuízos maiores. Mas com uma grande quantidade de grãos ainda verde é inevitável a perda de qualidade e rendimento. 

Para driblar esse cenário, os produtores de café conilon buscam alternativas para uma safra mais produtiva e uma delas é a mecanização. Nas colheitas de café arábica – culturas parecidas –, por exemplo, a colheita mecanizada tem sido realizada de forma eficiente e economicamente viável e, apesar das divergências entre as plantas e o manejo, é possível usar esses mesmos maquinários nas lavouras de conilon.

O café conilon tem particularidades como múltiplos caules, variando de três a cinco ramos ortotrópicos, plantas menos eretas, plantio de clones em linha, polinização cruzada, sistema radicular mais superficial, ausência de queda de frutos após a maturação fisiológica, lavouras cultivadas em áreas mais quentes e com altitude inferior a 500 metros. Todas essas características morfológicas, somadas ao atual manejo adotado, dificultam o uso de sistemas mecanizados, frequentemente aplicados na colheita do café arábica. No entanto, as soluções e as oportunidades vieram de estudos de adaptação do manejo e da viabilidade técnica e econômica.

Na produção agrícola, a colheita é uma etapa que se destaca pelo elevado investimento envolvido e os retornos financeiros obtidos por meio da comercialização das culturas. Atualmente, é uma das mais importantes etapas da safra, e ano a ano depende da tecnologia para ter competividade. Os principais benefícios da colheita mecanizada são produtos de melhor qualidade, redução nas perdas durante a colheita e possibilidade de aumento nos lucros. 

Em lavouras de café arábica, estima-se uma redução no custo total da colheita mecanizada de até 60% em relação à colheita manual. Esses níveis de redução de custos só foram possíveis por causa das adaptações feitas nas máquinas e lavouras nos últimos anos para aumentar a eficiência e minimizar as perdas.

Atentos à necessidade de gerar resultados positivos também nas safras de café conilon, foram iniciados os primeiros ensaios de campo com uma colhedora automotriz Case IH em lavouras comerciais em plantio tradicional e plantio preparado para colheita mecanizada, entre 2013 e 2016, no norte do estado do Espírito Santo. O objetivo foi avaliar índices técnicos da colheita mecanizada em diferentes condições de manejo. 

Os primeiros testes foram feitos em lavouras de plantio tradicional, com três a quatro hastes (ramos ortotrópicos) por planta e espaçamento 3-3,5 x 1m (Tabela 1). A máquina apresentou eficiência de derriça e de colheita variando de 85% a 93% e 70% a 78%, respectivamente – níveis levemente inferiores aos alcançados na colheita de café arábica. Já a perda de chão variou de 10% a 21%, pelo fato de a lavoura apresentar plantas multicaules (com três a cinco hastes) e arqueadas, diminuindo a vedação do sistema de recebimento, criando espaços para a queda de frutos no chão. Em geral, o cafeeiro conilon não apresenta queda natural dos frutos maduros no chão, como ocorre no arábica, o que favorece a eficiência de derriça e de colheita e, consequentemente, minimiza as perdas na lavoura.

Tabela 1
Tabela 1

Em algumas situações, o recolhimento do volume de frutos do chão é considerado viável para o cafeeiro arábica, em função do volume e do custo operacional. Estudos indicam que a eficiência dos sistemas de recolhimento pode variar de 50% a 85% para o café arábica, dependendo da sistematização do terreno. Assim, em virtude da produtividade do café conilon ser superior à do arábica, o uso de recolhedoras de chão pode ser uma alternativa para aumentar a eficiência do sistema mecanizado.

Esses resultados em lavouras tradicionais foram promissores, embora inferiores aos normalmente obtidos em lavouras de café arábica. Vale destacar que as lavouras não foram preparadas para as colhedoras, com presença de irregularidades no terreno, plantas com crescimento desuniforme e tombadas, e, em alguns casos, não foi apresentada uniformidade de maturação de frutos na linha. Nesses ensaios, a configuração das máquinas, o número de passadas da máquina na linha, a velocidade da colheita, a frequência de agitação, o grau de maturação dos frutos e a arquitetura das plantas alteraram o processo de derriça e de colheita, carecendo de ajustes específicos a cada condição de lavoura.

Em um segundo momento, foram realizadas avaliações em lavouras adequadas à colheita mecanizada (conforme Tabela 2), visando melhorar os índices técnicos. Clones selecionados com características de interesse para a colheita mecanizada foram plantados em linhas alternadas com espaçamento de 3,2-3,5 x 0,5m e duas hastes por plantas. 

Tabela 2 
Tabela 2 

Nos testes realizados em lavoura preparada verificou-se a eficiência de derriça e de colheita variando de 85% a 97% e de 75% a 87%, respectivamente, com média superior aos testes realizados em lavouras tradicionais (Tabela 1). As perdas de chão em lavouras preparadas foram de 10% a 14%, ou seja, reduziram em relação aos testes anteriormente realizados em lavouras tradicionais. Os resultados foram positivos e similares aos atingidos na colheita de café arábica, o que indica a viabilidade do uso dessas colhedoras também para a colheita de café conilon.  

Atualmente, os níveis de perdas no cafeeiro arábica são de 6% a 8% devido às melhorias que foram implementadas no sistema de recolhimento da colhedora Case IH ano/modelo 2018. Estima-se obter o mesmo para o conilon em lavouras sistematizadas para a colheita mecanizada. Mesmo com a redução das perdas para o chão, o recolhimento do solo pode ser viável para o cafeeiro conilon, que carece de mais estudos operacionais e econômicos. 

Os estudos de colheita mecanizada do café conilon apontam a eficiência da operação similar à operação realizada no café arábica, desde que as colhedoras estejam com as frequências de trabalho e velocidades operacionais corretamente reguladas e adequadas a cada tipo de material genético. Por isso, é essencial para o sucesso das operações mecanizadas ajustar essas regulagens, assim como definir tecnicamente as características da lavoura e formas de condução do cafeeiro conilon.

Os resultados indicaram uma viabilidade técnica para o uso das colhedoras automotrizes em lavouras de café conilon, com potencial de aplicação em áreas comerciais. Contudo, são necessárias alterações no manejo das plantas, como a proposta na Tabela 2, em relação à condução tradicional, para uma maior eficiência de colheita e redução das perdas de frutos no solo. Da mesma forma, estudos futuros também são necessários para melhorar os índices técnicos, além de acompanhar possíveis sazonalidades na produtividade das plantas, garantindo a longevidade das lavouras e a sustentabilidade da produção.

Gustavo Soares de Souza, José Antônio Lani, Incaper; Maurício Blanco Infantini, CNH Industrial

Artigo publicado na edição 184 da Cultivar Máquinas, mês maio, ano 2018.

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