Adoção de manejo do percevejo barriga-verde na cultura do milho

Entender o período crítico de ataque do percevejo barriga-verde na cultura do milho, com base nos estágios de desenvolvimento da plantas e da praga, é essencial para a adoção do manejo no momento correto, de modo a prevenir prejuízos e garantir maior rendimento de grãos

11.05.2022 | 15:28 (UTC -3)

Entender o período crítico de ataque do percevejo barriga-verde na cultura do milho, com base nos estágios de desenvolvimento da plantas e da praga, é essencial para a adoção do manejo no momento correto, de modo a prevenir prejuízos e garantir maior rendimento de grãos.

O período crítico que define o potencial de produtividade do milho é definido durante os estádios iniciais de desenvolvimento da planta. Dessa forma, a ocorrência de estresses nestas épocas, como déficit hídrico, doenças, destruição da área foliar, sucção de seiva da planta, impedimento físico e químico do solo poderá ter grande impacto sobre o rendimento de grãos da cultura.

O percevejo barriga-verde, Dichelops melacanthus (Dallas) (Hemiptera: Pentatomidae), constitui uma importante praga em diferentes culturas  como a soja, o milho, aveia e o trigo. No milho (Zea mays L.), os danos decorrentes da presença dessa praga foram registrados pela primeira vez no Município de Rio Brilhante, no Mato Grosso do Sul, no ano de 1993 (Ávila & Panizzi, 1995). Acredita-se que a intensificação do cultivo de milho de segunda época (safrinha) e o aumento na adoção do sistema de plantio direto tenha proporcionado condições favoráveis ao aumento populacional dessa praga nos sistemas de produção agrícolas do Brasil.

Populações de D. melacanthus têm sido observadas em lavouras de milho com danos a plantas jovens, causando o amarelecimento, lesões punctiformes nas folhas e até perfilhamento das plantas. Os danos são ocasionados pela alimentação do inseto próximo ao colo das plântulas, onde provocam injúrias típicas a medida que as folhas se desenvolvem. Chocorosqui (2001) constatou que densidades populacionais a partir de 2 percevejos/m2 causam sérios prejuízos na cultura do milho safrinha. No entanto, inexistem trabalhos que avaliaram o potencial de dano do percevejo barriga-verde nos diferentes estádios de desenvolvimento da planta de milho, bem como o potencial de danos causados pelas ninfas dessa praga na cultura.

Na Embrapa Agropecuária Oeste foi conduzida uma pesquisa com o objetivo de avaliar o potencial de danos causados pelo percevejo barriga-verde em diferentes estádios de desenvolvimento das plantas de milho, bem como o potencial de dano de diferentes estádios de desenvolvimento dessa praga nas plantas do milho.

Para garantir a oferta de insetos para a condução dos ensaios, foi estabelecida uma criação de percevejos barriga-verde em condições de laboratório seguindo as metodologias de Panizzi & Mourão (1999) e de Costa et al (1998).

Dichelops melacanthus constitui importante praga na cultura do milho.
Dichelops melacanthus constitui importante praga na cultura do milho.

O potencial de dano do percevejo barriga-verde em diferentes estádios de desenvolvimento do milho foi conduzido em condições de casa de vegetação e de campo no ano de 2015. No ensaio de campo, em uma área de plantio direto, realizou-se a abertura dos sulcos com aproximadamente 4 sementes de milho por metro no espaçamento de 0,45 m de entrelinhas. A adubação de plantio foi de 250 kg/ha de adubo da formulação 10-18-18 (N-P-K). Cada unidade amostral foi constituída de cinco plantas de milho, sobre as quais foi instalada uma gaiola em estrutura de PVC revestida com tecido “tule” para contenção dos insetos. Os tratamentos foram representados pelos diferentes estádios da planta de milho como segue: T1: plantas com uma folha (V1); T2: plantas com três folhas (V3); T3: plantas com cinco folhas (V5); e T4: plantas com sete folhas (V7). Cada gaiola com os diferentes estádios do milho foi infestada com cinco percevejos adultos durante 14 dias, exceto o tratamento testemunha (T5) em que não houve infestação do percevejo desde o estádio de V1. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso com os cinco tratamentos (estádios da planta) e cinco repetições (gaiola).

