Uso de palhada pode auxiliar no manejo químico do capim-amargoso em lavouras de soja

Por Danillo Neiva de Andrade e Tulio Porto Gonçalves, do Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste Goiano, Eugênio Miranda Sperandio, Alaerson Maia Geraldine e Renata Pereira Marques, do IF Goiano - Polo de Inovação

28.12.2023 | 16:35 (UTC -3)

A espécie Digitaria insularis L., popularmente conhecida como capim-amargoso, configura-se como uma das principais espécies de plantas daninhas que acometem tanto culturas perenes quanto anuais no contexto agrícola. Sua presença é ubiquamente registrada nos campos de cultivo nacionais. Esta espécie apresenta a capacidade de produzir uma quantidade significativa de sementes, alcançando até 100 mil unidades por planta anualmente, as quais são facilmente dispersas através da ação do vento. As sementes desse capim possuem a habilidade de germinar em diversas condições ambientais, incluindo variações de temperatura e luminosidade, o que amplifica sua propensão à disseminação. Além disso, as sementes podem emergir ao longo de todo o ano, embora os maiores índices de germinação coincidam com períodos de maior pluviosidade.

A gestão do capim-amargoso deve ser conduzida de maneira criteriosa, empregando abordagens baseadas em métodos culturais, físicos, mecânicos e químicos, sendo este último amplamente predominante. As plantas de capim-amargoso demonstram forte competição por espaço e nutrientes, especialmente em reboleiras. O estágio de desenvolvimento mais suscetível ao controle químico eficaz é durante a fase vegetativa, até 45 dias após a emergência. O êxito no controle químico está condicionado a diversos fatores, incluindo o hábito do cultivar com o qual o D. insularis irá competir, a presença de moléculas seletivas para a cultura, o tempo necessário para o fechamento das entrelinhas e a persistência do produto no solo.

Quando se aborda a persistência de herbicidas, é desejável que o efeito residual perdure até o término do Período Crítico de Prevenção à Interferência (PCPI). No contexto da cultura da soja, esse intervalo compreende o período de 14 a 48 dias após a emergência, enquanto a cultura do milho, este período é de até 40 dias após a emergência.

Em 2005, quando a soja tolerante ao glifosato (RR) foi liberada no Brasil, ocorreu uma mudança no manejo de plantas daninhas. Vários ingredientes ativos de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, utilizados tanto em pré como em pós-emergência, foram substituídos por um único ingrediente ativo: o glifosato. Atualmente, cerca de 96% (∼36,6 milhões de hectares) da soja cultivada no Brasil possui tecnologia transgênica para outras moléculas de herbicidas, além do glifosato. 

A fim de controlar plantas daninhas que sobreviveram ao controle químico efetuado, o produtor rural acaba aumentando a dose do herbicida no intuito de obter melhor controle. Entretanto, o uso constante e intenso de herbicidas de mesmo mecanismo de ação e a não utilização de outros métodos de controle exercem forte pressão sobre populações de plantas daninhas, sendo este o principal fator responsável pela seleção de populações de plantas daninhas resistentes a herbicidas. 

No Brasil, já foram diagnosticadas populações de capim-amargoso resistentes aos graminicidas e ao glifosato. Em áreas com alta infestação de D. insularis com repetidas aplicações do glifosato, isolado ou em mistura com graminicidas, nota-se controle ineficiente com diferenças de sensibilidade entre populações, um evidente sinal de seleção de plantas resistentes dessa espécie. Estima-se que há cerca de 8,2 milhões de ha-1 infestados com biótipos de capim-amargoso resistente a herbicidas nas lavouras brasileiras.

Somado a isso, a capacidade da espécie de formar rizomas ricos em amido torna o controle químico ainda mais difícil pois ele constitui uma barreira para translocação de herbicidas, além de ser fonte de reserva, o que permite a rebrota da planta quando é efetuado o controle mecânico ou químico.

A maior dificuldade no controle químico desta espécie, quando plantas, mesmo jovens, são oriundas de reprodução assexuada (rizomas), uma vez que tais plantas, apresentam a epiderme foliar mais espessa do que outras no mesmo estágio desenvolvimento, originadas por sementes. Por essa razão o uso de moléculas de aplicação em pré-emergência é uma estratégia de controle a ser utilizada para controle de D. insularis

De modo geral, quanto maior o estágio de desenvolvimento da planta, mais difícil é o controle em pós-emergência. O controle em pré-emergência é importante para evitar a competição precoce com a cultura, uma vez que as daninhas em geral possuem maior potencial de crescimento do que as plantas cultivadas.

