Tratamento de sementes de milho

Sementes são um dos meios mais eficientes de disseminação de fungos em milho; tratá-las com fungicidas é excelente opção do ponto de vista econômico e ambiental

03.07.2020 | 20:59 (UTC -3)

Sementes são um dos meios mais eficientes de disseminação de fungos em milho, tanto em campos de produção como em condições de armazenamento. Por isso tratá-las com fungicidas é uma excelente opção do ponto de vista econômico e ambiental.

A semente é um dos meios mais eficientes de disseminação de doenças, considerando-se que através dela os patógenos podem ser transportados a grandes distâncias e introduzidos em novas áreas. As sementes de milho são suscetíveis a vários fungos, que podem causar prejuízos para o estabelecimento da cultura, redução do estande e debilitação das plântulas.

No Brasil, os principais fungos transportados pelas sementes de milho são Fusarium verticillioides e Acremonium strictum, em campos de produção de sementes, e Aspergillus spp. e Penicillium spp., em condições de armazenamento. Danos mecânicos oriundos da colheita mecanizada de sementes de milho podem permitir a entrada de microrganismos de armazenamento e do solo, aumentando o índice de podridão do lote, principalmente na região do embrião. Assim, o tratamento de sementes de milho tem por objetivo, também, o controle dos fungos do solo, como as espécies dos gêneros Pythium, Rhizoctonia, Fusarium e Stenocarpella. Essas espécies podem causar podridões de sementes, morte de plântulas em pré e pós-emergência, e podridões radiculares, o que promove a formação de um estande irregular.

O fungo Fusarium verticillioides é causador das podridões de colmo e da espiga ou fusariose. Tem poder de provocar a morte de plântulas, ocasionada por necrose no coleóptilo, além de causar apodrecimento das raízes da base da planta e dos entrenós inferiores. Na fase de maturação fisiológica dos grãos, a doença torna-se mais severa, formando massa de esporos de cor rosa-salmão na parte externa do tecido afetado. A doença vem aumentando nos últimos anos principalmente em áreas com sistema de cultivo em plantio direto e sem rotação de culturas.

Redução de estande na lavoura de milho causado por Fusarium verticillioides. No detalhe, coleóptilo e raiz de plântulas de milho atacadas pelo patógeno. - Foto: João Américo Wordell Filho
Redução de estande na lavoura de milho causado por Fusarium verticillioides. No detalhe, coleóptilo e raiz de plântulas de milho atacadas pelo patógeno. - Foto: João Américo Wordell Filho
Imagem de microscopia de luz: hifas e microconídios de Fusarium verticillioides. – Foto: Renata Rebellato Linhares
Imagem de microscopia de luz: hifas e microconídios de Fusarium verticillioides. – Foto: Renata Rebellato Linhares

As sementes de milho são rotineiramente tratadas com defensivos químicos e esta prática é uma excelente opção, não só pela eficiência, mas também pela economia e por apresentar menor impacto ambiental, em comparação com produtos aplicados via foliar ou no sulco de plantio.  

Nesse sentido, foi conduzido um trabalho para verificar a eficiência de diferentes fungicidas no tratamento de sementes de linhagens e híbridos de milho, para o controle de Fusarium verticillioides. O estudo foi realizado no Laboratório de Patologia de Sementes, situado no Departamento de Fitopatologia e Nematologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Piracicaba/SP). Foram utilizadas sementes de seis linhagens e três híbridos resultantes do cruzamento dessas linhagens (Tabela 1). Essas sementes foram cedidas pela empresa Melhoramento Agropastoril Ltda., especializada em melhoramento genético de milho.

As sementes foram tratadas com os fungicidas de acordo com a dose do fabricante (Tabela 2). Os produtos, em um volume de calda de 0,5% do peso das sementes, foram adicionados sobre as sementes em sacos plásticos, agitando-se vigorosamente até a completa cobertura e, posteriormente, submetidas à secagem na sombra. O tratamento correspondente à testemunha foi tratado com 0,5% de água destilada.

A avaliação foi realizada através dos testes de sanidade, de germinação e de emergência de plântulas em estufa. A qualidade sanitária das sementes foi analisada utilizando-se o método do papel de filtro com congelamento e a germinação utilizando-se o método do rolo de germinação (papel toalha), ambos segundo as Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009). Para determinação da emergência de plântulas foi realizada a semeadura em caixas plásticas de 43 x 30 x 11 cm, contendo substrato. Foram mantidas em estufa e, a partir do início da emergência, anotado diariamente o número de plântulas normais emergidas até que o processo se estabilizasse. Com esses dados foram obtidos outros índices de vigor, sendo estes o índice de velocidade de emergência (IVE) e a porcentagem de plântulas emergidas.

