Nematoide-das-galhas torna-se problema em lavouras de arroz irrigado

Por Jaime V. Oliveira, Rogerio B. Cantarelli, Débora Favero Neiva Knaak, Abílio N. Dória, Tailor P. Perufo, Rudineli R. Carvalho e Matheus S. Corrêa; Instituto Rio-grandense do Arroz

07.07.2023 | 17:27 (UTC -3)

Nos anos 1980, a espécie de nematoide Meloidogyne graminicola era considerada prejudicial em terras altas. Entretanto, nas condições de lavouras irrigadas, não preocupava, embora estudos mostrassem sua sobrevivência nessas áreas.

Porém, na última safra, foram acompanhadas lavouras de arroz irrigado com danos do nematoide-das-galhas (Meloidogyne spp). Em todas as regiões orizícolas do estado do Rio Grande do Sul foram encontradas, na safra 2021/22, áreas atacadas pelo nematoide. Em várias dessas áreas, foram coletadas amostras de plantas com as raízes e enviadas para análise e identificação. Os resultados mostram tratar-se da espécie M. graminicola. Essa espécie de nematoide tem preocupado devido ao aumento da população, ao maior número de lavouras irrigadas atacadas, à magnitude dos danos causados e à pouca informação sobre o seu comportamento.

Ocorrência, identificação e sintomas

O nematoide geralmente ocorre em partes da lavoura (reboleiras) e não de maneira uniforme, porém, nas últimas safras tem aumentado as áreas afetadas com a doença nas lavouras do Rio Grande do Sul. A sua disseminação é maior nas áreas ainda não irrigadas, visto que antes da irrigação há maior ataque ao sistema radicular das plantas, sendo a reprodução menor após a entrada da água.

Uma característica para a identificação do Meloidogyne é a presença de galhas, algumas com o aspecto de gancho ou cabo de guarda-chuva. As galhas das pontas das raízes podem afetar o desenvolvimento das plantas pela diminuição da absorção de água e nutrientes. Ocorre, consequentemente, estresse hídrico e nutritivo, provocando os sintomas observados na parte aérea das plantas, como folhas amareladas, plantas com menor estatura e atraso no florescimento.

Como a doença tem alto fator de reprodução, a infecção inicial das plantas é preocupante, pois nesse período as raízes são pequenas e mais facilmente afetadas. Como o efeito nas raízes não é visível, quando são observados sintomas na parte aérea das plantas, o dano já ocorreu.

Monitoramento dos nematoides

A realização de amostragens, nas áreas das lavouras que têm apresentado os sintomas da ocorrência do nematoide, é muito importante. O número de amostras coletadas auxilia na determinação da doença, pois, quanto mais áreas monitoradas, mais fácil será identificar as partes da lavoura atacadas.

Por isso, recomenda-se a coleta de 20 ou mais amostras, principalmente nas áreas com sintomas de plantas amareladas e com menor estatura. As avaliações são realizadas arrancando-se as plantas com parte aérea e raízes. As plantas podem ser colocadas em um balde com água ou na própria lâmina de água de irrigação e agitadas. O solo desprende-se das raízes e, então, será possível identificar as galhas.

Os técnicos do Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga) e demais órgãos de pesquisa e universidades estão habilitados a realizar a coleta de amostras para análise ou enviá-las a um laboratório para o diagnóstico.

Estudos de danos em duas cultivares

Devido ao aumento da doença, na última safra foram realizados dois estudos pelo Irga, no município de São Gabriel (RS), em lavouras com histórico de nematoides, para determinar o comportamento das cultivares Irga 424 RI e Guri Inta-CL, ambas semeadas na densidade de 100kg/ha. Nessas lavouras foram estabelecidos dois tratamentos: 1) áreas em que as plantas tinham sintomas de ataque do nematoide e 2) área sem sintomas, com plantas normais.

Cada estudo constou de quatro repetições, sendo avaliados em cada parcela a estatura de seis plantas ao acaso e o número de grãos por panícula em dez plantas ao acaso. A produtividade de grãos foi obtida pela colheita de 2m x 2m (4m2) da área útil de cada repetição, sendo os resultados expressos em t/ha e a umidade corrigida para 13%.

Na área atacada por Meloidogyne graminicola, na lavoura com a cultivar IRGA 424 RI, houve diminuição na estatura de plantas e no número de grãos por panícula, o que causou uma redução na produtividade de grãos de 19% em comparação à área da mesma lavoura, sem o ataque do nematoide (Tabela 1). Na área atacada por nematoide na lavoura com a cultivar GURI INTA-CL, também se verificou uma diminuição na estatura de plantas e no número de grãos por panícula, reduzindo a produtividade de grãos em 26%, em relação a uma área da mesma lavoura sem a ocorrência da doença (Tabela 2).

Nessas áreas das lavouras atacadas pelo nematoide foram observados os sintomas típicos, como presença de plantas amareladas e com formação de galhas nas raízes. Segundo Aita et al. (2019), a perda de coloração nas folhas pode ser ocasionada por uma menor absorção de nutrientes, resultando em menores taxas fotossintéticas.

O arroz pode sofrer perdas na produtividade de grãos que chegam a 70% em áreas atacadas pelo nematoide M. graminicola (Kyndt et al., 2014). Portanto, pelos danos causados e a disseminação do nematoide em todas as regiões orizícolas, atacando um maior número de lavouras, esse aumento da doença causa preocupação.

Medidas importantes no controle

Com o aumento das áreas atacadas por esse nematoide, é necessário adotar medidas para auxiliar na redução da população, tais como:

• Antecipar a irrigação: a entrada da água na lavoura é muito importante. Com a antecipação da irrigação, a disseminação da doença será reduzida, um número menor de plantas será infectado, ocorrendo redução na população do nematoide.

• Rotação de culturas: como a soja é atacada principalmente pela espécie M. javanica, diferentemente da cultura do arroz irrigado, onde ocorre, sobretudo, a espécie M. graminicola, a rotação entre essas culturas auxilia na redução da população do nematoide que ataca o arroz irrigado.

• Utilização de nematicidas: existem vários nematicidas com registro para o controle desse nematoide. Esses produtos são aplicados através do tratamento de sementes. Os produtos biológicos Bacillus amyloliquefaciens e B. firmus apresentam um bom controle. A dose empregada é importante na eficiência. Produtos aplicados em pulverização após a irrigação apresentam baixo controle, visto que o nematoide já colonizou as raízes.

Por Jaime V. Oliveira, Rogerio B. Cantarelli, Débora Favero Neiva Knaak, Abílio N. Dória, Tailor P. Perufo, Rudineli R. Carvalho e Matheus S. Corrêa; Instituto Rio-grandense do Arroz

Artigo publicado na revista Cultivar Grandes Culturas 281

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