Controle alternativo de nematoide-das-galhas na cultura da soja
Por Marcos Lenz, Lucas Parussolo Heimerdinger, Tauani Fontani Back e Juliane Ludwig, da Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Cerro Largo
29.12.2023 | 15:19 (UTC -3)
São conhecidas mais de 100 espécies de nematoides, envolvendo cerca de 50 gêneros capazes de trazer preocupação quanto a produtividade na cultura da soja, no gênero Meloidogyne, as espécies M. incognita e M. javanica ( nematoides-das-galhas ), são as que mais trazem prejuízos no Brasil. São microorganismos extremamente pequenos presentes nos solos, quase invisíveis aos olhos humanos, mas com sintomas bem visíveis aos olhos do agricultor como o aparecimento de reboleiras nas lavouras e a queda significativa de produtividade. Nematoides do gênero Meloidogyne são chamados popularmente de nematoides-das-galhas devido a reação da planta que, em resposta ao ataque dos nematoides, formam galhas nas suas raízes, como apresentado na foto 1.
Em decorrência das galhas, a planta apresenta dificuldade na passagem de água e nutrientes pelos vasos condutores. Adicionalmente, pode ocorrer o aparecimento de folhas amareladas ou necroses entre as nervuras da folha comumente chamada de folha “carijó”, um sintoma secundário, indicando que não há circulação normal da água, como exemplificado na foto 2. A partir disso, podemos interpretar que a planta poderá sofrer murchas, desfolha, redução do tamanho da planta, redução do número de vagens e grãos.
Foto 2: A esquerda temos um folíolo de soja com sintoma secundário de necrose entre as nervuras. A direita um folíolo sadio de soja para efeito de comparação.
É importante entender que os nematoides têm deslocamento bastante limitado (durante o ano, provavelmente, não exceda 50 cm) podendo demorar até mesmo anos para ocuparem grandes áreas na propriedade. Em função disto, a presença destes organismos nem sempre preocupa os agricultores devido ao baixo potencial de progresso na infestação da lavoura, no entanto, caso não forem tomadas medidas eficientes para o seu manejo, podem acabar se tornando um sério problema, afinal estão escondidos no solo. Aliado a isso, em solos arenosos o desenvolvimento de nematoides é favorecido em relação aos solos argilosos e a explicação se dá em relação a diferença de tamanho dos poros e da capacidade de movimentação no filme de água nesses dois tipos de solo.
Em uma pesquisa de 2022, estimou-se um prejuízo causado por nematoides de cerca de R$ 27,7 bilhões, somente na cultura da soja. O uso de medidas de controle desses microrganismos acaba sendo dificultado devido ao ambiente em que se encontram, e, devemos ter em mente que é praticamente impossível erradicar todos nematoides da lavoura, mas isso não torna impossível reduzir os prejuízos que eles causam. De conhecimento dos prejuízos causados pelos nematoides e pensando especificamente na cultura da soja visando o manejo de Meloidogyne, é preciso, antes de tudo, evitar ao máximo a entrada desse nematoide na área, uma vez que os principais métodos de locomoção/infestação desses organismos são através de máquinas agrícolas e por meio da água da chuva e de irrigação.
No caso dos nematoides, ao contrário de outras doenças causadas por outros agentes, todas as medidas de controle devem ser tomadas preventivamente pois uma vez constatado o dano na cultura implantada, não é mais possível atuar sobre ela. Após verificado o problema na lavoura, recomenda-se, primeiramente, identificar o gênero e a espécie do verme ali presente através da coleta de raízes com sintomas e de amostras de solo com cerca de 200 g, em seguida, encaminhar as amostras a um laboratório de nematologia. A partir dessa identificação deverão ser planejados os novos cuidados a serem tomados na área infectada para o controle do problema.