Foram identificados no teste de sanidade das nove amostras testadas os seguintes fungos: Fusarium verticillioides, Acremonium strictum, Penicillium spp. e Aspergillus spp. Todos os produtos reduziram a incidência de F. verticillioides, Penicillium spp. e Aspergillus spp., com destaque para os produtos à base de carbendazim + tiram + captana e fludioxonil + azoxystrobin + metalaxil-M + tiabendazol, que tiveram maior eficiência principalmente no controle de F. verticillioides. Esses mesmos tratamentos foram os que se destacaram na redução da incidência de A. strictum.  Isso pode ser verificado na Figura 1, em que a coloração das barras representa os tratamentos das sementes e as menores barras indicam menor incidência do fungo transportado pelas sementes. Os melhores tratamentos foram aqueles cujos produtos continham maior número de ingrediente ativo. Essa correlação positiva entre os produtos e o aumento da eficiência no controle de fungos pode ser chamada de sinergismo de substâncias.

Figura 1 - Porcentagem de incidência de fungos, valores médios das nove amostras de sementes, com os respectivos tratamentos. (1) Médias seguidas pela mesma letra em cada fungo não diferem estatisticamente pelo teste de Scott-Knott, ao nível de 5% de probabilidade.
Figura 1 - Porcentagem de incidência de fungos, valores médios das nove amostras de sementes, com os respectivos tratamentos. (1) Médias seguidas pela mesma letra em cada fungo não diferem estatisticamente pelo teste de Scott-Knott, ao nível de 5% de probabilidade.

No teste de germinação, verificou-se na primeira contagem (considerada como um parâmetro de vigor) maior número de plântulas normais em todos os tratamentos com fungicidas em relação ao sem fungicida. Infere-se que este aumento no vigor esteja relacionado com o controle do fungo F. verticillioides, observado no teste de sanidade. Os demais parâmetros avaliados não foram eficientes em discriminar os tratamentos em relação à qualidade fisiológica das sementes (Tabela 3).

Assim, os tratamentos que se destacaram foram carbendazim+tiram+captana e fludioxonil+azoxystrobin+metalaxil-M+tiabendazol reduzindo a incidência dos fungos sem afetar a qualidade fisiológica das sementes. Estes produtos podem ser usados na produção de milho, a fim de auxiliar os produtores tanto de sementes, na obtenção de híbridos com alto potencial de rendimento, quanto de grãos, no estabelecimento de lavouras com o estande desejado.

Teste de emergência em substrato aos 9 dias após a semeadura. Plântulas de milho do híbrido AM 997.
Teste de emergência em substrato aos 9 dias após a semeadura. Plântulas de milho do híbrido AM 997.

Produção de milho

O milho (Zea mays L.) é o cereal mais produzido no mundo, sendo o Brasil o terceiro maior produtor, atrás dos Estados Unidos e da China. Na safra 2015/2016, estima-se que a produção nacional atinja 69,1 milhões de toneladas (CONAB, 2016), representando uma das principais atividades produtivas, ficando atrás em produção apenas para as culturas da cana-de-açúcar e da soja. A cultura desempenha papel fundamental na alimentação humana e, principalmente, animal, pois em sua maioria os grãos são destinados para a fabricação de rações. Estima-se que população mundial, atualmente com mais de sete bilhões de pessoas, terá, até 2050, nove bilhões de indivíduos. Considerando este cenário mundial, o milho é uma cultura que apresenta um grande potencial, principalmente como uma fonte de energia a ser explorada a fim de se alcançar a sustentabilidade, e também suprir uma demanda de alimentos cada vez maior por parte da humanidade. 

No início do século XX, pesquisas realizadas em diversas áreas, principalmente no melhoramento genético, possibilitaram a obtenção do milho híbrido (cruzamento forçado entre duas plantas de linhagens puras), sendo esta a principal causa do aumento espetacular em produtividade de grãos na cultura. O crescimento na produtividade contribui diretamente com a sustentabilidade, já que se produz mais em uma mesma área, significando menos desmatamento. O desafio dos melhoristas atualmente está em continuar produzindo novos híbridos que possam substituir com vantagens os existentes.
Em um programa de melhoramento, a escolha de linhagens e híbridos de milho é influenciada pelo potencial genético da espécie, que está diretamente relacionado com o seu rendimento. Para que o potencial genético possa ser expresso é necessário que as sementes possuam alta qualidade fisiológica e sanitária, ou seja, com alto potencial de germinação e vigor altos e baixa incidência de patógenos.


Renata Rebellato Linhares, Maria Heloísa Duarte de Moraes, Mariane Sayuri Ishizuka e José Otávio Machado Menten, Universidade de São Paulo (USP)


Artigo publicado na edição 208 da Cultivar Grandes Culturas.

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