Estratégias de combate do bicudo-do-algodoeiro
Combate exige atenção permanente, manejo intenso e ausência de plantas de algodão na entressafra
Responsável por intensa desfolha nas plantas de café e por prejuízos severos à produtividade, o bicho mineiro ostenta o título de praga de maior importância agronômica na cafeicultura. Seu manejo passa primeiro por monitoramento criterioso para a determinação do nível de dano e a posterior adoção de medidas de controle.
A praga de maior importância agronômica na cafeicultura é o bicho mineiro. Caracterizada por ser uma mariposa pequena, possui ciclo de vida completo (metamorfose completa), ou seja, seu ciclo se inicia na fase de ovo, evolui como lagarta, pupa ou crisálida e posteriormente se torna adulta. Cada mariposa põe, em média, 36 ovos em um período de até 25 dias, justificando assim sua importância, pois devido ao ciclo curto, a infestação é muito rápida e severa.
A mariposa pertence a ordem Lepdoptera, sendo da espécie Leucoptera coffeella. Os hábitos do inseto são noturnos, sendo que se escondem nas folhagens durante o dia, e ao entardecer realizam suas atividades de postura e predação das folhas.
O Bicho mineiro possui esse nome pelo fato de as larvas penetrarem nas folhas e se alimentarem do tecido, deixando um vazio entre as duas epidermes da folha, conhecidas como “minas”. Essa região posteriormente se transformará em manchas necróticas reduzindo assim a área fotossintética da planta. Outro dano que pode ocorrer é a desfolha interferindo na produção, na formação de botões florais e na florada. Dessa forma, dependendo da intensidade dessa praga além de afetar a produção do ano de infestação, pode atingir também a safra seguinte, porque devido aos danos à atividade metabólica da planta, o ramo vegetativo terá seu crescimento reduzido, e consequentemente menor produção no segundo ano do biênio.
O clima é um fator de enorme influência nos ataques desta praga, que ocorre mais em regiões com temperaturas elevadas associadas a estiagens e baixa umidade relativa, período que vai de março a setembro. Outros fatores também afetam a incidência dessa praga, como o uso excessivo de inseticidas que podem interferir no equilíbrio de inimigos naturais do bicho mineiro, adubações insuficientes deixando as plantas mais sensíveis ao ataque e espaçamentos mais largos, que propiciam maior circulação do ar, sendo o vento fator de disseminação do inseto.
A mosca do bicho mineiro, na sua fase larval, se alimenta apenas nas folhas do cafeeiro, causando lesões (minas), que evoluem para o aspecto necrótico, com coloração escura. Como consequência do ataque, a área foliar da planta sofre redução, o que implica diretamente na diminuição da taxa fotossintética produzida pela planta. Isso é um fator que acarreta em prejuízos ao desenvolvimento vegetativo e também menor produtividade da cultura.
Outro dano causado pelo bicho mineiro é a queda das folhas. De acordo com a intensidade do ataque da praga pode ocorrer desfolhas drásticas no cafeeiro, começando do terço superior para as regiões baixeiras da planta. Nas plantas em produção, a infestação é maior no terço superior da planta. Em caso de intensa desfolha do cafeeiro a sua recuperação pode durar até dois anos. Esses prejuízos acarretam queda na produção da lavoura, diminuindo o lucro e aumentando gastos com a recuperação. Por fim, vale ressaltar que mesmo em diferentes épocas do ano, onde ocorre o ataque da praga, a produção cafeeira será afetada, como principalmente na fase de formação dos botões florais onde as perdas atingem até 50% da safra.
O monitoramento é uma das práticas de maior importância para o controle e manutenção da praga na cultura. Deve ser realizado sistematicamente, de modo que a quantificação dos níveis de infestação irá servir para a tomada de decisão do momento correto de se iniciar o controle químico.
A etapa de planejamento é muito importante, pois é nesta hora que o cafeicultor vai dividir as glebas da lavoura, obtendo áreas homogêneas até 10ha. As planilhas de anotações devem ser elaboradas para a coleta dos dados. Estes dados históricos também podem servir como ferramenta para os anos posteriores, indicando locais onde a infestação é antecipada ou com maior intensidade.
