Como armazenar corretamente
Um dos problemas na hora de armazenar a safra colhida é o processo de secagem, que muitas vezes acaba comprometendo a qualidade dos grãos
A oferta hídrica e de nutrientes de modo adequado é fundamental para o crescimento e a produtividade do cafeeiro. Por isso o uso da irrigação e o manejo da nutrição, quando adotados de modo racional e criterioso, são ferramentas que podem auxiliar o produtor a obter melhores resultados.
A periodicidade de crescimento do cafeeiro está associada a diversos fatores ambientais, como o suprimento de água e nutrientes. A ocorrência do déficit hídrico em determinadas fases do ciclo fenológico, como a que antecede o início da floração, pode comprometer a produtividade da cultura.
A maior parte das lavouras de café conilon do Espírito Santo ocupa áreas nas regiões norte e noroeste, que são consideradas marginais, de baixas altitudes, temperaturas mais elevadas, com solos de baixa fertilidade e que sofrem constantemente com problemas de baixa oferta de água (BUSATO et al., 2007), fazendo com que uma adubação equilibrada e correto manejo da água sejam indispensáveis para melhoria da produtividade e da qualidade do produto. Neste sentido, a adoção da irrigação tem por objetivo um manejo adequado da cultura e possibilita incrementos em produtividade que podem variar de 20% a 260% (SILVA; REIS, 2007).
Dentre os sistemas de irrigação comumente empregados na cafeicultura irrigada no Norte Capixaba, destacam-se os sistemas localizados (gotejamento convencional, gotejamento com “microjet” e microaspersão) e por aspersão (pivô central, aspersão convencional e fixa). Embora os sistemas localizados apresentem maior potencial de economia de água, associados à alta uniformidade e eficiência de aplicação, nos últimos anos tem havido uma tendência na implantação de sistemas novos de aspersão fixa. Nesse sentido, o manejo da irrigação constitui uma técnica muito importante do ponto de vista econômico e ambiental em uma atividade agrícola irrigada, proporcionando economia de água, energia, aumento da produtividade da cultura e melhoria na qualidade do produto (BONOMO et al., 2013). Portanto, adotando-se um manejo adequado é possível utilizar, muitas vezes, o sistema de irrigação em tempo inferior a àquele em que foi projetado, economizando assim em termos de operação, com reflexos diretos nos custos de energia elétrica e mão de obra.
A irrigação promove o incremento da produção, já que a produtividade da lavoura é comprometida quando ocorrem períodos críticos de deficiência hídrica durante as fases de florada e frutificação até, aproximadamente a décima oitava semana após a floração.
O Nitrogênio (N) é um dos nutrientes mais afetados pela oferta de água no solo, principalmente na fase de frutificação, quando é intensamente transportado das folhas para os frutos, seja em condição de suprimento adequado ou deficiente. A resposta da cultura ao N está intimamente relacionada com a oferta de água no solo, pois, é essencial às funções vitais da planta.
Normalmente, a dose de N utilizada no cafeeiro é baseada em uma recomendação geral, de acordo com a expectativa de produtividade, sendo raramente realizada utilizando análise da planta. Quando efetuado, esse monitoramento é realizado pela análise química quanto aos teores de N na massa seca das folhas. Esses procedimentos são onerosos, demorados e devem ser efetuados em locais adequados e por pessoas com algum grau de instrução (FONTES, 2011).
Nesse sentido, a determinação do teor de N na planta por técnicas rápidas de diagnóstico, dentre elas características biométricas ou de crescimento da planta como comprimento de ramos, área foliar e massa seca da folha e características ou índices de N associados com a intensidade da coloração verde da folha e com a clorofila, talvez possa ser uma ferramenta útil e viável no manejo do N em cafeeiro.
A quantificação do crescimento ou de índices de N no cafeeiro em função dos níveis de adubação nitrogenada se traduz em um prognóstico do potencial produtivo da lavoura, em campo, e permite ainda adequar o manejo da adubação com N para otimização dos fertilizantes e menor impacto ao meio ambiente.
