Manejo do bicho-mineiro no café
Manejo passa por monitoramento criterioso para a determinação do nível de dano e a posterior adoção de medidas de controle
Também conhecido como caminhadeira, pela facilidade de dispersão do extenso banco de sementes, o capim-camalote pode levar a perdas de rendimento de até de 100% em cana-planta e 80% em cana-soca. Para minimizar os prejuízos desta espécie agressiva e de difícil controle é preciso integrar os métodos preventivo, cultural, mecânico e químico
O capim-camalote durante muitos anos foi identificado pelos pesquisadores como Rottboellia exaltata, mas o nome atual para a espécie é Rottboellia cochinchinensis. Assim, é importante salientar que qualquer uma das nomenclaturas encontradas em livros e revistas se referem à mesma espécie: o capim-camalote.
A planta pode germinar de uma semente ou brotar de um pedaço de colmo e rapidamente cresce emitindo os perfilhos, formando uma touceira. Quando adulta a touceira pode ter até 50 colmos com 1cm de diâmetro, além de crescer até 2,5 m. As folhas são finas e compridas e na sua base possuem cerdas minúsculas que ferem as pessoas ao tocá-las.
Nessa fase, a planta emite até 16 mil sementes que caem no chão a medida que amadurecem. Uma parte pode germinar e formar outras plantas, a outra permanecer no solo dormente e germinar depois de 4 anos. As sementes são leves e podem ser levadas pelo vento, enxurradas, pássaros e atingir áreas distantes. Dessa característica a planta ganhou outro nome, caminhadeira.
A dormência nas sementes de capim camalote permite que fiquem estocadas vivas no solo, porém, sem entrar no processo de germinação. Todos os anos as plantas não controladas pelos herbicidas produzem sementes, que ao caírem no solo; aumentam o “estoque” de sementes. Por outro lado, parte das sementes estocadas são estimuladas pelas condições do clima (chuva e temperatura) e saem da dormência estabelecendo novas plantas. A estocagem de sementes no solo é conhecida como banco de sementes.
Os colmos possuem nós (em cada um há uma gema), que ao acamar-se no chão brotam e formam também novas plantas. Essa planta daninha é muito vigorosa e prolífica. Uma única planta é capaz de emitir até 100 perfilhos e produzir 15.000 sementes, que ficam dormentes no solo por até quatro anos (Lorenzi, 2000)
Inicialmente foi encontrado na Índia e atualmente está presente em 28 países. Infesta 18 culturas, incluindo a cana-de-açúcar (HOLM et al., 1977).
Estima-se que na América Central e Caribe o capim-camalote infeste mais de 3,5 milhões de hectares (FAO, 1992).
No Brasil pode ter chegado no final da década de 50 junto às sementes de arroz oriundo da Colômbia (DEUBER, 1992).
Inicialmente sua infestação ocorreu na região do Rio-de-Janeiro (FREITAS et al., 2004). Hoje ocorre também nos estados nordestinos, centro-oeste e sudeste (CARVALHO, et al., 2005).
Há relatos de infestações em canaviais de São Paulo, particularmente em Mococa, Porto Ferreira, Piracicaba, Igarapava, Dumont, Ribeirão Preto. Entretanto a disseminação não está generalizada entre os canaviais, mas sim de forma isolada.
Segundo Bianco (2004), o capim-camalote deverá ser a principal espécie daninha dos canaviais da região de Ribeirão Preto.
Na cana-de-açúcar, R. cochichinensis proporcionaram perdas de rendimento de até de 100% em cana-planta e até 80% em cana-soca (ARÉVALO e BERTONCINI, 1994). Em outros países, como na Venezuela, também há relatos de até 80% de perdas de produtividade (ANZALONE et al., 2006). A planta reduz significativamente a produção de colmos, traz decréscimo da longevidade do canavial, redução da qualidade industrial da matéria-prima e dificuldade nas operações de colheita (FERREIRA et al., 2010).