A partir do planejamento, é hora da execução da amostragem para levantamento das informações da área de cultivo. Sobretudo, para o monitoramento do bicho mineiro as folhas amostradas devem estar localizadas no terço médio das plantas, pois é neste local onde os níveis de infestação são mais severos.
A escolha das plantas a serem utilizadas para a amostragem deve se dar ao acaso, totalizando cerca de 20 plantas por gleba homogênea, e coleta de uma folha adulta (expandida), localizada entre o terceiro (3º) ou quarto (4º) par de folha, em 5 galhos de um lado da planta. O caminhamento deve ser em zigue zague de forma que a amostragem seja o mais representativa possível.
A época de amostragem também é de grande importância, pois há períodos estratégicos de coleta em campo, isto devido aos picos de infestação do patógeno na cultura. Neste sentido, o monitoramento do bicho mineiro é realizado em duas épocas do ano, sendo a primeira compreendida entre os meses de setembro e outubro, pois o tempo está seco e propício a disseminação desta praga, assim como de março a abril. Portanto, cabe aos cafeicultores maior atenção ao bicho mineiro nestas épocas do ano, garantindo assim, maior eficiência no controle em caso de infestação, isto devido ao controle no momento correto.
Após a obtenção das informações da época ideal de se iniciar o monitoramento, assim como a metodologia a ser utilizada, o próximo passo é qual a forma de se avaliar o material coletado. No caso do bicho mineiro, as anotações devem estar divididas em duas colunas, uma com o número de folhas com minas ativas (NFCMA) e a outra com o número de folhas com minas rasgadas (NFCMR). Sobretudo, estas informações são utilizadas no cálculo de infestação, que é a principal ferramenta indicadora para o momento de iniciar o controle.
A partir da obtenção do nível de infestação de bicho mineiro na lavoura o cafeicultor pode lançar mão de estratégias de controle, sendo que em situações onde os níveis de infestação chegam a 30% no terço médio das plantas ou 20% no terço superior, o produtor deve começar o controle pois já está no nível de dano econômico à cultura. Em lavouras novas, o cálculo de infestação é desnecessário, e a partir da constatação das primeiras folhas minadas o controle deve ser realizado. Vale ressaltar que o cafeicultor deve analisar cada talhão separadamente, e somente realizar o controle naqueles que atingiram os níveis de dano econômico, para assim preservar os inimigos naturais situados no local.
Sobretudo, o georreferenciamento é uma das técnicas mais atuais que vem sendo utilizada para amostragem e monitoramento de pragas e doenças na agricultura, permitindo maior eficácia no levantamento das informações.
Afim de evitar a ocorrência da praga ou ameniza-la é importante que seja feito o monitoramento da área pelo produtor ou técnico responsável. Dessa forma pode observar a presença ou não de ovos e larvas nas folhas do cafeeiro, como também a presença da mosca. A partir desse levantamento é indicado, de acordo com a necessidade, adotar formas de controle para o bicho mineiro, com objetivo de diminuição dos níveis de infestação e controle do patógeno. Os mais comumente utilizados são o químico, cultural, genético e em alguns casos o controle biológico.
Contudo, o controle químico, por meio da utilização de inseticidas é o mais utilizado, pois seu resultado é rápido e na maioria das vezes mais eficiente no controle do inseto. Desta forma, os inseticidas de ação sistêmica são os mais empregados e podem ser aplicados junto a pulverizações foliares, para diminuir os custos operacionais. O controle químico somente deve ser realizado quando os níveis de infestação atingirem 30%. Importante ressaltar que o cafeicultor não deve lançar mão da pulverização com inseticidas sem a recomendação adequada.
Já o controle genético consiste em busca por cultivares que sejam resistentes ao ataque do bicho mineiro. O mercado dispõe de várias pesquisas, em diversas regiões, para alcançar o resultado esperado pelo melhoramento genético. É possível citar os trabalhos da fundação Procafé, que recentemente lançou a cultivar Seriema, com alelos que lhe conferem resistência à infestação deste patógeno.
