A oferta adequada de nutrientes às plantas consiste em parte fundamental do manejo na busca por elevados índices de produtividade. E nos sistemas produtivos de milho safrinha e soja não é diferente. Conhecer a necessidade e a quantidade requerida pelas plantas integra o rol de medidas indispensáveis para quem procura maximizar os resultados de ambas as culturas.
É fundamental retomar o embasamento das recomendações de fertilizantes em resultados de análises de solo. Na maioria das vezes são utilizadas fórmulas NPK, NK e NKS fixas ou matérias primas pré-definidas em toda a propriedade, variando apenas as doses. Embora o milho safrinha seja cultivado em áreas de “fertilidade construída”, existe grande variabilidade na fertilidade dos solos entre propriedades e talhões.
Nos chapadões do Brasil central e
estados limítrofes é frequente a omissão do nitrogênio na semeadura com
aplicação de todos os fertilizantes em cobertura. Nestes ambientes,
recomenda-se proceder a adubação de semeadura a lanço, de modo a antecipar a
aplicação dos fertilizantes, que poderá ser ou não complementada com uma
aplicação de nitrogênio em cobertura.
O milho safrinha é definido como o
milho sequeiro semeado na segunda safra, em sucessão de culturas. A partir de
2012, é a modalidade de cultivo de milho mais importante no Brasil. A cultura
antecessora é a soja, em mais de 95% das lavouras.
O aproveitamento dos resíduos
culturais e da adubação da soja é um dos principais motivos do sucesso do milho
safrinha, pela necessidade de menor investimento em adubação comparado ao milho
verão. Mas, desde o início do desenvolvimento de tecnologias apropriadas para
esta modalidade de cultivo, ficou evidente que os resíduos de adubações
anteriores não eram suficientes para atender toda demanda por nutrientes no
início do desenvolvimento das plantas (Cantarella e Duarte,1995). Assim, os
agricultores passaram a utilizar adubações NPK no sulco de semeadura. No
entanto, com a evolução da cultura, não aumentaram as doses de maneira
proporcional ao da sua produtividade, não repondo toda a exportação de nutrientes
do milho safrinha e/ou do sistema produtivo.
Por outro lado, o processo de adubação
foi ajustado à realidade das novas regiões produtoras, sobretudo os chapadões, aplicando-se
os fertilizantes a lanço e o nutriente fósforo apenas na soja. Na maioria das
propriedades, as áreas são muito grandes, os solos frequentemente muito úmidos durante
a implantação do milho safrinha e as estruturas operacionais não atendem, sem
atraso, à demanda da operação conjunta de semeadura e adubação no sulco. Prioriza-se
o emprego de implementos agrícolas de fácil abastecimento e com elevado
rendimento operacional.
Adubação
nitrogenada
Os primeiros experimentos em rede
sobre adubação do milho safrinha foram conduzidos pelo Instituto Agronômico
(IAC), na região paulista do Médio Paranapanema, no período de 1993 a 1995.
Verificou-se que o parcelamento do N com 10 kg/ha de N na semeadura e o
restante em cobertura, antiga adubação padrão, poderia ser aumentada para 30
kg/ha na semeadura (Cantarella e Duarte, 1995).
O emprego de 30 kg/ha de N na semeadura, juntamente com o fósforo e o
potássio no sulco de semeadura (exemplos: fórmulas NPK 13-13-13, 16-16-16 e
16-18-14+S) evita as incertezas de haver ou não umidade no solo no momento em
que deveria ser feita a cobertura com N, o que poderia levar a deficiência nas
plantas pelo fato de não fazê-la ou pela sua baixa eficiência.
Depois, com o aumento da produtividade,
semeaduras mais precoces e ampliação da área de cultivo do milho safrinha, verificou-se
que para suplantar a produtividade de 6 t/ha é fundamental complementar a
adubação de semeadura com N em cobertura em doses compatíveis com o regime
hídrico regional e a produtividade esperada. (Duarte et al., 2011).
Em condições
tropicais não é possível prever a resposta das culturas ao nitrogênio a partir
da análise de solo. A recomendação de adubação é realizada
considerando-se o histórico de culturas na área (no caso do milho safrinha quase
sempre a soja), na textura do solo e na demanda de nutrientes pelas plantas (extração
e exportação), estimada a partir da produtividade, e os resultados de
experimentos de resposta da cultura aos fertilizantes.
Tomando como referência que a extração
e exportação dos nutrientes são proporcionais à produtividade de grãos, o
Boletim 100 IAC (Tabela 1)
recomenda aproximadamente 1 kg/ha de N por saco de milho produzido por hectare,
em ambientes de alta resposta ao nitrogênio (solo arenoso e/ou histórico de
gramíneas). Já para condições de menor resposta (sistema plantio direto consolidado
e histórico de leguminosas), a quantidade de N recomendada pode ser reduzida em
mais de 40%. Para produtividade de 9 toneladas por hectare de milho safrinha,
após soja em solo argiloso, estima-se uma exportação de 112 kg/ ha e recomenda-se
90 kg/ ha, ou seja, o uso de 10 kg de N para cada tonelada de milho, ambos por
hectare.
