Reação de espécies de plantas daninhas ao nematoide Meloidogyne incognita

Por Celso Mattes de Oliveira, da Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas, e Luiz Henrique Carregal

26.12.2023 | 16:08 (UTC -3)

Ao longo do desenvolvimento da agricultura e da pecuária, as plantas que infestavam diretamente as áreas de ocupação humana e que não apresentavam importância ao homem e ou animais eram consideradas indesejáveis, sendo denominadas plantas daninhas (Braz et al., 2016).

A presença de plantas daninhas nas áreas de plantio sempre traz preocupação aos agricultores, porque além de competir com a cultura principal reduzindo a produtividade, as daninhas podem servir como hospedeiras intermediárias de diversas pragas e doenças durante os períodos de safra e entressafra. Nos ambientes agrícolas, as espécies infestantes frequentemente levam vantagem competitiva sobre as plantas cultivadas. Isso ocorre porque as plantas daninhas apresentam características como elevada taxa de crescimento, grande habilidade reprodutiva e alta capacidade de exploração de nutrientes do solo, garantindo a sobrevivência em uma vasta variedade de ambientes (Pitelli, 1985).

O problema adquire maior gravidade quando se verifica que os nematoides formadores de galhas (gênero Meloidogyne), extremamente nocivas às diversas espécies cultivadas, são encontrados com grande frequência infestando raízes de plantas daninhas (Ferraz et al., 1978), limitando a eficiência de determinadas medidas de controle destes patógenos, como a rotação de culturas. Os nematoides parasitas de plantas causam consideráveis reduções na produtividade agrícola e os danos causados por estes dependem da suscetibilidade da cultura, das condições ambientais, da presença de outros patógenos com quem interajam e de sua densidade populacional (Lopes e Vieira 2011).

O gênero Meloidogyne é também o grupo de maior importância econômica na agricultura (Moens et al., 2009). Dentre eles, M. incognita apresenta ampla distribuição geográfica, alta severidade dos danos causados nas diferentes culturas e grande dificuldade de controle, sendo responsáveis por prejuízos crescentes. Estes nematoides incitam galhas nas raízes e causam redução na absorção de água e nutrientes, culminando em nanismo da planta (Tihohod 2000). Estas características, associadas ao elevado número de hospedeiras alternativas, permitem sua presença nas mais distintas áreas agrícolas. Dentre as espécies que são parasitadas oportunamente por nematoides, as plantas daninhas apresentam elevada importância, em especial, durante a entressafra das culturas agrícolas (Bellé et al., 2017). 

 Neste contexto, diferentes espécies de plantas daninhas têm sido reconhecidas como hospedeiras de Meloidogyne spp., em todo o mundo (Roese e Oliveira, 2004; Rich et al., 2008; Mônaco et al., 2009), o que contribui para o aumento das populações dos nematoides no solo, dificultando seu controle e agravando os prejuízos sobre o desenvolvimento das culturas agrícolas.

A partir do elevado potencial polifágico de M. incognita torna-se importante o conhecimento da reação das plantas invasoras aos nematoides de galha, permitindo um manejo adequado e o controle eficiente. Dessa forma, objetivou-se com o presente trabalho avaliar a reação de espécies de algumas plantas daninhas ao nematoide de galha M. incognita

O experimento foi instalado e conduzido em casa de vegetação na estação experimental da Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas, município de Rio Verde, GO, durante a safra 2018/19. Foi avaliada a reação de 17 espécies de plantas daninhas a M. incognita, conforme descrito na tabela 1. O delineamento experimental utilizado foi o delineamento inteiramente casualizado (DIC) com 17 tratamentos, quatro repetições e dois vasos por parcela.

As sementes das plantas daninhas são provenientes do setor de herbologia da Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas e foram semeadas em substrato comercial Bioplant contido em bandejas de isopor. A semeadura foi iniciada pelas sementes das plantas daninhas com menor velocidade de germinação e desenvolvimento e, finalizada com as espécies de rápida germinação. Assim, manteve-se a homogeneização de desenvolvimento no momento da inoculação. As mudas foram transplantadas 12 dias após a emergência para vasos de 300 cm³ contendo apenas o substrato comercial estéril Bioplant, mantendo-se cinco plantas por vaso. A Inoculação foi realizada no quinto dia após o transplante.

