Escolha do aspersor nos sistemas de irrigação por aspersão

Por Juciano Gabriel da Silva, Laura Dias Ferreira, Miguel Chaiben Neto, Jhosefe Brunning, Yesica Ramirez Flores, Silvana Antunes Rodrigues, Ricardo Boscaini, Marcia Xavier Peiter e Adroaldo Dias Robaina, do Laboratório de Engenharia de Irrigação, da Universidade Federal de Santa Maria

02.01.2024 | 17:44 (UTC -3)

A prática da irrigação na agricultura é fundamental para o desenvolvimento das culturas agrícolas, onde a quantidade ou a distribuição espaço-temporal das chuvas não suprem as necessidades hídricas. A má distribuição das precipitações, contribui para o crescimento da agricultura irrigada no Brasil. Atualmente o território brasileiro apresenta 8,2 milhões de hectares equipados com irrigação e com potencial de expansão em mais 4,2 milhões de hectares até 2040. Embora o progresso desta atividade corrobora para o incremento do uso de água potável, muitas vantagens são apreciadas, entre elas, o aumento da produtividade e a melhoria da qualidade dos produtos. Entretanto, para garantir que o sistema de irrigação proporcione melhorias na produção agrícola, é necessário que o dimensionamento seja realizado adequadamente. 

A irrigação por aspersão é o método que melhor simula a chuva. A água é bombeada a partir de uma fonte, distribuída por uma rede de tubulações e aspergida ou pulverizada no ar na forma de gotas. Os sistemas de irrigação por aspersão utilizados são:  microaspersão, aspersão convencional (Figura 1), mecanizado do tipo pivô (Figura 2), e canhão hidráulico. Vale ressaltar que, cada um destes sistemas mencionados, apresentam componentes com características específicas de acordo com a sua aplicabilidade.

Figura 1: representação dos sistemas convencionais do tipo aspersão convencional
Figura 1: representação dos sistemas convencionais do tipo aspersão convencional
Figura 2: representação dos sistemas mecanizado do tipo pivô
Figura 2: representação dos sistemas mecanizado do tipo pivô

Na elaboração do projeto hidráulico em sistemas de irrigação por aspersão, os aspersores são componentes importantes, responsáveis pela distribuição da água na área a ser irrigada. Existem diversos tipos de aspersores comercialmente disponíveis que se diferem em vários aspectos técnicos, onde as informações podem ser encontradas por meio de catálogos elaborados pelos fabricantes (Figura 3), onde o projetista, produtor ou técnico, obtém todas as informações necessárias. 

Figura 3: representação de catálogo técnico elaborado pelo fabricante de aspersores
Figura 3: representação de catálogo técnico elaborado pelo fabricante de aspersores

O aspersor é um componente que possui diferentes formas, aplicações e desempenho, podendo ser classificado de acordo com o: 

  • Funcionamento: fixos ou rotativos (mais usual);
  • Ângulo de ação: circular completo (360º), ou setorial com molhamento ajustável (menor que 360°);
  • Ângulo de inclinação: normal (entre 25 e 30º) ou subcopa (de 6°);
  • Número de bocais: 1, 2 ou 3, com diâmetros de 2 a 30mm;
  • Pressão e alcance do jato: alta (30 - 60 m.c.a.), média (20 - 40 m.c.a) ou baixa pressão (6 - 15 m.c.a.).

Na Figura 4, é demonstrado diferentes tipos de aspersores que podem ser utilizados em sistemas de irrigação do tipo aspersão convencional.

Na Figura 5, é apresentado um modelo de aspersor utilizado em sistemas de irrigação do tipo pivô central.

Na Figura 6, é demonstrado dois modelos de aspersores utilizados em sistemas de irrigação do tipo canhão hidráulico.

Fatores que interferem na escolha do aspersor 

Para escolher o aspersor do seu sistema de irrigação, existem diversos fatores a serem considerados, como por exemplo, qualidade e quantidade de água, cultura a ser irrigada, tipo de solo, manejo da irrigação, intensidade e direção do vento, características do próprio aspersor, dentre outros. 