No ensaio de casa de vegetação, o milho foi semeado em vasos conduzindo-se uma planta/vaso até o primeiro estádio de infestação do percevejo (V1). Os tratamentos foram os mesmos utilizados no ensaio de campo (V1, V3, V5 e V7), onde cada vaso com uma planta de milho foi infestado com um percevejo adulto durante quatorze dias, cobertos com o tecido “tule” sustentado por uma gaiola de arame, para contenção dos insetos na planta do milho. Um tratamento adicional, em que não houve infestação do percevejo, foi também avaliado como testemunha. Após o período de infestação, os percevejos foram eliminados das plantas, mantidas livres de insetos até a determinação do peso seco das plantas.

O ensaio que avaliou o potencial de danos causados por diferentes estádios de desenvolvimento do percevejo barriga verde no milho foi conduzido em casa-de-vegetação à semelhança do ensaio de danos nos diferentes estádios do milho. O ensaio foi instalado quando o milho encontrava-se no estádio V1 (uma folha expandida), sendo as plantas infestadas com 1 inseto/vaso que continha uma planta de milho. Foram estudados quatro estádios de desenvolvimento do percevejo: T1: Ninfa pequena (2° instar), T2: ninfa média (3° a 4° instar), T3: ninfa grande (5° instar) e T4: adulto (com cerca de 48 horas de idade) e T5: sem infestação do percevejo. As infestações foram mantidas nos vasos por 14 dias, sendo os insetos repostos na gaiola quando morriam.

Resultados obtidos

As plantas de milho quando infestadas no estádio vegetativo V1 com ninfas médias e ninfas grandes do percevejo barriga-verde apresentaram índice de dano semelhantes ao observadas nas plantas infestadas com adultos, os quais foram significativamente maiores que aos índices verificados nas plantas infestadas com ninfas pequenas ou sem infestação (Figura 1). Os índices de danos nas plantas infestadas com ninfas médias, grandes e adultos apresentaram valores médios em torno de 3, o que resulta em plantas com cartucho enrolado ou perfilhadas, enquanto as plantas de milho infestadas com ninfas pequenas obtiveram índice médio, abaixo de 1, caracterizando baixo potencial de dano no milho nesse estádio de desenvolvimento do inseto (Figura 1).

Figura 1 - Índice de dado (notas) segundo a escala de Bianco (2004) em plantas de milho submetidas às infestações de diferentes estágios de desenvolvimento do percevejo barriga-verde Dichelops melacanthus, em casa-de-vegetação. Dourado, MS. Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).
Figura 1 - Índice de dado (notas) segundo a escala de Bianco (2004) em plantas de milho submetidas às infestações de diferentes estágios de desenvolvimento do percevejo barriga-verde Dichelops melacanthus, em casa-de-vegetação. Dourado, MS. Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).

Plantas de milho submetidas ao ataque de ninfas pequenas também não tiveram reduções significativas do peso seco da parte aérea, quando comparadas às plantas não infestadas pelo percevejo (Figura 2). Acredita-se que o aparelho bucal menos desenvolvido nessa fase de desenvolvimento do percevejo (ninfas pequenas) seja possivelmente o fator chave que explica os resultados obtidos. Já as plantas infestadas com ninfas médias, grandes e adultos do percevejo barriga-verde tiveram o peso significativamente reduzido em comparação às plantas infestadas com ninfas pequenas ou não infestadas pela praga (Figura 2).

Figura 2 - Médias de massa seca da parte aérea do milho ao final do período de infestação das plantas com diferentes estágios de desenvolvimento do percevejo barriga-veerde, em casa-de-vegetação. Dourados, MS. Colunas seguidas pela mesma letra, as médias são diferem entre si pelo teste de Tukey (p&lt;0,05).
Figura 2 - Médias de massa seca da parte aérea do milho ao final do período de infestação das plantas com diferentes estágios de desenvolvimento do percevejo barriga-veerde, em casa-de-vegetação. Dourados, MS. Colunas seguidas pela mesma letra, as médias são diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).

