Cigarrinha: 5 dicas para o controle e manejo desta praga
Por Fabrício Pacheco, gerente de Produtos da Adama
Causada por Ceratocystis paradoxa, a podridão do abacaxi é uma doença fúngica que ataca a cana-de-açúcar e provoca prejuízos capazes de comprometer a produtividade em até 35%. Seu manejo exige integração de medidas, que incluem atenção à época do plantio e emprego de fungicidas quando necessário.
Dentre os fungos que podem atacar os rebolos de cana-de-açúcar após o plantio, destaca-se a espécie Ceratocystis paradoxa, agente causal da doença conhecida como Podridão Abacaxi. Esse fungo é capaz de atacar diversas plantas, como bananeira, palmeira, coqueiro e abacaxizeiro, e está presente em praticamente todas as regiões produtoras de cana do país.
A Podridão Abacaxi inibe ou retarda a germinação da cana. Áreas atacadas ficam com aspecto irregular, apresentando muitas falhas; em alguns casos, é necessário o replantio, operação bastante onerosa. Os prejuízos não se resumem às falhas, mas também ao menor desenvolvimento das plantas. Áreas com ataques severos de Podridão Abacaxi podem apresentar reduções de até 35% na produtividade. Havendo queda de produtividade, é certo que a rentabilidade do produtor também será afetada.
Dos fatores ambientais que influenciam a germinação da cana, a temperatura é o mais importante. Para uma germinação satisfatória, a temperatura do solo deve estar acima de 21°C. De um modo geral, pode-se afirmar que em temperaturas abaixo de 21°C o desenvolvimento das gemas é bastante lento; acima de 21ºC, a velocidade de germinação aumenta progressivamente e atinge um ótimo entre 31°C e 36°C. Outro fator importante é a umidade do solo; sua falta, ou até mesmo o excesso, podem prejudicar a germinação.
Quando condições desfavoráveis de temperatura e umidade atrasam a germinação da cana, os esporos de Ceratocystis paradoxa presentes no solo são estimulados a germinar por substâncias liberadas pelos rebolos e penetram por suas extremidades. Essa observação é particularmente importante, pois durante o plantio os colmos são seccionados em rebolos de três a quatro gemas, medida que ajuda a uniformizar a germinação; por outro lado, as extremidades dos rebolos são a principal porta de entrada para o fungo.
Em rebolos recém-invadidos, observa-se um encharcamento, que se inicia na região do corte e que se aprofunda rapidamente, acompanhado por um avermelhamento na parte interna dos rebolos, decorrente da produção de substâncias de defesa pela planta. À medida que a podridão avança, a coloração interna dos rebolos vai se alterando, passando para cinza, pardo-escura e negra. Nesta última fase, somente a casca dos rebolos continua intacta; os feixes vasculares internos estão soltos e recobertos por uma massa negra de esporos do fungo.
Rebolos infectados podem começar o desenvolvimento de raízes e gemas. No entanto, são geradas plantas fracas, que morrem antes de emergirem do solo, ou que são dominadas pelo mato ou pela competição com plantas vizinhas. O sintoma típico da Podridão Abacaxi é a fermentação dos rebolos, que passam a exalar odor característico de abacaxi maduro. Esse sintoma ocorre principalmente nas fases iniciais do ataque, quando os rebolos ainda possuem reservas de açúcar.
Outros fatores que retardam a germinação da cana e favorecem a Podridão Abacaxi são o uso de mudas de má qualidade, cobertura muito profunda dos rebolos e plantios em solos mal preparados. Os impactos da Podridão Abacaxi tendem a crescer com a adoção do plantio mecanizado. Neste sistema, os rebolos são colhidos mecanicamente e, por isso, possuem mais ferimentos em relação aos apanhados manualmente. Com isso, aumentam-se as portas de entrada para o fungo.
Dentre os métodos que podem ser empregados para minimizar a Podridão Abacaxi, o mais simples e eficaz é a escolha da época de plantio. Quando existem condições ótimas de temperatura e umidade para a germinação da cana, o fungo pode estar presente no solo, porém seus danos não ocorrem. Assim que as plantas emergem do solo e começam os processos fotossintéticos, se tornam imunes à doença. Na região Centro-Sul do Brasil, o plantio realizado entre os meses de setembro e março é suficiente para controlar a doença.
Porém, quando a escolha da época de plantio não é possível, outras técnicas devem ser empregadas para o manejo da Podridão Abacaxi. Dentre os métodos disponíveis, qualquer medida que estimule a germinação rápida da cana reduz os impactos da doença. Por exemplo, variedades de rápida germinação e com boa velocidade de desenvolvimento inicial são consideradas resistentes ao fungo e devem ser utilizadas. Outra medida eficaz é empregar rebolos com gemas mais jovens, que germinam mais rápido que as gemas mais velhas.