Outro ponto que está diretamente relacionado à escolha do aspersor é o tamanho da área, na qual é um dos primeiros aspectos a serem considerados para irrigação. Para terrenos mais extensos (acima de 10 hectares), vale a pena investir em aspersores com raio de longo alcance, já que eles demandam menos mão de obra e trazem um custo-benefício maior. Já para áreas pequenas e médias, são indicados os aspersores de porte menor. Isto pode ser analisado na Tabela 1.

Tabela 1: tamanho da área a ser irrigada em relação ao raio de alcance e tamanho dos aspersores
Tabela 1: tamanho da área a ser irrigada em relação ao raio de alcance e tamanho dos aspersores

A retenção de água no solo é outro fator considerável na escolha do aspersor, sendo fundamental ter uma análise prévia do nível de retenção de água no solo. Ela é determinada através da coleta de amostras que podem ser analisadas a campo ou em laboratório, por meio do cálculo de porcentagem de água no solo.

A partir dessas características, é importante ter conhecimento sobre a intensidade de aplicação de água do aspersor (Ia), valor este medido pela relação entre a vazão e o espaçamento dos aspersores no sistema.  Essa intensidade de aplicação deve ser menor ou igual a VIB, pois o inverso ocasionará escoamento superficial na lavoura. Após obter as informações sobre o valor da VIB do solo onde será instalada a irrigação, é possível determinar o melhor sistema que poderá ser utilizado, o tempo de irrigação e a sua operacionalidade. Cada solo tem a sua velocidade de infiltração, sendo esta a intensidade máxima que o solo, em determinada condição e tempo, pode absorver de água. Assim, para determinar a escolha do aspersor devemos considerar os valores da VIB de acordo com cada textura de solo conforme a Tabela 2.

Tabela 2: classificação dos solos em relação a velocidade básica de infiltração (VIB)
Tabela 2: classificação dos solos em relação a velocidade básica de infiltração (VIB)

Visando atender a demanda hídrica das plantas com máximo aproveitamento, para garantir uma boa produtividade, é necessário observar as condições e as particularidades locais. As perdas causadas pelo vento e fatores biológicos e climáticos, como a evapotranspiração das culturas, também devem ser levadas em conta na hora de escolher o aspersor.

O vento é um fator que influencia na uniformidade de distribuição de água dos aspersores (Figura 7), no espaçamento entre os aspersores e no diâmetro de cobertura. Quanto menor for o tamanho da gota d'água, mais facilmente ela será deslocada pela força do vento. A Tabela 3 apresenta as porcentagens de cobertura em função da velocidade do vento.

Figura 7: intensidade de aplicação de água do aspersor (mm. h-1) em ensaios de diferentes velocidades de ventos
Figura 7: intensidade de aplicação de água do aspersor (mm. h-1) em ensaios de diferentes velocidades de ventos
Tabela 3: influência da velocidade dos ventos no espaçamento entre os aspersores
Tabela 3: influência da velocidade dos ventos no espaçamento entre os aspersores

As características apresentadas, para quem não possui conhecimento técnico na área, podem parecer detalhes com pouca importância. Entretanto, elas interferem muito nos resultados do projeto de irrigação e merecem destaque durante sua elaboração. Pois, estas informações são responsáveis pela determinação da vazão, eficiência e uniformidade de aplicação de água, quantidade e distribuição dos aspersores na lavoura, economia de água e aumento da produtividade. 

Toda a escolha incorreta do aspersor resultará em problemas, principalmente naqueles que interferem diretamente na forma técnica e econômica no sistema produtivo. Desta forma, é importante o produtor selecionar o aspersor de maneira adequada. Para isso, é necessário buscar a recomendação de profissionais capacitados que auxiliem nos critérios técnicos que norteiam a tomada de decisão.

*Por Juciano Gabriel da Silva, Laura Dias Ferreira, Miguel Chaiben Neto, Jhosefe Brunning, Yesica Ramirez Flores, Silvana Antunes Rodrigues, Ricardo Boscaini, Marcia Xavier Peiter e Adroaldo Dias Robaina, do Laboratório de Engenharia de Irrigação, da Universidade Federal de Santa Maria

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