Com o objetivo de avaliar a produtividade do cafeeiro conilon irrigado sob doses de nitrogênio, realizou-se um experimento em uma propriedade rural do município de Colatina, bacia do Rio Doce, região noroeste do Espírito Santo. O clima do local é Tropical Aw, segundo a classificação climática de Köppen. A região é caracterizada por apresentar terras quentes, com altas temperaturas, relevo acidentado e ocorrência de secas, com irregularidade das chuvas durante o ano e inverno seco, com precipitação anual média de 1.100 mm.
A espécie utilizada foi o cafeeiro conilon (Coffea canephora), em produção e o experimento foi cultivado sob o espaçamento de 3,0 metros entre fileiras e 1,5 metros entre plantas. Nesse espaçamento, a lavoura foi manejada com poda e desbrota tradicional, mantendo-se 5 hastes/ planta - 6 hastes/ planta, equivalentes a 13.333 hastes/ ha, conforme recomendação de Fonseca et al. (2007).
As doses de N foram aplicadas na forma do fertilizante ureia (45% de N), parceladas em quatro aplicações durante o ano, sendo 30% no mês de outubro, 30% no mês de dezembro, 25% no mês de fevereiro e 15% no mês de junho.
Foram testadas seis doses de nitrogênio (N): 0 kg/ ha/ ano, 110kg/ ha/ ano, 220 kg/ ha/ ano, 440 kg/ ha/ ano, 880 kg/ ha/ ano e 1320kg/ha/ ano de N, e suas influências sobre as características de crescimento e produtividade, em duas safras: 2012/2013 (1ª Safra) e de 2013/2014 (2ª Safra).
a) Comprimento dos ramos ortotrópicos e plagiotrópicos - medido com auxílio de trena;
b) Número de nós dos ramos ortotrópicos e plagiotrópicos - obtido por contagem.
c) Área foliar - as medições foram efetuadas no 3º ou 4º par de folhas contados a partir do ápice de ramos plagiotrópicos situados no terço médio das plantas de cafeeiro, identificada como Folha Diagnóstico (FD) e na Folha mais Velha (FV) do mesmo ramo, em cada lado da planta.
d) Produtividade de café beneficiado - as plantas avaliadas foram colhidas por derriça no pano quando apresentavam aproximadamente 80% de grãos maduros. Por ocasião da colheita foi mensurado o volume (litros) e a massa (kg) dos grãos colhidos em cada parcela de adubação. Os resultados de produção foram então transformados para produtividade em sacas de 60 kg/ ha de café beneficiado.
Verificou-se que houve efeito positivo das doses de N no crescimento dos ramos plagiotrópicos (Figuras 1A, 1B, 2A e 2B) e ortotrópicos (Figuras 3A, 3B, 4A e 4B), respectivamente, e sobre o número de nós dos ramos plagiotrópicos e ortotrópicos das plantas do cafeeiro conilon em todas as épocas de avaliação que foram novembro de 2012 (E1), dezembro de 2012 (E2), fevereiro de 2013 (E3) e junho de 2013 (E4).
Observou-se que o crescimento dos ramos foi maior nas primeiras avaliações, reduzindo até a última avaliação, uma vez que a maior taxa de crescimento do cafeeiro se concentra no verão. Ademais, com o passar do tempo os ramos foram se tornando mais velhos.
As doses de N proporcionaram incremento significativo no crescimento dos ramos, tanto dos ortotrópicos quanto dos plagiotrópicos, e no número de nós, mostrando que essas características de crescimento apresentaram relação direta com a adubação nitrogenada e que é possível sua utilização como ferramenta auxiliar no diagnóstico nutricional nitrogenado do cafeeiro conilon.
Resultados semelhantes de aumento dos níveis de adubação em cafeeiro irrigado na fase de produção foram obtidos por Costa et al. (2010) e Guimarães et al. (2010) que verificaram que cafeeiros irrigados têm crescimento durante todo ano.
Estudando o fator N em cada época de avaliação, nota-se que houve efeito positivo de doses de N sobre a área foliar da folha diagnóstico em todas as épocas de avaliação, em dezembro de 2012 (E1), fevereiro de 2013 (E2), junho de 2013 (E3), outubro de 2013 (E4) e dezembro de 2013 (E5), com aumento nos valores dessa característica com o incremento das doses de N.