As recomendações de doses de N são realizadas
tomando-se como referência uma fonte que apresenta perdas por volatilização
desprezíveis. Mas, a ureia é a fonte de N mais utilizada para aplicação em
cobertura, pela maior oferta, menor preço e facilidade de aplicação e, quando
aplicada a lanço na superfície do solo ocorrem perdas de N por volatilização de
amônia, que podem atingir valores próximos ou até superiores a 40% do N
aplicado. Assim, é necessário aumentar a dose de N e/ou misturá-la com
inibidores de urease para compensar ou minimizar as possíveis perdas por
volatilização, uma vez que enterrá-la em sulco com recobrimento simultâneo –
que permite o controle das perdas por volatilização de NH3 – nem
sempre é viável.
Parte do nitrogênio precisa ser
aplicada obrigatoriamente por ocasião da semeadura, pois a absorção de
nutrientes ocorre rapidamente durante as primeiras fases do ciclo das plantas
de milho e o sistema radicular ainda é pequeno, explorando poucos centímetros
de solo ao redor das plântulas recém-emergidas. Geralmente são recomendadas doses
de 30kg/ha a 40 kg/ha de N, podendo ser maior nas aplicações a lanço. A dose máxima
que se pode aplicar na semeadura depende, principalmente, do modo de aplicação
do fertilizante na semeadura (sulco ou a lanço); b), do espaçamento entre
linhas e da textura do solo.
Doses elevadas aplicadas no sulco de
semeadura podem provocar efeito salino e comprometer o desenvolvimento inicial
de parte das plantas e, em casos extremos, o estande. De maneira geral, a soma das doses de N e de
K2O no sulco de semeadura não deve ultrapassar 80 kg/ha,
principalmente se o formulado contiver também sulfato e/ou o espaçamento entre
linhas for entre 80cm e 90cm. Em espaçamentos reduzidos, por exemplo, 45cm a 50cm,
a quantidade de fertilizante distribuída por metro linear no sulco de semeadura
é menor, pois ocorre distribuição em maior número de linhas.
A lixiviação é maior em solos arenosos
que em argilosos, aumentando o risco de perdas do nitrogênio aplicado na
semeadura antes da absorção pelas raízes. Assim, em lavouras de milho safrinha
implantadas em solos de textura média, é muito importante o parcelamento do nitrogênio
em cobertura.
Quanto maior a proporção de lavouras semeadas
no final de janeiro e início de fevereiro, no período chuvoso, maior a chance
de perdas de N por lixiviação por excedentes hídricos, sendo fundamental o seu
parcelamento na semeadura e em cobertura.
Por outro lado, a adubação de cobertura pode ser pouco efetiva nas
semeaduras tardias quando realizada com solo seco e houver demora até a
ocorrência de chuvas.
Parte do N é
aplicado em cobertura, até o estádio de cinco folhas, evitando excesso de sais
no sulco de semeadura e, principalmente, perdas de N por lixiviação de nitrato.
Devido às perdas do nitrogênio por lixiviação no perfil do solo, o seu
parcelamento na semeadura e em cobertura permite, de maneira geral, maior
eficiência de uso do nutriente proveniente do fertilizante, coincidindo com os
períodos de maior demanda pelas plantas. Do total acumulado pelo milho, entre
60% e 70% do nitrogênio e entre 65% e 85% do potássio são absorvidos até o
florescimento (Cantarella & Duarte, 2004).
No milho safrinha o parcelamento do
nitrogênio em mais de uma cobertura é recomendado apenas em situações
especiais, visto que a dose total é relativamente baixa, inferior a 100 kg/ ha,
na maior parte das lavouras, sendo que pelo menos 30 kg/ ha de N já foi utilizada na semeadura. A
qualidade da distribuição de doses baixas dos fertilizantes a lanço em área
total é um dos pontos críticos da realização de mais de uma adubação de
cobertura no milho safrinha.
Nos chapadões do Brasil central é
frequente a omissão do nitrogênio na semeadura com aplicação de todo o
fertilizante em cobertura. Duarte & Kappes (2015), ao estudarem o efeito da
adubação de cobertura em São Paulo e Mato Grosso, no estádio de cinco a seis
folhas, na presença e ausência de 39 kg/ha de N na semeadura, verificaram que a
omissão de nitrogênio na semeadura reduziu o potencial produtivo da cultura e a
eficiência da adubação nitrogenada. (Figuras 1 e 2).