O inóculo empregado no ensaio e oriundo de mudas de tomates Santa Clara previamente infestadas e utilizadas como substrato para manutenção da criação de nematoides em casa de vegetação. Todos os vasos contendo plântulas das invasoras receberam 2 mL do inóculo contendo 5.000 espécimes (ovos + juvenis de segundo estádio (J2)). Para tanto, foram realizados três orifícios de aproximadamente 2 cm de profundidade, abertos ao redor das plantas. Tomateiros ‘Santa Clara’ foram utilizados como testemunhas da viabilidade do inóculo utilizado.

A população de M. incognita foi analisada aos 30 dias após a inoculação (DAI). O número de ovos e de J2 (juvenil de segundo estádio) de M. incognita após a extração foi analisada e quantificada com o auxílio de câmara de Peters em microscópio. 

Os fatores de reprodução foram estimados através da razão entre a população final e a inicial (Fr = população final / população inicial). Considerou-se a população de 30 dias como a população final e a população inoculada (5.000 ovos + juvenis) como sendo a população inicial. Aquelas que apresentaram Fr < 1 foram consideradas resistentes; Fr > ou = 1 foram consideradas suscetíveis e Fr = 0, imunes (tabela 1).

De acordo com a análise dos dados obtidos no presente estudo, verificou-se que mais de 85% das espécies de plantas daninhas testadas, mostraram-se suscetíveis ao nematoide M. incognita, apresentando fator de reprodução maior que uma unidade (tabela 1). A viabilidade do inóculo pode ser comprovada pelos valores médios do fator de reprodução encontrado nas plantas de tomate Santa Clara, o qual foi da ordem de 21,40, indicando intensa multiplicação do nematoide.

A maioria das espécies de nematoide causadores de galha pode ser facilmente identificada a campo em relação ao gênero, mesmo por pessoas que sejam especialistas no assunto, uma vez que as galhas (hipertrofia e hiperplasia de células) são visíveis a olho nu. A identificação ao nível de espécie deve ser realizada em laboratório de nematologia por pessoas qualificadas. Entretanto, em algumas casos, as galhas não são induzidas na planta, mesmo que seja hospedeira e multiplique o nematoide, o que pode dificultar a identificação visual do gênero.

Dentre as espécies aqui estudadas, Digitaria insularis, Eleusine indica, Commelina benghalensis, Nicandra physaloides, Conyza bonariensis, Ipomoea grandifolia, Cenchrus echinatus, Bidens pilosa, Amaranthus viridis, Digitaria horizontalis, Alternanthera tenella, Euphorbia heterophylla e Portulaca oleracea comportaram-se como suscetíveis ao nematoide das galhas. Apenas as espécies Spermacoce latifolia, Chloris polydactyla e Crotalaria ochroleuca não multiplicaram o nematoide M. incognita (tabela 1).

 Algumas espécies de plantas daninhas aqui relatadas como resistentes, imunes ou suscetíveis, podem divergir de outros estudos devido a variabilidade intraespecífica das plantas daninhas ou mesmo a variação fisiológica (raça 1, 2, 3 e 4) das populações de M. incognita.

O conhecimento do fator de reprodução do nematoide em plantas daninhas é de extrema importância, pois representa a capacidade deste nematoide multiplicar no solo, mesmo em época de entressafra. Isto implica na necessidade de adoção de práticas de controle de plantas daninhas que são suscetíveis ao nematoide em áreas onde este esteja presente. Vale ressaltar que em áreas infestadas com nematoides, o prejuízo provocado por plantas daninhas tende a ser maior, pois além de multiplicar o nematoide no solo, ainda compete com a cultura por fatores abióticos como água, luz e nutrientes. Outro fato que deve ser mencionado, é que algumas espécies resistentes a certos herbicidas, como é o caso da Buva (Conyza bonariensis), pode ser um agravante no que diz respeito ao manejo de nematoides, visto que estas espécies permanecerão no solo, mantendo ou multiplicando o parasita.

As estratégias de manejo são específicas para cada espécie de nematoide e, portanto, um engenheiro agrônomo deve ser sempre consultado.

*Por Celso Mattes de Oliveira, da Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas, e Luiz Henrique Carregal 

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