O uso da área foliar da folha diagnóstico é mais adequado que o uso da área da folha mais velha, uma vez que a primeira é considerada fisiologicamente mais ativa e representa melhor a condição da planta. Além disso, a folha diagnóstico tem acesso mais facilitado na planta, o que representa maior rapidez na mensuração em campo, ao passo que as folhas mais velhas têm maior chance de terem sofrido com estresse biótico ou abiótico.
Quanto maior a oferta de N, maior foi a área foliar (BIEMOND; VOS, 1992; ANDRIOLO et al., 2006) do cafeeiro conilon, mostrando que a expansão da área foliar foi sensível ao efeito do N.
O suprimento adequado de N, mantendo os níveis dentro das faixas adequadas preconizadas por Gomes e Partelli (2013), é imprescindível para o crescimento contínuo do cafeeiro durante todo o ano, inclusive no outono-inverno, apesar de ocorrer em menor taxa.
Verificou-se que houve efeito de doses de N sobre a produtividade de café beneficiado (sacas/ ha) do cafeeiro conilon nas duas safras avaliadas (1ª safra - 2012/2013 e 2ª safra - 2013/2014) (Figuras 7A e 7B).
Na 1ª safra avaliada a produtividade média foi de 130,4 sacas/ ha. A dose de 830,2 kg/ ha de N propiciou a máxima produtividade de café beneficiado dentre os níveis estudados que foi de 144,8 sacas/ ha. Um dado interessante é que a dose de N necessária para obtenção de 90% da máxima produtividade (130,1 sacas/ ha) foi de 251,3 kg/ ha, ou seja, uma redução em 10% na produtividade máxima acarretou uma redução de 69,7% da dose de N aplicada.
Na 2ª safra avaliada a produtividade média foi de 94,5 sacas/ ha. A dose de 815,2 kg/ ha de N propiciou a máxima produtividade de café beneficiado dentre os níveis estudados que foi 120,5 sacas/ ha.
A dose de N responsável por 90% da produtividade máxima (108,5 sacas/ ha) foi de 430,3 kg/ ha. Analisando-se esses resultados de forma semelhante à análise dos resultados da safra anterior verifica-se que uma redução em 10% na produtividade máxima proporcionou uma redução de 47,2% na dose de N aplicada.
A recomendação de adubação com N para o cafeeiro conilon no Espírito Santo para uma produtividade de 137,4 sacas/ ha é de 560 kg/ ha de N e para uma produtividade de 114,5 sacas/ ha é de 500 kg/ ha de N (PREZOTTI et al., 2007).
Verifica-se que a 1ª safra apresenta uma produtividade média 27,47% maior que a 2ª safra. Na 1ª safra as plantas estavam notadamente mais vigorosas, com maior número de ramos em produção. Com a realização da poda a arquitetura da planta foi alterada e na 2ª safra, maior era o número de ramos em estádio vegetativo e, portanto, mais jovens.
Silva (2014), em experimento realizado com cafeeiro conilon em São Mateus, ES, observou que as plantas na safra 2011/2012 apresentavam melhor estrutura, com maior número de ramos e folhas e, consequentemente, obteve uma produtividade de 127,0 sacas/ha, bem maior quando comparada com a produtividade da safra 2012/2013 que foi de 92,0 sacas/ha. Os ramos produtivos reduzem o seu vigor depois da segunda ou terceira colheita e não há crescimento compensatório para manutenção de altas produtividades (BRAGANÇA et al., 2007).
Quanto à análise da bienalidade de produção, Valadares et al. (2013) constataram que ao longo de oito safras avaliadas do cafeeiro arábica em Martins Soares, Minas Gerais, maior estabilidade produtiva foi obtida nos tratamentos com maiores doses de N. Portanto, o maior suprimento de N proporcionou menor bienalidade de produção. Os autores reforçam que na análise da bienalidade, a relação entre adubação e maior estabilidade produtiva pode ser atribuída, essencialmente, à adubação com N.
Verificou-se em campo que a irrigação tende a potencializar o efeito das doses de fertilizantes, refletindo, assim, em maior número total de ramos plagiotrópicos, potencializando a produção.
Camilo Busato, Cristiani Campos Martins Busato, Edvaldo Fialho dos Reis, Fábio Luiz Partelli, Universidade Federal do Espírito Santo
Artigo publicado na edição 203 da Cultivar Grandes Culturas.
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