Fungo "Sclerotinia sclerotiorum" em girassol

Por Marcos Lenz e Jayne Deboni da Veiga, Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS

20.07.2023 | 16:44 (UTC -3)

O girassol (Helianthus annuus) é uma planta anual, pertencente à família Asteraceae, e cultivada com o objetivo de produção de óleo e frutos comestíveis. Características como maior tolerância à seca, adaptabilidade a diversas condições de latitude, longitude e fotoperíodo, menor incidência de doenças e pragas e ciclagem de nutrientes, principalmente o potássio, são fatores que favorecem sua expansão, com destaque na região Centro-Oeste após a colheita da cultura da soja.

O girassol é uma opção na rotação e sucessão de culturas nas regiões produtoras de grãos. Apesar de a cultura ser rústica, uma doença fúngica mostra-se preocupante, ganhando destaque devido ao significativo dano à produtividade da cultura, conhecida como podridão branca, causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum. É considerado o patógeno mais importante na cultura do girassol no mundo, devido à sua capacidade de causar danos, à permanência na área e por encontrar-se disseminado em todas as regiões produtoras, sejam elas temperadas, tropicais ou subtropicais. Em decorrência das condições climáticas nas regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil, a possibilidade de epidemias é alarmante e merece atenção.

A doença possui fase parasitária e saprofítica. A fase parasitária ocorre apenas nas plantas hospedeiras, sendo favorecida por alta umidade do solo e temperaturas em torno de 25°C a 35°C. Na fase saprofítica, o fungo sobrevive nos restos culturais e na matéria orgânica presente no solo até encontrar uma nova planta hospedeira. É um fungo polífago, o que significa que pode sobreviver em inúmeras plantas, podendo chegar a até 408 espécies.

O fungo apresenta reprodução sexual e assexual. Na forma assexual, ocorre a germinação miceliogênica, que dá origem ao micélio e aos escleródios. As hifas formam um micélio abundante, cotonoso e solto com aspecto de algodão. Como estratégia de sobrevivência, ocorre a formação de estruturas denominadas de escleródios, que finalizam o ciclo de vida do patógeno. No início de seu desenvolvimento apresentam-se com tamanho reduzido e coloração branca. No decorrer de seu processo de formação adquirem coloração preta e formato esférico ou irregular. Esse mecanismo é um entrave para o produtor, pois permite que o fungo sobreviva na área sob condições desfavoráveis por até dez anos. O micélio é incapaz de produzir esporos, dessa forma a disseminação ocorre por meio de escleródios, plantas contaminadas e sementes. As hifas penetram na planta através de superfície intacta, ferimentos e aberturas naturais, como estômatos e hidatódios.

Na reprodução sexual, ocorre a germinação carpogênica, resultando na produção de apotécios. Os escleródios, ao localizarem-se na parte superficial do solo e encontrar condições favoráveis, germinarão e originarão os apotécios. Seu surgimento é favorecido por condições de solo úmido durante um longo período e incidência solar. Em sua superfície, são produzidos ascósporos, que ao encontrar temperaturas em torno de 3°C a 22°C são disseminados a longas distâncias por meio do vento. A disseminação é passiva, devido a ocorrer por meio de mudas, sementes, solo (aração e gradagem) e água (enxurrada ou respingos). Ao encontrar o hospedeiro, ocorre o início da infecção, ocasionando a podridão da haste e do capítulo. Como apresentam alta variabilidade genética, acabam por gerar novas raças, cada vez mais persistentes na lavoura. Os ascósporos necessitam chegar até as flores, onde a penetração ocorre através das pétalas, assim o período crítico de infecção encontra-se entre a emissão das primeiras flores até sua ausência.

Os tecidos infectados são colonizados por meio da ação de substâncias químicas produzidas pelo patógeno do tipo ácidos orgânicos, toxinas e enzimas. As células da planta que se encontram próximas ao ponto de penetração do fungo são mortas pelas estruturas do fungo. À medida que o tecido vai sendo decomposto, o micélio cresce em sua superfície, ocorrendo a colonização das hifas inter e intracelularmente, onde, sob condições de alta umidade e temperatura, favorecerá a reprodução do patógeno, formando estruturas reprodutivas e posteriormente os escleródios, que darão origem aos sinais do patógeno sobre a planta.

Na cultura do girassol, o mofo branco pode causar três sintomas que diferem de acordo com o órgão da planta infectada, denominados de podridão basal, podridão na parte mediana da haste e podridão do capítulo. A podridão basal pode ocorrer desde o estádio de plântula até a maturação. Quando a infecção ocorre em plântulas ocasionará o tombamento, diminuindo o estande de plantas. Na maturação, ocorre murcha súbita, sem apresentar lesões, com a evolução da doença ocorre o aparecimento de uma lesão de coloração marrom-claro, mole e encharcada, que se localiza na haste. Se houver presença de umidade, tende a ocorrer o desenvolvimento de um micélio branco e posterior formação de escleródios (enovelamento das hifas). Já a podridão na parte mediana da haste ocorre em todos os estádios da cultura, apresentando sintomas em folhas, pecíolos e metade superior da haste.