Por meio de técnicas como a estruturação de plantios intercalares ou até mesmo quebra ventos a incidência do bicho mineiro é reduzida. Isso ocorre devido ao controle cultural desta praga.
Por fim, há o controle biológico, feito com inimigos naturais da praga, sendo algumas espécies de parasitas, entopatógenos ou predadores. O uso de feromônios sexuais, em armadilhas, também é uma forma de controle biológico, com poder de atrair o macho e evitar a reprodução das moscas. Esse tipo de controle necessita de condições ideias para um bom resultado, e muitas vezes, dependendo da incidência do bicho mineiro, pode ser inviável.
A correlação entre a incidência de bicho mineiro no café e o desbalanço nutricional entre os elementos N e K já é estudada e tem seus efeitos elucidados parcialmente.
Salvo exceções, na maioria dos casos, o desequilíbrio entre N e K acentuam a infestação de bicho mineiro. Isso ocorre quando os teores de N estão muito elevados em comparação aos teores de K. Justifica-se esta infestação devido à atividade metabólica desempenhada pelo nitrogênio dentro da planta, estruturando e formando aminoácidos, e consequentemente acarretando em maior vegetação na planta. Sobretudo pela associação do N no metabolismo, as folhas tornam-se mais frágeis por conta do intenso crescimento e são mais suscetíveis ao ataque desta praga.
Por outro lado, quando em baixas quantidades de K, o desbalanço inibe a lignificação. Neste sentido, sabe-se que a lignificação é favorecida pela presença do potássio, que torna a folha mais rígida e menos exposta ao ataque deste patógeno.
Outro fator que é associado a presença e infestação do bicho mineiro é a aplicação de cobre (Cu), por meio de pulverizações foliares a base de fungicidas cúpricos, em épocas de estiagem, ou seja, em períodos secos. Neste caso, a atuação do cobre sobre as folhas do cafeeiro implica na maior propensão ao ataque da praga, visto que se apresentam mais suscetíveis. Outra explicação pode ser a alteração do micro ambiente na área de cultivo, onde a ação cúprica possa inibir/prejudicar os inimigos naturais deste patógeno, aumentando assim sua eficiência reprodutiva e consequente disseminação.
Nestes últimos anos foi observada elevada incidência de bicho mineiro nas lavouras cafeeiras, inclusive em regiões como o sul de Minas Gerais e Alta Mogiana, que comumente não apresentavam problemas graves com esta praga. A causa desta infestação severa do bicho mineiro nestes anos está associada a mudanças do clima. As chuvas se iniciaram mais cedo, no final de agosto e começo de setembro, porém a estiagem acompanhada de veranico também começou mais cedo, no final de dezembro, gerando assim maior propensão a disseminação da praga.
Esta ampla disseminação foi favorecida porque a praga antecipou seu ciclo de reprodução em uma fase, devido ao clima favorável ao bicho mineiro, fazendo com que a população dos insetos e sua instalação na cultura já tivessem adiantados no momento em que comumente as aplicações com inseticidas são realizadas, ou seja, no final de dezembro/começo de janeiro. Como consequência disso, as formas de controle foram pouco eficientes, pois a partir do momento em que a infestação atinge níveis elevados de danos às lavouras (alta porcentagem de folhas infestadas) os inseticidas não têm tanta eficácia, evitando a infestação por um curto espaço de tempo.
Os danos observados pela presença de bicho mineiro nas lavouras cafeeiras nos anos de 2014 e 2015 foram muito severos. Porém, devido ao retorno da chuva, depois do ataque à cultura, o fluxo de seiva dentro da planta permaneceu elevado, assim como sua atividade metabólica, gerando essa condição atípica, onde mesmo com a presença de “minas” não houve queda das folhas.
Giovani Belutti Voltolini, GHPD/Necaf; Larissa Cocato da Silva, Ufla/Necaf; Dalyse Toledo Castanheira, Pedro Menicucci Netto, Thales Lenzi C. Nascimento e Ricardo Nascimento L. Paulino, Ufla/GHPD/Necaf
Artigo publicado na edição 208 da Cultivar Grandes Culturas.
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