Benefícios da fenação para o bolso do produtor
Por Lucas Zanetti, Gerente de Marketing de Produto da Massey Ferguson
No decorrer das últimas quatro décadas, a agricultura brasileira teve uma significativa (re)evolução tecnológica estimada na ordem de 300% até 1.000% (dada com base em insumos, máquinas etc), evolução esta não acompanhada, em termos proporcionais, na produtividade das lavouras de grãos, as quais aumentaram ao redor de 130% a 140%. Nesta (re)evolução tecnológica está incluída a forma de manejar o solo, passando do preparo convencional de solo, com aração e gradagens sucessivas, para formas tidas como “mais conservacionistas”, como os sistemas de plantio direto e o preparo reduzido com escarificação do solo. Juntas, tornaram-se ferramentas importantes para a utilização do solo de forma mais sustentável em relação ao preparo convencional, crescendo a taxas na ordem de 11 mil ha/ano no período entre 1974-1979; de 80 mil ha/ano, entre 1979 e 1991; atingindo a marca de 1,7 milhão de ha/ano, entre 1991 a 2006 e, aproximadamente, 640 mil ha/ano no período entre 2006 e 2017, conforme dados da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha.
Essa mudança na forma de manejar o solo sob plantio direto contribuiu para sua melhoria no que tange à qualidade química, física e biológica muito rapidamente no início, e agora apresenta sinais de estagnação. Sim, estagnação. Por que está estagnado? Por que não avança em termos de área, por exemplo? Não há mais área para expandir? Há falta de atualização de dados de campo? Há falta de políticas públicas para difundir essa tecnologia? Há descrédito por parte de produtores (ou grupos) sobre os benefícios do SPD? Há problemas que antes não eram “problemas” e agora são, como a compactação de solo? Há falta de um sistema para chamarmos de sistema plantio direto? Ou há outras perguntas mais?
O que podemos descartar é a falta de área para expandir o uso desta tecnologia, nisso todos concordamos. Nos arriscamos, com certa margem de erro, a dizer que está havendo um esquecimento do real significado do que é sistema plantio direto. O que temos é um plantio direto, que na verdade é uma semeadura direta com algum grau de revolvimento do solo, em alguns momentos mais, outros menos, por semeadoras, semeadoras-adubadoras, modernizadas da linha de semeadura para cima, mas antiquadas da linha para baixo. Ou seja, dos mecanismos de abertura do sulco para deposição de fertilizantes e sementes. Comparativamente ao sistema convencional de preparo do solo evoluímos muito, mas estamos a desejar no real conceito de sistema plantio direto.
Ações focadas na correção e melhoria das condições químicas do solo, na supressão da queima de palhada, na importância da rotação de culturas, no uso de terraceamento, entre outras tantas, foram intensamente trabalhadas em nível de Brasil. Neste processo de convencimento, os avanços deram-se em números anteriormente apresentados. Ao focar nestas ações urgentes à época, esteve fora de “foco” o fato de que, ao não revolver o solo, a estrutura antes pulverizada, homogeneizada por arações e gradagens, agora se reorganizaria noutra configuração, com expectativa de melhoria.
Isso aconteceu, até certo ponto. Parcialmente, e nos arriscamos a dizer, o mais importante insumo, a água, antes problema por causar erosão (água em excesso), agora torna-se novamente problema, pela sua escassez no solo e não pela ausência de chuvas. Escassez essa oriunda de problemas de compactação do solo, que reduz a infiltração, aumentando o escoamento superficial e o arrasto da camada de solo mais rica em nutrientes, o armazenamento, a redistribuição, a aeração do ambiente radicular etc.
Atualmente, temos uma grande parcela dos 32 milhões de hectares em plantio direto com boa condição química do solo, mas que não consegue expressar seu potencial produtivo, pois o problema é de ordens física e física-biológica. Na falta de um sistema (Figura 1) se perderam e se perdem, primeiramente, estrutura de solo (a física), seguida pela redução de indicadores biológicos e, por último, fertilidade. Temos áreas de lavoura com características físicas similares a estradas, mas quimicamente perfeitas. Em nossa observação, isso ocorre por desconhecimento/despreocupação sobre a importância de água no solo, uma vez que ela governa processos não só químicos, mas químicos, físicos (principalmente), biológicos e mecânicos.
Máquinas maiores, mais pesadas, com pouca área de contato pneu-solo, falta de calibração da pressão de inflação dos pneus, tipo de carcaça do pneu, transferência de peso do trator em operação, patinagem, lastragem, baixa capacidade de suporte de carga dos solos, entre outros fatores, contribuem para aumentar a degradação da estrutura do solo.