Diferindo dos demais sintomas, a podridão do capítulo ocorre no final da floração ou mais tarde. Inicialmente, os sintomas são caracterizados por lesões escuras e encharcadas localizadas no lado dorsal do capítulo, ocorrendo a formação de um micélio branco que recobre o tecido. Com a colonização, ocorre a formação de escleródios no interior do órgão da planta, onde o fungo é capaz de destruir o interior do capítulo, resultando em sua total desintegração e posterior queda.

O controle da doença é um grande desafio para o produtor, devido à capacidade das suas estruturas de resistência sobreviverem no solo e à sua ampla gama de hospedeiros. Os escleródios apresentam-se viáveis por anos, podendo ser carregados juntamente aos grãos colhidos, partículas de solo e partes infectadas da planta. Com isso, a adoção conjunta do controle cultural, químico e biológico é essencial para diminuir a incidência da doença.

O controle químico mostra-se como uma das principais medidas do manejo integrado da doença, no entanto a sua eficiência depende diretamente das condições climáticas. Preferencialmente os fungicidas devem ser aplicados de forma preventiva, ou seja, antes do início da infecção no período em que o hospedeiro se apresenta suscetível, ou melhor, desde o início do florescimento até a maturação. É necessário realizar a alternância dos princípios ativos utilizados na área, para que assim ocorra a redução da pressão de seleção sobre o fungo, retardando o surgimento de cepas resistentes. O tratamento químico de sementes, tanto industrial como “on farm” pode colaborar com a proteção da plântula, impedindo que as estruturas fúngicas fixem-se na superfície das sementes.

A solarização, que nada mais é que o emprego do polietileno transparente sobre a superfície do solo, é uma boa alternativa para diminuir a população do fungo causador da doença e de outros patógenos que afetam a produtividade. Essa prática é inviável no cultivo do girassol, devido à extensão das áreas cultivadas. No entanto, em culturas que são implantadas em menor escala apresenta-se como uma ótima opção, principalmente no cultivo do tomate.

O controle cultural é a melhor opção para o agricultor devido à sua viabilidade econômica. O uso de sementes certificadas é o principal meio para evitar a entrada da doença na área, pois apresenta-se como o mais importante veículo de disseminação do mofo branco. Durante a colheita, os escleródios encontram-se junto às sementes, ou até mesmo o micélio colonizando seus tecidos internos, sobrevivendo através de seu metabolismo lento. Outra opção que se mostra eficiente no controle é a eliminação dos restos culturais na área, no entanto essa prática não atende aos requisitos de práticas conservacionistas do solo.

A escolha de cultivares que possuem o porte mais ereto e a realização da semeadura com o espaçamento entre linhas maior dificultam o desenvolvimento do patógeno no hospedeiro. Caso a área de implantação da cultura se localize em um local de clima seco, o uso da irrigação ou até mesmo a utilização de um menor espaçamento proporcionará a formação de um microclima favorável ao desenvolvimento da doença. Destaca-se que cultivares de porte mais ereto promovem melhor aeração e dificultam o estabelecimento do patógeno. A manifestação do patógeno também é influenciada pela época de plantio, devido ao S. sclerotiorum ter preferência por climas mais amenos e com alta umidade, com isso, deve ser evitado o plantio durante o período de ocorrência das chuvas. Como metodologia de controle, mostram-se como opções a rotação de culturas com plantas não hospedeiras, o uso de cobertura do solo com palhada de gramíneas, o revolvimento do solo, a limpeza dos equipamentos, o controle químico e o controle biológico, que deve ser realizado de forma preventiva.

É importante pontuar a capacidade que este fungo possui em persistir no solo por um grande período, tanto quando submetido a condições favoráveis como desfavoráveis, por intermédio da formação de estruturas de resistência, tornando-se parte da microbiota do solo. O acompanhamento da área é essencial, devido à intensidade da ocorrência do patógeno nas lavouras, apresentando-se também como um risco para diversas culturas, como soja, canola e feijão. Vale ressaltar que a opção mais eficiente para o agricultor é a adoção conjunta de medidas preventivas, aderindo aos controles cultural, químico e biológico, para que se evite a entrada do fungo na área e as condições para a sua proliferação.

Por Marcos Lenz e Jayne Deboni da Veiga, Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS

Artigo publicado na edição 283 da revista Cultivar Grandes Culturas

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