Como evitar embuchamento em semeadoras
Projeto simples pode ser a solução para eliminar o embuchamento de palha entre as linhas de plantio de uma semeadora de plantio direto
Capim pé-de-galinha, Eleusine indica, é o mais recente caso de resistência a aplicação do glifosato no Brasil. Associações de herbicidas, emprego de pré-emergentes, rotação de mecanismos de ação e de culturas estão entre as medidas complementares em estudo para o manejo destas populações resistentes.
A resistência a herbicidas tem sido o centro das atenções dos profissionais envolvidos no manejo de plantas daninhas. Esta característica pode ser resumidamente definida como a capacidade de um biótipo em sobreviver à exposição de uma dose de herbicida que normalmente é letal para o biótipo suscetível. Mundialmente, mais de 470 casos de resistência a herbicidas já foram documentados, sendo que 41 destes episódios ocorreram no Brasil.
O glifosato é o herbicida mais utilizado no Brasil e no mundo, portanto, os casos de resistência envolvendo este defensivo merecem atenção. No início, acreditava-se que a resistência a este herbicida seria pouco provável de ocorrer, devido às características do produto como amplo espectro de controle de plantas daninhas e ao baixo ou nulo efeito residual no solo. No entanto, em 1996 foi relatado o primeiro caso de resistência ao glifosato, e depois do início do cultivo da soja resistente a este herbicida, conhecida como soja RR, houve um grande aumento do número de espécies resistentes, devido à utilização excessiva do glifosato, em função da possibilidade de aplicação em pós-emergência da cultura.
No Brasil, as espécies resistentes ao glifosato já relatadas são a buva (Conyza sp.), o azevém (Lolium perene ssp. multiflorum), o capim-amargoso (Digitaria insularis), o capim-branco (Chloris elata) e o caruru (Amaranthus palmeri). Além destas espécies, nas últimas safras, problemas com escapes de capim pé-de-galinha (Eleusine indica) após a aplicação de glifosato têm sido observados no campo, em diversas regiões do país.
O capim pé-de-galinha é uma gramínea de ciclo anual, com rápido crescimento, alta capacidade de competição com as culturas e que está presente em praticamente todas as regiões do Brasil e no restante do mundo. A ampla área de distribuição desta planta daninha deve-se principalmente à sua adaptação aos diversos ambientes, à produção de elevado número de sementes e mais recentemente à resistência a herbicidas.
Diversos casos de resistência desta espécie têm sido reportados em outros países como Argentina, Estados Unidos, Austrália, Malásia, China, Japão, Bolívia, Filipinas e Colômbia. Estes casos podem ser de resistência simples ou resistência múltipla, sendo que os mecanismos envolvidos são os inibidores da ACCase, inibidores da EPSPS, inibidores da GS-GOGAT, inibidores do fotossistema I, inibidores da ALS e inibidores da formação de microtúbulos. No Brasil, o único caso de resistência reportado para esta espécie, até então, envolvia os herbicidas inibidores da ACCase.
No sentido de avaliar se tais falhas de controle no campo estavam realmente relacionadas a resistência de capim pé-de-galinha ao glifosato, a Universidade Estadual de Maringá tem conduzido diversos trabalhos de pesquisa desde o ano de 2013.
Nestes trabalhos, sementes de capim pé-de-galinha foram coletadas nas safras de 2013/2014 e 2014/2015 em áreas com histórico de aplicações de glifosato e cultivadas em sistema de sucessão soja/milho, sendo em todos os casos, variedades de soja RR. Nestas áreas, a coleta foi realizada em plantas não controladas pela aplicação do herbicida em pós-emergência da soja. No primeiro ano foram avaliadas 14 diferentes populações oriundas de localidades dos estados do Paraná, Santa Catarina e Goiás, enquanto no segundo foram 16 localidades somente no Paraná. Doses crescentes de glifosato (0, 60, 120, 240, 480, 960, 1920, 3840, 7680 e 15360 g e.a./ ha) foram aplicadas em dois estádios da infestante: com dois a três perfilhos e em plantas com cinco a seis perfilhos, avaliando-se a porcentagem de controle e massa seca aos 28 dias depois da aplicação.
Os resultados obtidos mostraram que menores porcentagens de controle foram observadas para plantas em estádio mais avançado, necessitando de doses mais altas para o controle nestas situações. A partir destes resultados, duas populações da safra de 2013/2014 e 12 populações de 2014/2015 foram consideradas como potencialmente resistentes ao glifosato (fator de resistência entre 2 e 8). Dentre estas populações, uma de Luiziânia e outra de Campo Mourão apresentaram todos os atributos para comprovação de resistência, pois a dose necessária para obter 80% de controle (C80) foi maior que a registrada para o controle desta espécie, e as progênies destas populações também apresentavam as mesmas características.
Além dos experimentos de dose resposta, o mecanismo de resistência também foi investigado comparando plantas resistentes e suscetíveis quanto ao acúmulo de chiquimato após aplicação do glifosato. O chiquimato é um substrato da reação em que o herbicida atua, portanto, após a aplicação do defensivo em plantas suscetíveis. Esta rota é interrompida e o chiquimato é acumulado, o que não ocorre em plantas resistentes. Os resultados revelaram diferenças significativas entre plantas suscetíveis e resistentes, corroborando com a hipótese de que as falhas de controle estariam associadas à seleção de populações resistentes. Posteriormente, fragmentos do gene que codifica a enzima EPSPS foram sequenciados, sendo encontrada uma substituição de um aminoácido na posição 106 da sequência do biótipo resistente. Isto demonstra que a resistência é causada por uma mutação no sítio de ação do glifosato, o que impede que o herbicida desempenhe a sua função.
Portanto, foi comprovado que o capim pé-de-galinha é um novo caso de resistência ao glifosato no Brasil e o mecanismo que confere a resistência envolve uma mutação no sítio de ação do herbicida. Neste sentido, novas pesquisas estão sendo desenvolvidas em conjunto pela Universidade Estadual de Maringá e a equipe técnica da cooperativa Coamo, com o objetivo de proporcionar medidas complementares de manejo destas populações resistentes, tais como associações de herbicidas, utilização de herbicidas pré-emergentes, rotação de mecanismos de ação, rotação de culturas e culturas de cobertura, entre outras.
Hudson Takano, Rubem Silvério de Oliveira JR. e Jamil Constantin, Universidade Estadual de Maringá; Fernando Storniolo Adegas, Embrapa Soja
Artigo publicado na edição 208 da Cultivar Grandes Culturas.
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