Dessa forma, os sistemas de manejo devem criar condições às propriedades do solo que aumentem sua eficiência nas dinâmicas de fluxos de água (infiltração, retenção e redistribuição), de nutrientes, de gases e de temperatura, processos que irão atuar na disponibilidade hídrica e nutricional das plantas, potencializando o crescimento, o desenvolvimento e a produtividade dos cultivos.
Experimentos de longa duração em Argissolo buscando avaliar a influência dos diferentes sistemas de manejo de solo, tanto na qualidade estrutural do solo, quanto no desempenho de conjuntos mecanizados e a sua influência na produtividade das culturas, têm sido desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisas em Relação Solo-Máquina (GPRSM) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Os resultados apontam que, após 16 anos de conversão de áreas de campo natural (pastagem) para lavoura em SPD (na sua essência), houve melhorias na estrutura do solo, como redução na densidade, aumento na taxa de infiltração de água do solo, aumento da condutividade hidráulica saturada do solo, em comparação com áreas conduzidas com 13 anos em sistemas convencional e reduzido (Tabela 1)
Os dados ainda vêm apontando que, três anos após cessar o preparo convencional de solo (manejo realizado durante 13 anos) e iniciar o SPD, a densidade do solo ainda é 13,7% maior do que a encontrada na área manejada durante 16 anos sob SPD. Essa diferença de 13,7% pode parecer ser baixa à primeira vista e quando visualizamos apenas a densidade do solo. Porém, quando relacionamos esse parâmetro com a facilidade com que a água passa por determinado volume de solo (dada aqui pela Ksat), observamos a influência da densidade do solo alterando significativamente a movimentação de água no perfil do solo quando saturado na ordem de 90% (Figura 2).
Comportamento semelhante vem sendo visualizado em ensaios da capacidade de infiltração de água no solo, buscando relacionar tal variável com o que acontece em um evento de precipitação de elevadas intensidades (Tabela 1). O solo manejado durante 16 anos em SPD apresentou uma taxa de infiltração 74% maior do que o solo com histórico de manejo de 13 anos em SPC (e que agora está em processo de manejo em SPD por três anos) para os primeiros cinco minutos de chuva, e ainda manteria uma taxa de infiltração, aproximadamente, 30% maior após uma hora (Tabela 1).
Ou seja, esse sistema de manejo adequadamente trabalhado apresenta condições de absorver, infiltrar, reter e redistribuir muito mais água que do que os outros sistemas de manejo testados. Essa diferença se dá em função de o SPD empregado apresentar rotação de culturas no período estival (ano milho, ano soja) e no período hibernal (aveia mais azevém como culturas de cobertura de solo) e semeadura, junto das demais operações agrícolas em condições de friabilidade do solo. Associado a isso, está o fato de o intervalo entre colheita/manejo de uma cultura e a implantação da próxima ser muito reduzido, ou seja, a parte biológica do solo está em constante atividade, ciclando, reciclando e organizando constantemente os processos ordenativos no solo. Isso permite que haja um rearranjo continuado do sistema poroso, a criação e a manutenção de poros de origem biológica, o aumento gradativo de matéria orgânica, a qual melhora a retenção e a redistribuição de água por meio da recuperação na estruturação do solo.
Algumas décadas se passaram desde a introdução da tecnologia do SPD e os reflexos de sua má aplicação começaram a surgir, afetando o fundamento da tecnologia: a estrutura do solo. A falta de entendimento e utilização do que é SPD, seus princípios básicos associados às práticas complementares de conservação do solo como semeadura em contorno, utilização de terraços, observação do teor de umidade do solo no momento dos manejos com máquinas agrícolas nas lavouras, vem se constituindo em um desafio complexo de ser resolvido, pois há um conflito de interesses. De um lado, precisamos de uma agricultura competitiva, com produção de grãos e cereais em escala e com liquidez capaz de pagar os custos imediatos.
Ao mesmo tempo, precisa produzir uma quantidade de palha e raízes suficiente para atender a um dos preceitos do SPD, e isso não temos de forma satisfatória, não no cenário atual e de forma massiva. Associado a isso, as máquinas de semeadura, modernas em distribuição e dosagem de sementes e fertilizantes, são antiquadas no seu princípio, a mobilização de solo, ou seja, mobilizam muito solo para fora do sulco de semeadura. Evoluímos em relação ao sistema convencional de manejo de solo. E como sistema plantio direto? Em nossa visão, precisamos avançar em pesquisa na relação solo-máquina, no uso da métrica, na difusão da tecnologia já gerada pelos centros de pesquisa e na formação de profissionais capazes de identificar e solucionar problemas.
*Por Leonardo Pereira Fortes, Michael Mazurana e Renato Levien, da UFRGS
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