A utilização de herbicidas antes do surgimento das plantas permite controlar as plantas daninhas quando estão germinando ou emergindo. A eficácia desse método, seja utilizado sozinho ou em combinação com outros herbicidas após o surgimento das plantas, depende de como as moléculas se comportam no solo e de suas características físico-químicas. A degradação completa dos herbicidas pode não ocorrer ao longo do ciclo da cultura principal, resultando em resíduos que podem prejudicar a próxima safra, dependendo das propriedades e das condições do solo e do clima. Além disso, em certas regiões agrícolas, a presença de palha pode fazer com que o herbicida fique retido nela, mesmo em caso de chuvas logo após a aplicação e não atinja o banco de sementes do solo. Por outro lado, outros herbicidas são facilmente lixiviados para o solo, especialmente se ocorrerem chuvas nas 24 horas seguintes à aplicação.

O uso de palhada aliado ao controle em pré-emergência é uma estratégia eficiente no controle do capim-amargoso em lavouras de soja (Figura 1). Na Tabela 1 estão representadas as médias de controle de D. insularis com aplicação de herbicidas em pré-emergência (dose de bula) aliado à presença de palhada. Segundo o MAPA, a média de controle que um herbicida deve promover para ser considerado viável e pleitear registro é de no mínimo 80%. A mistura [imazetapir + flumioxazina] controlou 94,5% das plantas, aos 7 dias após a aplicação (DAA). Nos demais períodos avaliados, o controle foi superior aos 80% preconizados pelo MAPA. Entretanto, quando aplicados isoladamente, os herbicidas imazetapir e flumioxazina não demonstraram a mesma eficiência quando em mistura comercial. Vale ressaltar que as doses usadas dessas duas moléculas foram as mesmas quando em mistura ou isoladas. Aos 35 DAA, os tratamentos não atenderam essas exigências mínimas apresentando controle inferior aos 75,7%, o que é considerado um domínio de baixa eficiência e não manutenção do residual. 

Figura 1: controle de capim-amargoso em solo com palhada após a aplicação de herbicidas pré-emergência em Rio Verde (GO), 2019; a) Clomazona + Carfentrazona Etílica; b) Diclosulam; C: S-metolacloro; d) Trifluralina; E: Imazetapir; F: Sulfentrazona; g) Imazetapir + Flumioxazina; h) Flumioxazina
Figura 1: controle de capim-amargoso em solo com palhada após a aplicação de herbicidas pré-emergência em Rio Verde (GO), 2019; a) Clomazona + Carfentrazona Etílica; b) Diclosulam; C: S-metolacloro; d) Trifluralina; E: Imazetapir; F: Sulfentrazona; g) Imazetapir + Flumioxazina; h) Flumioxazina

O controle em pré-emergência, quando bem conduzido, reflete na produtividade, o que traduz em maior retorno financeiro ao produtor. A mistura imazetapir + flumioxazina apresentou os maiores valores de produção de soja por hectare e corroboram os resultados de eficiência de controle dessa mistura (Tabela 2). Isso pode ser atribuído principalmente à competição inicial com o capim-amargoso presente na parcela e que não foram controladas por tais herbicidas. 

O valor médio de controle de D. insularis resistente ao glifosato em 2021 girava em torno de R$ 290,00 por hectare, se houver na mesma área a presença de buva também resistente, esse custo alcança R$ 403,00 por hectare. A análise da variação percentual do custo de controle do capim-amargoso em áreas em que a resistência ao glifosato foi diagnosticada, o aumento dos custos de controle pode variar 165% a 290%. Quando há infestação mista de capim-amargoso e buva, cujas plantas apresentam alta densidade e estágio de desenvolvimento avançado, o aumento no custo de controle pode chegar até a R$ 570,37. Neste manejo, inclui-se, manejo de dessecação com herbicidas de contato e de 2 a 4 pulverizações, em pós-emergência. 

Na ausência de palhada, condições encontradas em alguns sistemas de cultivo diferentes do plantio direto, também pode ser utilizado herbicidas em pré-emergência para controle do capim-amargoso. Segundo o observado neste estudo, na avaliação inicial (Tabela 3), todos os herbicidas apresentaram controle satisfatório do capim-amargoso. Entretanto, aos 28 DAA somente a mistura [imazetapir e flumioxazina] manteve eficiência do controle. A atividade residual não foi satisfatória  aos 35 DAA. 

Em geral a ausência de palhada permite o máximo potencial dos herbicidas utilizados, no entanto, os restos culturais na superfície do solo limitam a germinação e emergência de plantas daninhas atuando como barreira física, o que impede a emergência de sementes de algumas espécies daninhas, principalmente aquelas que possuem pequenas quantidades de reserva. 

*Por Danillo Neiva de Andrade e Tulio Porto Gonçalves, do Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste Goiano, Eugênio Miranda Sperandio, Alaerson Maia Geraldine e Renata Pereira Marques, do IF Goiano - Polo de Inovação

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