Verificaram também que não houve diferença na produtividade do
milho quando o N foi aplicado no sulco ou lanço para a adubação nitrogenada
aplicada isoladamente ou associada com P ou PS. Assim, se houver limitação para
a realização da adubação em sulco na semeadura, ao invés de fazer apenas a
adubação de cobertura, pode-se proceder a adubação de semeadura a lanço, sem
interferir na operação de semeadura. Basta antecipar a aplicação a lanço dos
fertilizantes, que poderá ser ou não complementada com uma aplicação de
nitrogênio a lanço.
POTÁSSIO,
FÓSFORO E ENXOFRE
O potássio e o nitrogênio são os
nutrientes mais acumulados pela parte aérea do milho, mas o potássio apresenta
a maior proporção de acúmulo nos estádios iniciais, em relação ao total
acumulado.Karlen et al. (1987)
verificaram que as plantas de milho acumularam até o florescimento 60%, 46% e
80% do total de N, P e K absorvidos durante todo o ciclo. Resultados
semelhantes foram obtidos recentemente por Bender et al. (2013)
O potássio tem sido parcelado em
cobertura no milho verão, para evitar possível efeito salino, quando os
fertilizantes NPK são aplicados no sulco de semeadura. Mas, no caso do milho
safrinha, quando as doses recomendadas forem relativamente baixas, a sua
aplicação pode ser feita apenas no sulco de semeadura. No caso de lavouras com
adubação exclusivamente a lanço, considerando que o potássio é o nutriente
acumulado em maior quantidade nos estádios iniciais de desenvolvimento das
plantas de milho, a sua aplicação isolada ou em fórmulas NPK, como a 20-00-20,
deve ser realizada o mais cedo possível.
Se não houver umidade adequada no solo
para que o potássio aplicado a lanço na superfície se movimente no perfil do
solo em um curto espaço de tempo e seja absorvido pelas raízes, o efeito desta
adubação sobre a produtividade da cultura pode ser pouco expressivo ou nulo.
Uma das opções é priorizar a aplicação do potássio na cultura da soja e reduzir
as doses no milho safrinha.
No planejamento da adubação não se
deve considerar apenas o milho, mas a sucessão de culturas de milho e soja. Em
solos com acidez corrigida e teores de fósforo e potássio acima do nível
crítico (solos de fertilidade construída), a recomendação da adubação pode ser
feita por ano agrícola, e não exclusivamente para cada cultura, utilizando como
referência a reposição dos nutrientes exportados pelos grãos.
Porém, a adubação de sistemas não se
deve restringir exclusivamente aos critérios do balanço de nutrientes e da
facilidade operacional, mesmo em solos de fertilidade construída. Na maioria
das lavouras dos chapadões é comum aplicar todo o fósforo (e às vezes enxofre)
a lanço na pré-semeadura da soja e apenas nitrogênio e potássio no milho
safrinha. Neste caso, o balanço nutricional do sistema é positivo, mas se deixa
de aplicar o fósforo no milho safrinha.
Estudos realizados pelo
IAC e Fundação MT revelaram o efeito de arranque da adubação fosfatada no milho
safrinha, associado ao nitrogênio e enxofre, aumentando sua produtividade, sem
prejuízo na soja em sucessão, onde o fósforo deixou de ser aplicado
parcialmente ou totalmente (Figuras
1, 2 e 3). A associação de P e PS ao nitrogênio, comparado à aplicação
exclusiva do N, proporcionou os maiores valores de produtividade e/ou de ganhos
de eficiência da adubação nitrogenada de cobertura, expressa em quantidade de
milho por unidade de N aplicado. Este efeito ocorreu tanto na adubação a lanço
como no sulco de semeadura. Porém, não foi tão evidente em ambientes com teor
de fósforo muito alto (próximo ou superior a duas vezes o valor do nível
crítico), evidenciando a importância do uso de resultados de análise de solo
para sua recomendação.
O ideal quando se adota a
adubação de sistema é que o fósforo seja aplicado no milho safrinha e
complementado na semeadura da soja, exceto em solos com teor muito alto de
fósforo. Ao utilizar nutrientes e dosagens adequadas no milho safrinha, estes
também ficarão disponíveis no sistema para a soja, que será semeada em outubro
e novembro, melhorando a rentabilidade e desempenho das culturas no sistema.
No mesmo estudo,
verificou-se também baixa frequência de resposta ao potássio na cultura do
milho safrinha, não obstante o seu elevado acúmulo na parte aérea da
planta. Assim, em solos argilosos, com
teor alto de potássio, planos e sem manchas, pode-se retirar a aplicação de
potássio da cultura do milho safrinha e aplicar a quantidade exportada pelo
milho juntamente com o potássio da soja, sendo toda a aplicação feita na soja. Em
outras situações, não se deve omitir o K no milho.