Desempenho operacional na pulverização

Análise operacional para aplicação de defensivos agrícolas é importante para a escolha do equipamento mais adequado, permitindo rapidez na aplicação e racionalização de custos

17.05.2023 | 16:58 (UTC -3)

A análise operacional para aplicação de defensivos agrícolas é importante para a escolha do equipamento mais adequado, permitindo rapidez na aplicação e racionalização de custos, sem prejuízo da eficiência do controle fitossanitário.

A eficiência da pulverização é dependente da estrutura fundiária e do tempo perdido nas manobras, no reabastecimento, na calibração e na limpeza, dentre outros. É um fator de extrema importância que afeta diretamente a capacidade de campo operacional.

Para avaliar o desempenho operacional de um pulverizador autopropelido, foi realizado no município de Sinop/MT, na fazenda Aeroporto, um estudo sobre o desempenho e a capacidade de campo operacional. A aplicação de defensivos foi realizada na cultura do algodão, que estava em pleno desenvolvimento vegetativo, com volume de aplicação de 60 L/ha. A coleta de dados foi realizada para dois talhões da fazenda. O primeiro denominado talhão 29, com área tratada de 189,9 ha e o talhão 38 com área tratada de 128,9 ha.

A aplicação foi realizada com o pulverizador autopropelido marca John Deere modelo 4730. Dois cronômetros foram usados para marcar os tempos de deslocamento do pulverizador aplicando no talhão, manobras e reabastecimentos. Um aparelho receptor de GPS marca Garmin, modelo Vista foi colocado na cabine da máquina para marcação de rotas com intervalo de tempo de 10 s, onde ficou armazenada sua localização, velocidade e outras informações. O pulverizador era regulado e também era realizada a limpeza no final do dia anterior, para evitar perdas da jornada de trabalho.

O defensivo agrícola utilizado foi Difenoconazol (Score), um fungicida sistêmico do grupo químico triazol. A água utilizada para calda foi de um reservatório com capacidade de 10 mil L. Com auxílio de uma bomba elétrica com vazão de 470 L/min abastecia-se o reservatório do pulverizador e anotava-se o tempo de abastecimento na planilha.

O trabalho de pulverização foi iniciado no talhão 29, que fica próximo a área da sede com uma distância média de 200 m. Na aplicação do talhão 29, foram realizados quatro reabastecimentos do reservatório de calda no local próximo da sede.

Logo após a aplicação no talhão 29, o pulverizador se deslocou para o talhão 38 e o reservatório foi reabastecido em um segundo local “carreador” ao lado da área cultivada. Nesse ponto estava a carreta pipa com água, tracionada por trator Massey Ferguson modelo 275, onde foi acoplado a TDP do mesmo uma bomba de vazão 330 L/min, para impulsionar o líquido pelas mangueiras até o reservatório do pulverizador.

Aconteceram três reabastecimentos do pulverizador para a aplicação no talhão 38, ao final da operação na área, foi finalizado o trabalho.

De posse dos dados coletados em campo foram utilizadas equações como parâmetro para o desempenho operacional analisado. Os dados analisados foram a capacidade de campo efetiva (CcE) e capacidade de campo operacional (CcO) para chegar ao rendimento de campo efetivo (RcE), como pode ser visto no box com as equações.

Os dados coletados em campo foram descarregados e trabalhados por meio de planilha eletrônica onde foi calculada a capacidade efetiva e operacional de cada talhão, a eficiência de campo, como também para logística de pulverização.

Foram descarregados os dados do aparelho receptor de GPS Marca Garmin Vista pelo software GPS TrackMaker onde foram adquiridas informações como comprimento de cada amostra, velocidade em cada ponto, localização geográfica, tempos das atividades.

Toda a área de interesse do trabalho foi detalhada e representada para o estudo com os dados trabalhados no TrackMaker. Foi possível, através de uma ferramenta no software, visualizar a área no Google Earth. Esse processo ajudou na interpretação das informações e serviu de parâmetro para análise.

