Diferenciação e uso corretos de herbicidas auxínicos

Por Saul Jorge Pinto de Carvalho (Instituto Federal do Sul de Minas Gerais), Ramiro Fernando López Ovejero e Dyrson Abbade Neto (Bayer)

07.11.2024 | 16:27 (UTC -3)
Comparativo geral dos sintomas provocados por herbicidas mimetizadores de auxinas
Comparativo geral dos sintomas provocados por herbicidas mimetizadores de auxinas

Atualmente, o Brasil conta com 58 casos devidamente catalogados de plantas daninhas resistentes a herbicidas (HEAP, 2024), incluindo diversas espécies eudicotiledôneas (caracterizadas pelas folhas largas). Quando não controladas corretamente, podem provocar perdas significativas nas lavouras. Sabidamente, a pressão de infestação destas invasoras em lavouras agrícolas demanda estratégias de manejo distintas, comumente fundamentadas na rotação e diversidade de herbicidas e mecanismos de ação. Neste sentido, os herbicidas mimetizadores de auxinas são alternativas que contribuem significativamente para o controle de espécies eudicotiledôneas, inclusive aquelas com biótipos resistentes a outros mecanismos de ação. Apesar de não ser uma classe de produtos nova, com mais de 50 anos de desenvolvimento, possui enorme importância no setor e com poucos casos de biótipos resistentes (SOARES et al., 2012; OSIPE et al., 2017).

Nesta classe de compostos, destacam-se o 2,4-D, dicamba, picloram, triclopyr e fluroxypir. Em geral, são herbicidas comumente recomendados para aplicações na dessecação, em pré-semeadura da cultura da soja, permitindo o cultivo com menor infestação de plantas daninhas. Atualmente, existem cultivares de soja tolerantes ao 2,4-D e ao dicamba, contudo, estas tecnologias possuem poucos anos de uso desde o lançamento, de modo que a maioria das áreas comerciais de soja ainda é sensível aos herbicidas mimetizadores de auxinas. Assim sendo, caso as recomendações técnicas de aplicação, gerais e específicas, não sejam atendidas adequadamente, sintomas indesejáveis podem ser observados na cultura da soja sensível.

Neste sentido, experimentos foram realizados em casa-de-vegetação do Instituto Federal do Sul de Minas Gerais - campus Machado, com o objetivo de avaliar a intoxicação de cultivares de soja não tolerantes pelos principais herbicidas auxínicos, registrando-se a intensidade de sintomas e a caracterização dos mesmos. Os trabalhos foram realizados para proporcionar o melhor entendimento aos agricultor sobre estes herbicidas visto que, mesmo pertencendo ao mesmo grupo químico, cada molécula possui características diferentes, bem como sintomas diferentes.

Foram utilizadas doses simuladas de deriva dos herbicidas, variáveis entre 0,5% e 1,0% da dose comercial recomendada, aplicadas sobre a soja não tolerante com quatro trifólios, em média. Foram realizadas avaliações semanais de fitotoxicidade, incluindo registros fotográficos. Ao final do experimento, obteve-se a massa de matéria seca das plantas.

Quanto à análise da fitotoxicidade, ressalta-se que a maior intoxicação das plantas de soja foi provocada pelo herbicida picloram, alcançando até 50% de dano (Tabela 1). Houve diferença significativa no grau de fitotoxicidade entre as doses, sendo que a maior dose de picloram provocou maior injúria. O segundo herbicida mais fitotóxico foi o dicamba, com danos próximos a 30%, em dose de 2,4 g ha-1. Em geral, o herbicida que proporcionou menor intoxicação das plantas de soja foi 2,4-D, sempre inferiores a 15% de injúria. Foi possível caracterizar uma escala de sensibilidade de soja não tolerante aos herbicidas auxínicos, em que a ordem geral de fitotoxicidade observada foi: picloram > dicamba > triclopyr > fluroxypir > 2,4-D.

<b>Tabela 1 -</b> intoxicação de plantas de soja, quando submetidas à pulverização de subdoses de cinco herbicidas auxínicos diferentes, avaliada aos 14 e 28 dias após aplicação (DAA), bem como massa de matéria seca ao final do experimento. Machado – MG, 2023
Tabela 1 - intoxicação de plantas de soja, quando submetidas à pulverização de subdoses de cinco herbicidas auxínicos diferentes, avaliada aos 14 e 28 dias após aplicação (DAA), bem como massa de matéria seca ao final do experimento. Machado – MG, 2023

Assim, para melhor identificação em campo, é fundamental caracterizar os sintomas de cada herbicida. No caso particular do picloram, observamos sintomas de entumecimento de pecíolo, encarquilhamento, epinastia, manchas necróticas no caule, branqueamento do caule, danos meristemáticos com má formação de folhas novas, encurtamento de internódios, escurecimento de folhas velhas e necrose de bordos. Nas doses mais elevadas, verificamos a morte dos meristemas (Figura 1). 