Antes do plantio, deve-se fazer um bom preparo de solo, com o objetivo de eliminar os torrões e reduzir a compactação, fornecendo melhores condições para a germinação da cana. Além disso, os rebolos devem ser plantados em uma profundidade adequada, uma vez que plantios muito profundos atrasam a germinação e favorecem a ação do fungo.
O corte dos colmos em rebolos maiores, ou mesmo o plantio de colmos inteiros, também reduz o impacto da Podridão Abacaxi. Essa prática tem efeito sobre a doença porque há uma diminuição na quantidade de ferimentos nos rebolos e, consequentemente, diminuem-se as portas de entrada para o fungo.
Quando os rebolos são provenientes de colheita mecanizada, é recomendável o plantio em maiores densidades, ou seja, utilizar uma quantidade maior de gemas por metro de sulco. Essa medida compensa as possíveis falhas de germinação devido à Podridão Abacaxi, uma vez que os rebolos colhidos mecanicamente são menores e mais danificados que os colhidos manualmente. Em alguns casos, o plantio em maiores densidades evita o replantio na área, operação onerosa para usinas e produtores.
A aplicação de fungicidas nos rebolos também produz bons resultados no controle da Podridão Abacaxi e vem sendo bastante utilizada nos plantios de inverno. Seu uso é indispensável quando o plantio é realizado em condições desfavoráveis à germinação e em áreas com histórico comprovado da doença. Alguns fungicidas proporcionam aumentos de 15% a 20% na produtividade em comparação a áreas ou parcelas onde nenhum tratamento foi realizado. Os produtos agem protegendo as extremidades dos rebolos contra a penetração do fungo ou, em alguns casos, acelerando a germinação da cana. Existem diversos produtos registrados para o controle da Podridão Abacaxi, sendo que a maioria é composta por uma mistura de estrobilurina com triazol.
É possível concluir que existem diversas maneiras de se controlar a Podridão Abacaxi, caso se opte pelo plantio de inverno. Porém, o ideal não é utilizar as diferentes técnicas isoladamente. Ao invés disso recomenda-se fazer o manejo integrado, isto é, utilizar os métodos de controle em conjunto, desde o preparo de solo até o plantio, para reduzir os impactos da doença de maneira sustentável e sem aumentar consideravelmente os custos de produção.
Produção de cana e plantio no inverno
O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, seguido por Índia, China, Tailândia e Paquistão. A produção brasileira na safra 2015/16 está estimada em 658 milhões de toneladas, em uma área de aproximadamente nove milhões de hectares. A produtividade deverá ser 3,9% superior em relação à safra anterior, passando de 70,5 t/ha para 73,2 t/ha. A produção de açúcar será próxima de 35 milhões de toneladas e a de etanol será superior a 29 bilhões de litros. São Paulo é o maior estado produtor, com mais de 50% da produção nacional, seguido por Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Paraná.
Na região Centro-Sul do Brasil, a maior parte do plantio de cana-de-açúcar é realizado entre os meses de setembro e março, período mais quente e chuvoso do ano, quando predominam condições favoráveis à germinação. No entanto, vem crescendo o número de usinas e produtores que fazem o plantio de inverno, realizado entre abril e agosto.
Algumas vantagens do plantio de inverno são a alta produtividade e o fato da área não passar um ano sem colheita, como acontece no plantio de ano e meio, realizado entre janeiro e março. Outra vantagem é que o plantio de inverno permite que usinas e produtores façam o plantio de cana praticamente durante o ano todo. Ao distribuir o plantio ao longo do ano, usinas e produtores utilizam seus maquinários de maneira mais racional; há um ganho em eficiência e diminui-se o número de equipamentos necessários para plantar toda a área.
Entretanto, o plantio de inverno possui algumas desvantagens. Uma delas é a necessidade de irrigação, pois o plantio é realizado na época mais seca do ano. Além disso, predominam condições de baixas temperaturas que, aliadas à menor oferta hídrica, atrasam a germinação da cana; dessa forma, os rebolos - pedaços de colmos utilizados no plantio e que possuem de três a quatro gemas - ficam expostos a algumas espécies de fungos presentes no solo, que podem causar podridões nos mesmos.
Roberto Giacomini Chapola, PMGCA/UFSCar/Ridesa
Artigo publicado na edição 203 da Cultivar Grandes Culturas.
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