Na Figura 1 está identificado com azul escuro os pontos onde o pulverizador aplicou nos talhões. Em cor mais clara é o deslocamento da máquina quando não estava aplicando, seja indo ou voltando do local de reabastecimento, ou de deslocamento improdutivo. Foram também marcados pontos de importância na área, como por exemplo, o ponto final de trabalho e o de abastecimento.

Figura 1 - Mapa da atividade de pulverização
Figura 1 - Mapa da atividade de pulverização

Os valores obtidos dos tempos máquina e capacidade operacional, foram coletados na jornada de trabalho da fazenda, no qual a temperatura, umidade relativa e vento estavam em condições ideais para pulverização.

Tempo de Interrupção (TI)

No tempo onde a máquina teve a sua aplicação interrompida por algum fator do trabalho, cada tipo de interrupção nos talhões é representado a seguir (Figuras 2 e 3).

Figura 2 – As divisões do tempo de interrupção no talhão 29.
Figura 2 – As divisões do tempo de interrupção no talhão 29.
Figura 3 – As divisões do tempo de Interrupção no talhão 38.
Figura 3 – As divisões do tempo de Interrupção no talhão 38.

O tempo de deslocamento do pulverizador, que é o tempo improdutivo da máquina indo para o reabastecimento e voltando para área de aplicação, foi maior no talhão 29 e acrescentou 37% no tempo de interrupção (Figura 2), evidenciando que o pulverizador percorreu maior distância para o reabastecimento, comparado com o talhão 38. 

O tempo de reabastecimento do tanque de mistura do pulverizador foi o que mais acrescentou ao tempo total de interrupção nos dois talhões, sendo o de maior valor no talhão 38, com 59% (Figura 3). 

Podemos observar que no talhão 29 onde ocorreram quatro reabastecimentos, o tempo de enchimento do reservatório foi menor, porque foi realizado com auxílio de uma bomba elétrica de maior vazão, e no talhão 38 onde ocorreram três reabastecimentos os tempos foram maiores (Figura 4), pois eram realizados com uma bomba de menor vazão. 

Figura 4 – Tempos de reabastecimento do reservatório do pulverizador
Figura 4 – Tempos de reabastecimento do reservatório do pulverizador

Se fosse possível ter a vazão do primeiro local de reabastecimento (470 L/min) para o segundo talhão da lavoura, o tempo total de reabastecimento diminuiria de 0,45 h para 0,32 h, ocasionando em um menor tempo de interrupção e melhorando a capacidade operacional.

Para uma representação geral do estudo, foi feita a média nos dois talhões para os tempos de interrupções (Figura 5).

O tempo de reabastecimento correspondeu ao maior percentual dos tempos de interrupção com 53%, podendo este ser melhorado com o aumento da vazão da bomba de enchimento do reservatório de calda. O tempo de virada ou manobra correspondeu ao menor tempo de interrupção, justificado por serem áreas planas e de formato regular.

Figura 5 – Tempo de Interrupção médio.
Figura 5 – Tempo de Interrupção médio.

TEMPO MÁQUINA (TM)

 As Figuras 6 e 7 demonstram a composição do tempo máquina, o tempo de produção nos dois talhões foi o que mais contribuiu para o tempo máquina, sendo que no talhão 29 (Figura 6) ele representa maior porcentagem de participação, 68% no tempo total de 3,62 h ou tempo máquina.

Figura 6 – Tempo máquina no talhão 29.
Figura 6 – Tempo máquina no talhão 29.

O tempo máquina no talhão 38 (Figura 7) evidenciou que o tempo de interrupção neste talhão contribuiu com um percentual maior, com interferência dos fatores comentados anteriormente, como o tempo de abastecimento, que foi responsável também por esse aumento.

Figura 7 – Tempo máquina no talhão 38.
Figura 7 – Tempo máquina no talhão 38.

