Manejo do capim arroz

Gramínea de difícil manejo o capim arroz também deve entrar no rol das preocupações em áreas de produção da principal oleaginosa brasileira, não só na rotação soja-arroz, como também nas principais regiões produtoras em terras altas, com chances de apresentar dificuldades no controle com o uso de glifosato

29.03.2022 | 15:00 (UTC -3)

Gramínea de difícil manejo o capim arroz também deve entrar no rol das preocupações em áreas de produção da principal oleaginosa brasileira, não só na rotação soja-arroz, como também nas principais regiões produtoras em terras altas, com chances de apresentar dificuldades no controle com o uso de glifosato.

As gramíneas, no contexto atual do manejo de plantas daninhas, representam um grande desafio a ser vencido. Na cultura do arroz, em função do principal sistema utilizado ser basicamente atendido por herbicidas inibidores da enzima ALS (como as imidazolinonas), que são potencialmente latifolicidas (controle de plantas de folha larga) mas com efeito sobre algumas gramíneas (folhas estreitas), o problema, em número de espécies ocorrentes é maior que em soja, onde ainda se utilizam em larga escala herbicidas com eficiência graminicida que permitem um controle mais amplo e eficiente. Entre as gramíneas da cultura do arroz, destaca-se o capim arroz (complexo de plantas do gênero Echinochloa).

As diferentes espécies de capim arroz vegetam em ambientes variados, desde campos alagados das várzeas arrozeiras até terras altas drenadas. São plantas rústicas, de ampla adaptabilidade a distintos locais e condições. Entretanto, danos a culturas comerciais por estas espécies têm sido relatados para a cultura do arroz, e têm apresentado resistência a herbicidas de diferentes mecanismos de ação. Nos últimos anos, em levantamentos realizados pelo Grupo Interdisciplinar de Pesquisa e Herbologia da Universidade Federal de Santa Maria, o capim arroz, além de ocorrer em toda a área de produção do arroz, foi encontrado como infestante em lavouras de soja em Santa Maria, Tupanciretã, Júlio de Castilhos, Cruz Alta, Augusto Pestana, Cachoeira do Sul, Dom Pedrito, Rosário do Sul, São Sepé, São Borja e São Gabriel.

Os estudos revelam que não ocorre uma população padrão de uma determinada espécie de capim arroz que esteja bem adaptada a todos os ambientes de terras altas, ocorrendo pelo menos quatro espécies: Echinochloa crusgalli var. crusgalli (capim arroz, canevão, jaú, crista de galo), Echinochloa crusgalli var. mitis (mitis, lombo branco), Echinochloa colona (coloninho),  e uma espécie de introdução mais recente no Rio Grande do Sul Echinochloa crusgalli var. oryzoides (também chamada de capim lombo branco). Os produtores de soja, preocupados, têm afirmado que “o capim arroz está subindo a coxilha!!”, em referência ao entendimento de que se trata de uma planta de terras baixas alagadas que, atualmente, está ocorrendo também no planalto em lavouras de soja e em áreas não suscetíveis ao alagamento. Mas isto é um engano! Ao viajar por regiões produtoras de soja do Rio Grande do Sul, desde a Zona Sul com as terras baixas alagadiças até o planalto com as terras altas drenadas, é possível encontrar estas espécies de capim arroz vegetando em beiras de estradas em ambientes não alagados, o que revela que se tratam de espécies com adaptação a terrenos mais secos.

Os estudos iniciais com plantas coletadas nos locais de produção de soja permitiram verificar que parte destes biótipos de capim arroz apresentam níveis variados de suscetibilidade ao herbicida glifosato, entre outros herbicidas empregados. Espécies resistentes ao glifosato também têm sido identificadas por pesquisadores da Argentina, do Uruguai, da Austrália e dos Estados Unidos. Nas áreas onde realizou-se as coletas, o manejo com aplicações de glifosato foi executado dentro de programas que incluem herbicidas graminicidas, como o cletodim, permitindo controlar as gramíneas em escapes, quando as plantas já estavam em avançado estágio de desenvolvimento. Há áreas onde o nível populacional já é preocupante sendo necessário usar herbicidas pré-emergentes para segurar fluxos de germinações sequenciais oriundas da quantidade considerável de dissimínulos do banco de sementes do solo. Isto dá flexibilidade para controle com herbicidas pós-emergentes dentro do programa de manejo.

