Responsável por aumento dos gastos com controle e perdas de produtividade, este problema tem se agravado e exige cada vez mais obediência aos princípios do manejo integrado
14.07.2022 | 15:09 (UTC -3)
A impressionante cifra de R$ 9 bilhões é o custo total anual
estimado para a resistência de plantas daninhas à aplicação de herbicidas no
Brasil. Responsável por aumento dos gastos com controle e perdas de
produtividade, este problema tem se agravado e exige cada vez mais obediência
aos princípios do manejo integrado.
Uma das principais consequências da resistência de plantas
daninhas a herbicidas reside no aumento dos custos de controle, o que
normalmente não é abordado nas publicações científicas sobre o tema, mas é de
grande importância para o setor produtivo.
Nos sistemas de produção de grãos do Brasil, especialmente no
da cultura da soja, o impacto da resistência de plantas daninhas a herbicidas
pode ser dividido em duas fases. A primeira refere-se ao período de 1993 até
meados dos anos 2000, caracterizada pela ampla e massiva utilização dos
herbicidas inibidores da enzima acetolactato-sintase – ALS.
Esses herbicidas possuem, como características positivas, elevada eficiência no
controle de plantas daninhas dicotiledôneas, especialmente o picão-preto e o
leiteiro (amendoim-bravo). Por outro lado, os inibidores da ALS possuem, como
característica negativa, alta probabilidade de seleção de biótipos de plantas
daninhas resistentes, cujos primeiros casos foram observados no Rio Grande do
Sul e Mato Grosso do Sul, com rápida disseminação para as demais regiões
produtores de grãos do país.
Nessa época, o custo médio atualizado de controle nas áreas
sem problema de resistência era de R$ 62,57, variando entre R$ 46,53 e R$ 78,60
por hectare. Nas áreas com problemas de resistência houve a necessidade de se
utilizar herbicidas com mecanismos alternativos, o que elevou o custo médio do
controle para R$ 285,98 por hectare (incremento médio de 357%).
A situação brasileira de
resistência de plantas daninhas a herbicidas na cultura da soja convencional,
em meados dos anos 2000, era considerada pelos produtores como insustentável,
devido às dificuldades de controle, o alto custo e a baixa eficiência dos mecanismos
de ação dos herbicidas disponíveis contra as espécies resistentes. A solução
para esse problema ocorreu com a introdução da soja transgênica resistente ao
herbicida glifosato, conhecida como soja Roundup Ready ou soja RR. A tecnologia
RR, oportunizou a utilização do glifosato em pós-emergência da soja, com
controle eficiente das espécies resistentes aos inibidores da ALS.
No entanto, o uso intensivo
do glifosato acarretou grande pressão de seleção sobre as plantas daninhas,
resultando na seleção de sete espécies daninhas resistentes: o azevém (Lolium
multiflorum), a buva (Conyza bonariensis, C. canadensis, C.
sumatrensis), o capim-amargoso (Digitaria insularis), o
caruru-palmeri (Amaranthus palmeri) e
o capim pé-de-galinha (Eleusine indica).
A resistência ao glifosato é considerada a segunda fase de resistência de
plantas daninhas no Brasil. Azevém, buva e capim amargoso são as três plantas
daninhas mais dispersas pelo território nacional.
Os principais custos da resistência relacionam-se à
necessidade do uso de herbicidas alternativos e às perdas de produtividade causadas
pela competição das plantas daninhas resistentes e remanescentes na lavoura. O custo com herbicidas alternativos varia
de acordo com a opção adotada pelo produtor, uma vez que, na maioria das vezes,
há mais de uma alternativa de produto para uso no manejo das populações de
invasoras resistentes.
Na ausência
de resistência, o custo médio de controle de plantas daninhas na cultura da
soja pode ser restrito a uma aplicação de glifosato na dessecação e duas
aplicações na pós-emergência, resultando em custo atualizado total de R$ 120,00
por hectare.
Em
uma condição de infestação de azevém resistente ao glifosato, existe a
necessidade do uso de um herbicida graminicida alternativo associado ao glifosato
para controle da infestante. Com isto, o custo tem aumento médio de R$ 57,65 por
hectare. Outro cenário normal para o Sul do Brasil, é a ocorrência de buva e
azevém com resistência múltipla na mesma área. Nesse caso, as opções
restringem-se apenas à dessecação com o herbicida 2,4-D para controle da buva e
paraquate para o controle do azevém. Já para aplicação seletiva na cultura, os
herbicidas flumioxazin e trifluralina são as principais opções. O custo nessa
situação aumenta, em média, R$ 197,55 por hectare.