Nas Figuras 8 e 9 observamos que o tempo de preparo (Tpe) foi muito próximo para ambos os talhões, pois representou apenas o tempo de abastecimento do tanque de combustível no início do dia.

Figura 8 – Tempo máquina médio.
Figura 8 – Tempo máquina médio.

SIMULAÇÃO

Com os dados obtidos em campo, foi calculado a capacidade de campo efetiva e operacional de cada talhão, o rendimento dos mesmos para os dois métodos de cálculo de capacidade de campo operacional e feito uma média entre os talhões 29 e 38 com as vazões de bomba de 470 e 330 L/min e simulado com os dados do talhão 29 e 38 com uma bomba de reabastecimento com vazão de 1100 L/min (Tabela 1).

No mercado nacional existem opções de bomba para reabastecimento do reservatório do pulverizador com capacidade de vazão de até 1100 L/min. A vazão mais elevada reduz o tempo de interrupção do pulverizador impactando diretamente na capacidade de campo operacional e no rendimento. Muitas vezes o produtor rural fica preocupado em aumentar o tamanho da barra de pulverização, diminuir o volume de calda e aumentar a velocidade mais se esquece do detalhe da bomba de reabastecimento do reservatório.

Com a simulação do aumento da vazão da bomba de reabastecimento, a capacidade operacional média aumentou em 4,91 ha/h e obteve um aumento de 10% no rendimento operacional efetivo médio.

CONCLUSÕES

O tempo gasto para o reabastecimento do reservatório do pulverizador, seguido do tempo de deslocamento para reabastecimento, representaram uma alta influência no tempo de interrupção da aplicação, sendo os mais impactantes.

A vazão da bomba de reabastecimento do reservatório do pulverizador foi o que mais influenciou na capacidade operacional, sendo indicado optar por bombas de vazão elevada.

BOX 1

Equações utilizadas para calcular o rendimento de campo efetivo

 A capacidade de campo efetiva (CcE) é a capacidade efetivamente demonstrada pela máquina. O tempo de produção é o tempo no qual a máquina efetivamente foi utilizada na operação. Para o cálculo da capacidade de campo efetiva (ha/h) foi usada à equação 1.

A capacidade de campo operacional (CcO) é a capacidade da máquina observada em condições reais de operação, onde se levam em conta todos os efeitos dos fatores operacionais.

A capacidade de campo operacional (ha/h) foi calculada de acordo com a equação 2.

O tempo máquina (TM), (equação 3) é constituído pelo tempo de preparo, tempo de interrupção e tempo de produção. Nesta equação TPe (tempo de preparo) é o tempo consumido no preparo da máquina para entrar em operação e para deixá-la em condições de ser armazenada no galpão após a operação. TI (tempo de interrupção) é aquele gasto em interrupções decorrentes do próprio trabalho da máquina quando em operação em campo, TPr (tempo de produção) é aquele efetivamente foi consumido no trabalho para o qual a máquina foi projetada.

O tempo de interrupção (TI) (equação 4) é representado por tempo de reabastecimento, tempo de deslocamento e tempo de virada. Neste caso o Tr (tempo de reabastecimento) refere-se ao tempo utilizado para o reabastecimento do reservatório do pulverizador, o Td (tempo de deslocamento) é representado pelo tempo no qual a máquina se desloca, indo para o ponto de abastecimento ou vindo deste ponto até o ponto de retoma do trabalho interrompido e o Tv (tempo de virada) representa o tempo gasto em virada na cabeceira de cada faixa de aplicação.

A capacidade de campo operacional representa uma fração da capacidade efetiva, portanto, ela é sempre menor, uma vez que considera todas as interrupções durante a operação. Essa relação foi calculada através do rendimento de campo efetivo (%) e está na equação 5.

Equações
Equações

Thiago Martins Machado, Danilo Gonçalves Batista Queiroz, UFMT; Étore Francisco Reynaldo, Monsanto

Artigo publicado na edição 182 da Cultivar Máquinas, mês março, ano 2018.

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