O capim arroz também deve entrar no rol das preocupações com gramíneas que infestam áreas de produção de soja, não só na rotação soja-arroz, como também nas principais regiões produtoras em terras altas, podendo apresentar dificuldades no controle com o glifosato. Para evitar a introdução e naturalização destas espécies no ambiente de produção de soja, é preciso atenção para prevenir a reprodução e a disseminação da planta daninha com aumento na quantidade de sementes no solo, o que resultaria em mais problemas aos produtores da principal oleaginosa brasileira.

Neste contexto, a limpeza de máquinas colheitadeiras que são usadas em diferentes locais onde esta planta daninha comumente ocorre, o uso de sementes de excelente qualidade tanto de soja como de forrageiras semeadas no inverno e o manejo adequado com quarentena de rebanhos bovinos rotacionados dentro do sistema integrado, exigem cuidados para que se evite a introdução destas espécies. Estes têm sido os principais meios de disseminação do capim arroz para áreas de terras altas. O uso de herbicidas graminicidas pós-emergentes para o controle das espécies é necessário, especialmente o herbicida Cletodim, que mostrou eficiência superior aos demais graminicidas no controle destes biótipos de capim arroz em ensaios de campo  e casa de vegetação realizados.

A figura 1 mostra que ocorrem dois grupos de espécies de capim arroz. O primeiro apresenta as de ciclo anual, caracterizadas pelas ausências de lígula, rizomas e pilosidade nos nós caulinares. O segundo, apresenta espécies perenes, com lígula pilosa nas bainhas foliares (menos na folha bandeira), pilosidade nos nós caulinares, estolões e rizomas.

Figura 1
Figura 1

Entre as espécies de ciclo anual se encontra o subgrupo 1 que corresponde à espécie Echinochloa colona, cujos biótipos foram coletados em 16 áreas de produção de arroz. O subgrupo 2 reúne a espécie Echinochloa crusgalli variedade mitis (10 áreas). Subgrupo 3 Echinochloa crusgalli variedade crusgalli (12 áreas) . Subgrupo 4 Echinochloa crusgalli variedade oryzoides (1 área). Subgrupo 5 Echinochloa crusgalli variedade cruspavonis (9 áreas).

Além destas espécies, em áreas alagadas, foram encontradas as duas espécies de ciclo perene Echinochloa helodes e Echinochloa polystachya.

Recentemente foi localizada outra espécie de ciclo anual identificada como Echinochloa crusgalli variedade caudata.

Tabela 1
Tabela 1
Tabela 2
Tabela 2
Tabela 3
Tabela 3

CARACTERIZAÇÃO DE RESISTÊNCIA AO HERBICIDA GLIFOSATO

Os estudos realizados com plantas de capim arroz da Depressão Central do Rio Grande do Sul, coletadas em áreas de soja, mostram que foram detectados biótipos de capim arroz coloninho (Echinochloa colona) resistente ao herbicida glifosato. Estes biótipos apresentam um fator de resistência de 4,54, portanto, teoricamente necessitam de dose pelo menos cinco vezes maior que aquela que provoca perda de 50% da massa seca  da parte aérea no biótipo suscetível.

Entretanto, apesar de ser considerada academicamente como baixo nível de resistência, ensaios realizados em campo, em área cedida por produtor de soja, acompanhada a três safras consecutivas, revelam que controle em nível considerado satisfatório (acima de 80%) só tem sido obtido com doses  superiores a 12 litros por hectare quando aplicado em capim arroz resistente com 1-2 perfilhos. Obteve-se controle deste biótipo resistente (figura 2) com a aplicação do herbicida Cletodim.

Figura 2
Figura 2
Figura 3
Figura 3

Artigo publicado na edição 218 da Cultivar Grandes Culturas, mês julho, ano 2017. 

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