No campo, observa-se que o capim-camalote é sensível a sombra e quando o canavial está sombreando a superfície do solo o fluxo de novas plantas é diminuído. Porém, na cana-de-açúcar o sombreamento que diminui a emergência de novas plantas do capim-camalote ocorre quando a cultura estiver entre 150 dias da colheita ou plantio. Dentro desse período é comum observar no campo fluxos de emergência da infestante.
Ao considerar o capim-camalote, o ideal é manter o canavial até 180 dias livres da infestante, mas a partir de 120 dias o porte da cultura passa a dificultar a utilização de equipamentos para aplicação de herbicidas. Também há de considerar que a aplicação de herbicidas na cultura a partir dos 120 dias deve ser feita com critério para que a cana não se intoxique com o produto utilizado.
O capim-camalote é uma espécie agressiva e de difícil controle. Assim, para minimizar seus prejuízos é preciso integrar os métodos de controle preventivo, cultural, mecânico e químico.
A utilização da palha da cana-de-açúcar pode representar importante método de controle do capim-camalote, pois as sementes tem dificuldade em superar a camada de palha. Outro controle importante é o preventivo, que ao limpar os equipamentos utilizados em áreas infestadas pelas plantas impede a disseminação para áreas sem infestação. Na atualidade esse controle é de expressiva importância, embora pouco adotado entre os produtores devido ao longo tempo exigido na limpeza.
Para o controle químico do capim-camalote, na cultura da cana-de-açúcar, os herbicidas mais utilizados são o clomazone e o ametryn+trifloxysulfuron. Os herbicidas, para um melhor controle da planta daninha, devem ser aplicados sequencialmente sobre a cultura. Produtos como amicarbazone, trifluralin e pendimethalin ou ainda aplicações sequenciais de trifluralin e pendimenthalin aplicados em dose cheia no plantio da cana-de-açúcar podem resultar em controles de entre 80% a 85% durante 60 dias a 90 dias. Mas, esses herbicidas precisam ser incorporados para resultarem em maior eficácia. Assim, a ocasião do plantio se torna mais propicia.
Ainda não se conhece com exatidão o porquê de o capim-camalote ser uma planta daninha de difícil controle. Possivelmente, a causa da tolerância natural da planta aos herbicidas seja o detrimento de um conjunto de características: estruturas anato-morfológicas e metabolismo diferenciado.
A planta, particularmente brotada de touceiras, possui sistema radicular bem fasciculado e profundo, o que pode dificultar a absorção dos herbicidas. Os produtos se concentram mais nas camadas superficiais do solo e as raízes mais profundas não o absorvem. Essa característica pode contribuir com a dificuldade de controle.
Observa-se na planta um rápido crescimento que pode chegar até próximo a 2m de altura. A formação de colmos e bainhas é muito presente e naturalmente seus tecidos especializados dificultam a absorção de herbicidas aplicados em pós-emergência.
Assim como em outras espécies, tiririca (Cyperus rotundus) e grama-seda (Cynodon dactylon), que também possuem sistema radicular profundo e vigoroso o controle mais efetivo é o químico associado ao mecânico. Os implementos segmentam as raízes e as expõem à superfície sob desidratação do sol. Simultaneamente facilita o posicionamento do herbicida no solo, colocando-o em profundidade.
Com isso, a medida que a brotação ou germinação de sementes inicia-se o herbicida está presente na solução e no solo e é absorvido. Como a planta ainda é muito jovem, os tecidos especializados não estão totalmente formados e o herbicida poderá ser mais eficaz por atingir o local de ação com maior rapidez. Dadas essas considerações conclui-se que o manejo químico do capim-camalote deve ser priorizado no plantio da cultura, ocasião da reforma do canavial.
Ana Rosália Calixto, Carlos Alberto Mathias Azania, IAC
Artigo publicado na edição 208 da Cultivar Grandes Culturas.
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