Em áreas infestadas
com capim-amargoso resistente ao glifosato, a alternativa de controle passa a
ser o uso de graminicidas específicos, principalmente os inibidores da ACCase,
tanto em dessecação como em pós-emergência da cultura, podendo ser intercalados
na dessecação com herbicidas de contato, como o paraquate e o
amônio-glufosinato. De maneira geral, tem-se realizado entre 2 a 4 aplicações de graminicidas, o que aumenta o custo médio de
controle em R$ 198,35 por hectare. No cenário de infestação conjunta de
capim-amargoso e buva resistentes ao glifosato, o custo de controle pode chegar
a R$ 479,50 por hectare, acréscimo de
até R$ 359,50 por hectare quando comparado à área sem a presença dessas
espécies resistentes.
Quando se analisa a variação
percentual do custo de controle verifica-se grande aumento dos custos em
lavouras com a presença de plantas daninhas resistentes ao glifosato, variando,
em média, entre 42% e 48% para as infestações isoladas de buva e azevém,
respectivamente, e até 165% na presença de capim-amargoso. Nas situações de
maior dificuldade de controle, onde ocorrem os maiores gastos, o custo de
controle para essas espécies praticamente triplica em relação ao custo mínimo,
sendo 125% maior para a buva, 148% para o azevém e 290% para o capim-amargoso.
A Embrapa Soja, através do seu grupo de pesquisadores em plantas
daninhas, tem realizado periodicamente o monitoramento da resistência de
plantas daninhas a herbicidas nos sistemas de produção de grãos no Brasil. Atualmente,
esse grupo de pesquisadores estima que existam 20,1 milhões de hectares cultivados
com soja infestados com populações resistentes de azevém, buva e capim-amargoso.
A presença de azevém resistente está restrita aos Estados do Sul do
país, com área estimada em 4,2 milhões de hectares, sendo que em 3,4 milhões de
hectares o azevém aparece junto com buva resistente. Nesse cenário, a depender
do tratamento considerado, o custo médio adicional de controle no sistema de
produção de soja no Brasil é estimado em R$ 813.790.000,00 por ano.
No Brasil, a área com presença
apenas de buva resistente é estimada em 7,7 milhões de hectares, sendo que a
somatória do aumento dos custos de controle nessas áreas resulta em incremento
médio anual de R$ 1.312.850.000,00.
A estimativa da área total infestada
apenas com capim-amargoso resistente ao glifosato atinge 5,5 milhões de hectares,
onde o incremento médio do custo de controle é estimado em R$ 1.750.925.000,00
ao ano. O pior cenário em relação ao aumento dos custos reside naa presença simultânea
do capim-amargoso e da buva, cuja área é estimada em 2,7 milhões de hectares e
resulta no incremento médio anual do custo de controle, em R$ 1.041.255.000,00.
Analisando toda a área de soja
infestada com plantas daninhas resistentes no Brasil, os custos de controle em
relação às áreas sem problemas de resistência estão entre R$ 3.796.540.000,00 a
R$ 6.046.500.000,00, com incremento médio anual de R$ 4.918.820.000,00. Se forem acrescentadas a este custo as perdas médias
de 5% da cultura em função da competição com a população resistente
remanescente, o custo total anual da resistência no Brasil poderia atingir R$ 9
bilhões. Este quadro pode piorar com o surgimento de novas espécies
resistentes, especialmente ao glifosato, ou à disseminação de espécies
relatadas recentemente como resistentes ao herbicida (capim-pé-de-galinha e caruru-palmeri).
Nesse cenário, é extremamente importante que todos os
agentes do setor produtivo se conscientizem da importância de enfrentar o
problema da resistência das plantas daninhas aos herbicidas, cujo planejamento
deve ser feito com obediência aos princípios do manejo integrado de plantas
daninhas (MIPD), que pode ser definido como sendo a seleção e a integração de
métodos de controle e o conjunto de critérios para a sua utilização, com
resultados favoráveis desde uma perspectiva agronômica, econômica, ecológica e
social.
Vale
ressaltar que, em qualquer sistema de produção agrícola e em qualquer cenário
de resistência, o manejo integrado de plantas daninhas deve ser gerenciado por
um engenheiro agrônomo responsável pela atividade.
Artigo publicado na edição 225 da Cultivar Grandes Culturas, mês fevereiro, ano 2018.
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