<b>Figura 1 -</b>&nbsp;sintomas de picloram em plantas de soja; detalhe para necrose de caule e morte de meristema. Machado – MG, 2023
Figura 1 - sintomas de picloram em plantas de soja; detalhe para necrose de caule e morte de meristema. Machado – MG, 2023

Para o dicamba, por sua vez, notamos danos meristemáticos severos, com presença de cupping (alteração na nervura foliar que condiciona à folha uma forma côncava, semelhante a uma concha) e encarquilhamento de folhas, superelongação dos pecíolos, escurecimento de folhas mais velhas e má formação de folhas jovens (Figura 2). 

<b>Figura 2 - </b>sintomas de dicamba em plantas de soja; detalhe para ocorrência de encarquilhamento, cupping e danos meristemáticos. Machado – MG, 2023
Figura 2 - sintomas de dicamba em plantas de soja; detalhe para ocorrência de encarquilhamento, cupping e danos meristemáticos. Machado – MG, 2023

Contudo, ressalta-se que os sintomas conhecidos como cupping não foram exclusividade do dicamba. Estes sintomas também foram observados para intoxicações causadas por picloram e fluroxypir (Figura 3).

<b>Figura 3 -</b>&nbsp;sintomas de cupping observados após aplicações de fluroxypir (esquerda) e picloram (direita). Machado – MG, 2023
Figura 3 - sintomas de cupping observados após aplicações de fluroxypir (esquerda) e picloram (direita). Machado – MG, 2023

O 2,4-D provocou o encurtamento dos internódios apicais com leve epinastia, folhas com crescimento desordenado da nervura central e desdobramento do limbo (Figuras 4 e 5).

<b>Figura 4 -</b> plantas de soja com sintomas leves de intoxicação por 2,4-D. Machado – MG, 2023
Figura 4 - plantas de soja com sintomas leves de intoxicação por 2,4-D. Machado – MG, 2023
<b>Figura 5 -</b> detalhe para trifólios de soja com sintomas de intoxicação por 2,4-D (A), dicamba (B) e ausência de sintomas (C).  Paraguaçu – MG, 2022
Figura 5 - detalhe para trifólios de soja com sintomas de intoxicação por 2,4-D (A), dicamba (B) e ausência de sintomas (C). Paraguaçu – MG, 2022

No caso do triclopyr, verificamos danos mais suaves, como má formação de folhas com pouco encarquilhamento e princípio de dano meristemático apenas para a maior dose, manifestação suave de necrose no caule e escurecimento das folhas mais velhas. Em todos os cultivares, não constatamos cupping após aplicações de triclopyr (Figura 6).

<b>Figura 6 -</b> plantas de soja com sintomas de intoxicação por triclopyr. Machado – MG, 2023
Figura 6 - plantas de soja com sintomas de intoxicação por triclopyr. Machado – MG, 2023

No caso do fluroxypir, foi observado encarquilhamento de folhas, leve epinastia, pequeno atraso no ciclo de desenvolvimento e, apenas para a maior dose, ocorrência de sintomas meristemáticos e má formação de folhas novas. Ainda, para fluroxypir, foram observados sintomas semelhantes aos danos por 2,4-D, bem como evidências de cupping (Figura 7).

<b>Figura 7 -</b> plantas de soja com sintomas de intoxicação por fluroxypir. Machado – MG, 2023
Figura 7 - plantas de soja com sintomas de intoxicação por fluroxypir. Machado – MG, 2023

Em campo, é possível que os sintomas de mais difícil reconhecimento sejam aqueles provocados pelo herbicida fluroxypir (vide primeira imagem deste artigo). A depender da dose e do momento de aplicação, os sintomas provocados por este herbicida por vezes se assemelham ao 2,4-D, bem como há ocorrência de cupping, à semelhança com dicamba. Em síntese, a identificação de sintomas na cultura da soja provocados por herbicidas auxínicos em campo pode ser uma tarefa árdua, se não houver disponibilidade do histórico das aplicações de herbicidas na região. As informações apresentadas podem ajudar na identificação correta dos sintomas e entendimento do que ocorre na lavoura.

Por Saul Jorge Pinto de Carvalho (Instituto Federal do Sul de Minas Gerais), Ramiro Fernando López Ovejero e Dyrson Abbade Neto (Bayer)

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