Por Luciene Camarano, Murillo Lôbo Jr. e Sérgio Vaz da Costa, Embrapa Arroz e Feijão
31.10.2024 | 14:05 (UTC -3)
No Brasil, a maioria dos produtores de feijão-comum (Phaseolus vulgaris L.) utilizam para plantio material retirado de áreas destinadas à produção de grãos: o chamado “grão semente” ou “semente pirata”, geralmente com baixa produtividade e sem um controle de qualidade adequado. Apenas 20%, aproximadamente, utiliza sementes certificadas em suas lavouras.
A qualidade fitossanitária dos grãos salvos, é normalmente menor e é o fator mais crítico para o agricultor, já que os grãos podem causar uma população de plantas (estande) desuniforme, resultando em dificuldades no manejo da lavoura, maturação desuniforme das plantas e problemas na colheita, além de perdas de produtividade e, consequentemente, de lucratividade.
Adotar o uso de sementes certificadas de feijão-comum possibilita: lavouras mais uniformes que germinam melhor e a prevenção ou melhor controle de doenças.
Dentre as doenças que o feijão-comum é suscetível, apenas três não são transmitidas pela semente: o mosaico dourado do feijoeiro (VMDF), a ferrugem e o oídio. Mais recentemente, comprovou-se que a mancha-angular dificilmente é transmitida pela sementes, existindo algumas exceções.
Prevenção de doenças e uso de sementes
As plantas de feijão originárias de sementes doentes podem impactar na população de plantas na lavoura e transmitir doenças (fungos, bactérias e vírus) para novos plantios.
O uso de sementes sadias pode evitar epidemias graves, que podem ocasionar reduções drásticas na produtividade da lavoura. Também é importante conhecer a qualidade das sementes que são compradas, para evitar novas doenças.
Das doenças transmitidas pela semente, as mais comuns são:
Para reforçar a proteção das lavouras, as sementes podem ser tratadas com fungicidas. Para isso, consulte um engenheiro agrônomo.
Mais motivos para utilizar sementes de feijão
Desde que o preço da semente não ultrapasse 10% do custo total de produção, isso não é um impedimento para sua utilização na instalação da lavoura, torna-se um investimento.
Ao utilizar sementes, o produtor garante: pureza física, pureza genética, qualidade fitossanitária e vigor de sementes, ingredientes que potencializam o sucesso agronômico da lavoura.
Pureza genética: a garantia de que não há misturas de outras cultivares no lote. Isso resulta em maior uniformidade no ciclo, hábito de crescimento, arquitetura, resistência e/ou tolerância a doenças e pragas, entre outras características que ajudam a conseguir um maior potencial produtivo.
Pureza física: refere-se à ausência de impurezas como partículas de solo, resto de vegetais, pedras, sementes danificadas, sementes de plantas daninhas e de outras espécies.
Vigor de sementes: é a capacidade das sementes em gerar plantas sadias e perfeitas e que germinam mais rápido (em média cinco dias).
Qualidade fitossanitária: refere-se à semente livre de patógenos.
Sistema formal de produção
Quando o agricultor adquire sementes do Sistema Formal de Produção, ele está adquirindo um produto cuja produção, beneficiamento, armazenamento e comercialização são controlados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), por meio de lei, decreto e instruções normativas.
Inscrição no sistema formal de produção de sementes
A inscrição é obrigatória para empresas públicas e privadas que produzem sementes no Brasil obrigatoriamente devem se inscrever nos sistemas do Mapa, dentre eles o Renasem - Registro Nacional de Sementes e Mudas.
A inscrição é opcional para agricultores familiares, assentados de reforma agrária e indígenas que multipliquem sementes para distribuição, troca ou comercialização entre si, ou quando multiplicam sementes de cultivar local, tradicional ou crioula, com a mesma finalidade são dispensados destas formalidades.
Quem pode certificar a produção de sementes?
A certificação da produção de sementes pode ser realizada pelo Mapa, por uma entidade certificadora pública ou particular ou, ainda, pelo próprio produtor da semente.
No processo de produção, a obtenção das sementes é limitada a uma única geração. Dessa forma, a partir da semente genética, podem ser obtidas sementes das categorias subsequentes e assim sucessivamente, conforme mostrado no quadro abaixo:
A semente genética é a produzida dentro da instituição de pesquisa que desenvolveu uma determinada cultivar. Deve ser uma semente extremamente pura, principalmente do ponto de vista genético.
A semente básica é obtida a partir da multiplicação da semente genética. É preciso fazer isso para que a instituição consiga obter maior volume de sementes e, dessa forma, possa disponibilizá-las aos produtores de sementes e demais agricultores.
As sementes certificadas são originadas a partir da semente básica: a primeira geração de multiplicação da semente básica é chamada de C1, e a segunda geração de C2. A certificação dessas duas categorias deve ser obtida por empresas ou laboratórios oficiais (credenciados pelo Ministério da Agricultura) mediante vistorias de campo e/ou análises das sementes.
Além destas, ainda existem duas outras categorias de sementes: a S1 (sementes não certificadas de primeira geração) e a S2 (sementes não certificadas de segunda geração). A semente produzida a partir de S2 não pode mais ser considerada como semente e não deve ser utilizada para originar novas lavouras de feijão. Ou seja, deve ser usada para consumo.
Análise de sementes
Após todo o processo detalhado de produção, a semente passa por análises obrigatórias para sua comercialização: análise de pureza, verificação de sementes de outras cultivares e de outras espécies cultivadas, exame de sementes nocivas, teste de germinação e exame de sementes infestadas, tudo isso realizado em laboratórios devidamente credenciados e inspecionados pelo Mapa.
O resultado dessas análises, informado no boletim de análise, é confrontado com o padrão de laboratório. No caso de o lote de sementes ser aprovado para venda, é emitido um documento, que pode ser:
certificado da semente (para sementes de categorias básica, C1 e C2);
termo de conformidade (para sementes de categoria S1 e S2);
termo aditivo (para qualquer categoria, quando se tratar de reanálise).
Embora não seja obrigatória, uma análise de sanidade do lote de sementes é recomendável, para se certificar de sua qualidade sanitária.
Os padrões atuais de sementes de feijão estão disponíveis na Instrução Normativa nº 45, de 17 de setembro de 2013, do Ministério da Agricultura.
Existem padrões de qualidade avaliados no campo e no laboratório.
No campo, o produtor deve respeitar o isolamento da área de produção de sementes para evitar contaminações, eliminar plantas daninhas proibidas e realizar "roguing" (eliminação de plantas atípicas ou indesejáveis do campo de produção de sementes). Essas, dentre outras, são práticas fundamentais para garantir a qualidade do campo e cumprir as exigências legais.
No laboratório, são estabelecidos padrões de qualidade como germinação, pureza física e pureza varietal.
Os principais aspectos relacionados à qualidade das sementes de feijão, que podem variar de acordo com a categoria de sementes a que o lote pertence, são:
apresentar no mínimo 80% de germinação (categorias C1, C2, S1 e S2);
apresentar pureza de 98% (todas as sementes de um lote devem ser da mesma cultivar – com limites bem pequenos de tolerância: 3/1.000 para S1 e S2);
apresentar pureza física, estando livres de sujeiras, torrões, pedras, cascas e paus.
As sementes não podem estar contaminadas com mofo-branco (causado por S. sclerotiorum), doença em relação à qual se tem tolerância zero.
* Por Luciene Camarano, Murillo Lôbo Jr. e Sérgio Vaz da Costa, Embrapa Arroz e Feijão
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