Com relação ao ensaio de danos do percevejo a campo, verificou-se que infestações do percevejo no milho com diferentes estádios de desenvolvimento tiveram efeito significativo no diâmetro do colmo, sendo esse efeito mais deletério nas plantas infestadas nos estádios V1 e V3 (Tabela 1). Não se observou diferença significativa para o diâmetro do colmo nas plantas infestadas nos estádios de desenvolvimento V5 e V7, quando comparadas ao tratamento testemunha em que não houve infestação da praga. Plantas de milho infestadas com o percevejo nos estádios de desenvolvimento V1 e V3 tiveram também os menores rendimentos de grãos quando comparadas ao tratamento testemunha. As plantas infestadas no estádio V1 apresentaram redução de produtividade de 50% quando comparado à produtividade das plantas do tratamento testemunha. Esses resultados evidenciam que as plantas jovens do milho (V1 a V3) são mais sensíveis ao ataque do percevejo barriga-verde do que plantas mais desenvolvidas, como aquelas com idade após o estádio V5. Segundo Fancelli & Dourado (1997), V1 até V6 compreende o período em que a planta define seu potencial produtivo, sendo, dessa forma, estes estádios mais suscetíveis ao ataque de pragas. Bianco (2004) também observou que plantas submetidas à presença do percevejo barriga-verde entre 2 dias e 9 dias após a emergência (DAE) foram mais susceptíveis ao ataque em comparação às plantas infestadas aos16 DAE.

Tabela 1
Tabela 1

Os maiores índices de dano do percevejo nas plantas de milho foram observados quando as infestações foram realizadas nos estádios de desenvolvimento V1, V3 e V5 (Tabela 1). Quando a infestação de D. melacanthus foi realizada no estádio V7, os valores de danos nas plantas de milho foram semelhantes aos observados no tratamento testemunha, evidenciando que neste estádio de desenvolvimento o milho já está tolerante ao ataque da praga.

No ensaio de danos conduzido em casa de vegetação os índices de dano nas plantas de milho foram superiores quando as infestações foram realizadas nos estádios de desenvolvimento V1 e V3, seguido pelo estádio V5 (Tabela 2). Na infestação realizada no estádio V7, os índices de dano nas plantas de milho não diferiram daquele observado nas plantas do tratamento testemunha (sem infestação), à semelhança dos resultados observados no ensaio conduzido a campo (Tabelas 1 e 2).

Tabela 2
Tabela 2

Já a massa seca das plantas de milho teve redução significativa em todos os estádios de desenvolvimento em que se realizou a infestação do percevejo quando comparados ao tratamento testemunha (Tabela 2). No entanto, os menores valores de peso seco foram observados quando as infestações do percevejo foram realizadas em V1 e V3, evidenciando novamente ser estes os estádios de maior suscetibilidade ao ataque da praga. Duarte et al (2015) observaram que na densidade de 2 percevejos barriga-verde/planta de milho entre os estádios de desenvolvimento V1 e V5, as reduções da massa seca da parte aérea das plantas foram significativas em relação às plantas não infestadas. Porém, estes autores não avaliaram o estádio V7, no qual a presente pesquisa constatou a menor susceptibilidade ao ataque do percevejo barriga-verde (Tabela 2).

Considerações finais

Com base nos resultados obtidos neste estudo pode-se inferir que as ninfas médias, grandes e adultos de D. melacanthus têm grande potencial de causar danos nos estádios iniciais de desenvolvimento do milho, o que não se observa para ninfas pequenas dessa praga. Em adição, os estádios de desenvolvimento do milho V1, V3 e V5 são mais susceptíveis ao ataque de adultos do percevejo barriga-verde, D. melacanthus, em comparação ao estádio V7, podendo nestas condições um ataque da praga afetar drasticamente o rendimento de grãos da cultura. Dessa forma, o produtor deve garantir uma maior proteção do milho contra o ataque do percevejo barriga-verde nos estádios iniciais de desenvolvimento da planta, em especial entre os estádios V1 a V3, para garantir menor dano dessa praga e, consequentemente, maior rendimento de grãos da cultura.

Artigo publicado na edição 222 da Cultivar Grandes Culturas, mês novembro, ano 2017. 

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