Uso de nitrogênio via água de irrigação em sistema de pivô central pode trazer vários benefícios aos canaviais. Aumento da produtividade e melhorias nos índices de qualidade da matéria prima se destacam
02.05.2022 | 14:33 (UTC -3)
O uso de nitrogênio via
água de irrigação em sistema de pivô central pode trazer vários benefícios aos
canaviais. Aumento da produtividade e melhorias nos índices de qualidade da
matéria prima se destacam. Seu uso, no entanto, precisa ocorrer de forma
racional, com atenção a aspectos sociais e ecológicos da região, ao mesmo tempo
em que ajude a tornar mais lucrativa a atividade.
A
cultura da cana-de-açúcar é bastante exigente quanto à nutrição. O nitrogênio
(N) é requerido em grandes quantidades para a produção de biomassa. Em média
1,4 kg de N por tonelada de colmo produzido. É dentre os nutrientes minerais
aplicados para a produção de cana-de-açúcar no Brasil o mais caro, e as
quantidades adubadas de N fertilizante geralmente são iguais ou menores que as
exportadas pelos colmos. A sua deficiência causa redução na síntese de
clorofila, de aminoácidos essenciais e da energia necessária à produção de
carboidratos e esqueletos carbônicos, refletindo diretamente no desenvolvimento
e rendimento da cultura.
A fertirrigação é uma técnica que tem
por objetivo a aplicação de fertilizantes em estado líquido, juntamente com a
água de irrigação, otimizando o sistema de irrigação, que na maioria das vezes
possui um custo elevado. Essa operação é de grande utilidade para as plantas,
pois o fertilizante é fornecido com a água que está sendo aplicada ao solo
(essencial para sua absorção). Apresenta ainda muitas outras vantagens, como a
melhor distribuição do fertilizante no campo, redução dos custos, diminuição da
compactação do solo, maior flexibilidade de aplicação, possibilidade de
aplicação em épocas críticas e redução de danos mecânicos à cultura.
O uso da fertirrigação possui, de modo
geral, a característica de melhorar a eficiência no uso dos nutrientes, por
serem aplicados de maneira fracionada, conforme a marcha de absorção de nutrientes
da cultura. A aplicação de fertilizantes via água de irrigação deve seguir as
recomendações de período de aplicação, frequência, doses e fontes assegurando,
dessa maneira, uma adequada oferta de água e nutrientes na zona radicular da
planta.
Trabalhando com a hipótese de que a
fonte e a oferta de nitrogênio via água de irrigação influenciam o cultivo da
cana-de-açúcar na região do Cerrado, foi
realizado estudo para avaliar a produtividade, qualidade e rendimento da
cana-de-açúcar irrigada submetida a diferentes doses de fertirrigação
nitrogenada via sistema de pivô central no ciclo de cana-planta em um latossolo
vermelho distrófico argiloso, fase cerrado.
O experimento
O experimento
foi conduzido em condições de campo, em área da fazenda Rio Paraiso II
pertencente à Usina Raízen, no município de Jataí, Goiás. As coordenadas
geográficas do local são 17°44'2.62"S e 51°39'6.06"O, com altitude
média de 907 m. Segundo a classificação de Köppen & Geiger (1928), o clima
do local é do tipo Aw, tropical, com chuva nos meses de outubro a abril, e seca
nos meses de maio a setembro. A temperatura
máxima oscila de 35ºC a 37ºC, e a mínima de 12ºC a 15 ºC (no inverno há
ocorrências de até 5º graus). A precipitação
anual chega a 1.800 mm aproximadamente, porém mal distribuídas ao longo
do ano. O solo da área
experimental é classificado como Latossolo Vermelho distrófico, muito argiloso.
O delineamento experimental utilizado
foi o de blocos ao acaso. Os fatores avaliados constituíram de quatro doses de
N aplicados via fertirrigação (0 kg/ ha, 60 kg ha, 120
kg ha e
180 kg ha), parcelada em quatro aplicações mensais a partir dos 60 dias após o
plantio.
Todos os
tratamentos foram adubados no sulco de plantio com fósforo P2O5
(100 kg/ ha) na forma de superfosfato triplo, potássio K2O (80
kg/ha) na forma de cloreto de potássio, e micronutrientes, conforme resultados
das análises de solo e recomendação.
O preparo do solo foi realizado pelo
sistema convencional, por meio de aração e gradagem, seguido de abertura dos
sulcos de plantio mecanizado. A variedade implantada no experimento foi a
IACSP95-5000, nas condições de cana-planta, plantada em 05/08/2014. Os tratos
culturais referentes ao uso de herbicidas, inseticidas, fungicidas e demais
produtos relacionados com o controle de plantas invasoras, pragas e doenças
foram utilizados conforme a necessidade e avaliação de infestação, e de acordo
com as práticas adotadas pela Usina Raízen.
A irrigação e fertirrigação foi
realizada por um pivô central marca ZIMMATIC, modelo PC 08-64/03-647/01-646/L4
+ AC, em aço galvanizado, baixa pressão, com 12 torres de sustentação, com uma
área total irrigada de 139,31 hectares, velocidade de 268 m/ h na última torre,
aplica uma lâmina bruta mínima para uma volta a 100% de 1,35 mm. A tubulação
adutora possui 800m de comprimento, com diâmetro de 162,2 mm feito em PVC de
150/60. Pressurizado por uma bomba simples IMBIL modelo ITA 100-400, com vazão
prevista de 128,99 m3 h, e pressão prevista de 63,90 mca, rotação de
1750 rpm e potência do motor de 47,49 CV. Para realização da fertirrigação foi
utilizado um sistema acoplado ao pivô contendo duas caixas reservatório para
diluição do fertilizante e um sistema de bombeamento para injeção do
fertilizante diluído no pivô central. Foi empregada uma lâmina de 3 mm no
momento da fertirrigação.