A adoção de métodos como o controle biológico vem crescendo nos últimos anos, mostrando resultados promissores no controle de diversas doenças, além de apresentar diferenças em relação ao controle químico que vão desde a não contaminação do meio ambiente até um menor custo de aplicação. Além disso, o grande desafio da agricultura atual está em produzir de forma sustentável, buscando produtos alternativos, visando suprir as necessidades de alimentação da população em geral, produzindo mais alimentos e de melhor qualidade.
Na soja, é cada vez maior o número de agricultores que buscam essa forma alternativa de controle. Pesquisadores apontam que o uso de produtos biológicos aliados a outras formas de combate de nematoides podem trazer resultados expressivos em produtividade, um exemplo disso foi uma propriedade brasileira na qual foram relatados prejuízos econômicos há vários anos associados a presença de nematoides na cultura da soja, e apenas com o uso do controle biológico passou de uma quantidade de 28 sacas por hectare para 60 sacas, com uma economia de até 30% nos custos de produção.
O uso de controle biológico tem o objetivo de diminuir o potencial do nematoide de atacar a planta e se reproduzir, utilizando bactérias, fungos ou vírus que serão aplicados na planta ou no ambiente em que ela vive, para ser realizado o controle. Para a cultura da soja, pesquisas vem revelando resultados promissores no controle dos nematoides-das-galhas com o uso, por exemplo, do fungo de solo Paecilomyces lilacinus que parasita ovos de nematoides ou a bactéria Bacillus sp. produtora de substâncias nematóxicas.
A aplicação de bionematicidas geralmente é feita no solo e dependendo do organismo presente no produto o nematicida microbiológico pode agir de diversas maneiras, como dificultando a penetração do patógeno, impedindo a reprodução ou até mesmo causando a morte imediata do nematoide. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) apresenta, atualmente, poucos produtos biológicos registrados para o controle de nematoides na cultura da soja, no entanto, são considerados eficientes desde que aliados a outras estratégias de controle.
A lista desses nematicidas registrados está disponível no endereço eletrônico www.agricultura.gov.br, link serviços – agrotóxicos/Sistema Agrofit. Além do controle biológico e químico, podemos citar o controle cultural que é feito a partir da manipulação das condições pré-plantio e durante o desenvolvimento da soja, com o objetivo de reduzir o contato entre a soja e o Meloidogyne javanica que pode ser efetivo com o uso de sementes sadias de cultivares resistentes.
A Embrapa, em parceria com a Fundação Cerrados e a Fundação Bahia, lançou em 2019, uma cultivar de soja de alto potencial produtivo e com resistência a nematoides de galha (BRS 7481), além desta, existem outras diversas cultivares de soja resistentes a Meloidogyne. Vale frisar que os níveis de resistência dessas cultivares não são muito elevados e recomenda-se a utilização das mesmas em sucessão a uma cultura não hospedeira desses organismos. Da mesma forma, podem ser utilizadas plantas armadilhas, nas quais os nematoides infestam as raízes sendo posteriormente eliminadas, interrompendo o ciclo do nematoide.
Além disso, é importante realizar a eliminação de plantas doentes da área, rotação de culturas utilizando plantas de espécies que o nematoide não consiga causar dano, afetando diretamente na sobrevivência do patógeno, utilizar adubação verde e rotação com plantas que inibem a reprodução dos nematoides e posteriormente podem ser incorporadas no solo acrescentando biomassa e nutrientes e também promovendo o crescimento de inimigos naturais de diversas doenças. Recomenda-se também a limpeza das ferramentas e máquinas agrícolas antes de executar trabalhos nas áreas ainda não infestadas.
Na tabela abaixo adaptada do site Aegro podem ser visualizados exemplos de culturas capazes de atuar na redução da população de Meloidogyne a campo, sendo classificados em diferentes cores conforme o efeito sobre o nematoide (aumento, diminuição ou atuação de forma variável nos níveis de infestação desses microrganismos). Utilizando a cultura do algodão como exemplo, a mesma pode reduzir os níveis de M. javanica e aumentar os níveis de M. incognita, constata-se a importância da detecção da espécie de nematoide para atuar de forma mais certeira no controle deste patógeno.
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