A
colheita foi realizada em 25/08/2015. A produtividade de colmo foi determinada
através da pesagem total dos colmos presentes nas respectivas parcelas,
quantificado o peso dos colmos, cujo valor foi extrapolado para t/ ha. Os parâmetros
de qualidade da cana foram determinados no laboratório da própria usina. Os
valores de rendimento industrial foram calculados com base nos parâmetros de
qualidade e de produtividade de colmos. Os resultados foram submetidos à
análise da variância pelo teste F ao nível de 5% de probabilidade, e em casos
de significância, foi realizado análise de regressão para os níveis de fertirrigação
nitrogenada, utilizando-se o software
estatístico SISVAR.
Resultados e discussão
A produtividade de colmos (PC) aumentou linearmente
40,22% em função da fertirrigação nitrogenada, chegando a uma produtividade
máxima de 142,55 t/ ha na dose de 180 kg/ ha de N, sendo que cada 1 kg/ ha de N
promoveu um acréscimo de 0,7919 t/ ha na PC (Figura 1A). Os açúcares totais
recuperáveis (ATR) apresentaram incremento de 5,16%, devido a fertirrigação nitrogenada
via água de irrigação, com um valor de ATR de 140,77 kg/ t na dose de 180 kg/
ha de N, sendo que cada 1 kg/ ha de N promoveu incremento de 0,7820 kg/ t no
ATR (Figura 1B). O rendimento bruto de açúcar (RBAÇ) aumentou linearmente
43,31% em função da fertirrigação nitrogenada via água de irrigação, de tal
modo que na dose de 180 kg/ ha de N alcançou um rendimento de 20,32 t /ha,
sendo que cada 1 kg/ ha de N proporcionou aumento de 0,1129 t /ha no RBAÇ
(Figura 1C). O rendimento bruto de álcool (RBAL) apresentou acréscimos de
43,20% em função da fertirrigação nitrogenada via água de irrigação, atingindo
14,50 m3 ha na dose de 180 kg/ ha de N, sendo que cada 1 kg /ha de N
propiciou aumento de 0,0805 m3 ha no RBAL (Figura 1D). A
fertirrigação nitrogenada promoveu incrementos significativo em todos as variáveis
produtivas analisadas.
No Brasil, experimentos realizados em
condições de campo, com aplicação de uréia sobre palhada de cana, têm mostrado
perdas por volatilização de amônia (NH3) que podem atingir 20% a
40%, ou mais, do N aplicado. Dados semelhantes têm sido relatados em outras
regiões produtoras de cana do mundo. O uso da fertirrigação mitiga o problema
das perdas gasosas de NH3 e pode contribuir para aumentar a
eficiência de uso da água e do N do fertilizante. A fertirrigação, além de aumentar a produtividade da
cana-de-açúcar, promove melhorias nos índices de qualidade da matéria-prima. Essa
pratica ainda é pouco difundida, porém seus benefícios para a cultura são
vários. No entanto, a aplicação de nutrientes via água de irrigação nas
culturas deve ser manejada de forma racional, considerando os aspectos sociais
e ecológicos da região, procurando maximizar a produtividade e a eficiência de
uso do nutriente e minimizar os custos, quer de mão de obra, quer de capital,
de forma a tornar lucrativa a atividade. Deve-se fazer fertirrigação com o
objetivo de aumentar o lucro e a produtividade, em quantidade e em qualidade.
Box – A cana-de-açúcar
A cana-de-açúcar
(Saccharum officinarum L.) é cultivada no Brasil desde o século XVI e
expandiu-se no país, sendo utilizada na produção de açúcar para o consumo
interno e exportação, gerando divisas para o país, e adquiriu grande
importância econômica, devido à grande demanda por bioenergia, produção de
combustível limpo e renovável, substituindo os combustíveis derivados do
petróleo. O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar e seus
derivados, açúcar e álcool, favorecido por sua extensa área e pelo clima
propicio à produção vegetal durante todo o ano.
A área colhida de
cana-de-açúcar destinada à atividade sucroalcooleira na safra 2015/16 foi de
8.654,2 mil hectares. São Paulo, maior produtor, possui 52% (4.498,3 mil
hectares), seguido por Goiás com 10,4% (885,8 mil hectares), Minas Gerais com
10,1% (866,5 mil hectares), Mato Grosso do Sul com 7% (596,8 mil hectares),
Paraná com 6% (515,7 mil hectares), Alagoas com 3,7% (323,6 mil hectares),
Pernambuco com 3% (254,2 mil hectares) e Mato Grosso com 2,7% (232,8 mil
hectares). Estes oito estados são responsáveis por 94,9% da produção nacional.
Os outros 14 estados produtores possuem áreas menores que 1% da área total do
país, totalizando 5,1% da área total do país.
O crescimento do cultivo
da cultura da cana-de-açúcar na região centro-oeste vem elevando-se não apenas
devido a ampliação das áreas agrícolas, mas também pelo aumento da
produtividade, porém, é de fundamental importância a aplicação de novas
técnicas para a otimização do setor, no que diz respeito a evolução
tecnológica, de forma a proporcionar contínua elevação dos índices de
produtividade por área, uma vez que a cultura possui grande potencial
produtivo.
Artigo publicado na edição 220 da Cultivar Grandes Culturas, mês setembro, ano 2017.
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