A influência da altura de voo na pulverização: erros comuns e melhores práticas

Por Henrique Campos, da Sabri

05.09.2024 | 15:39 (UTC -3)

Durante as Clínicas de Aeronaves Sabri & Dopro tem sido observado que a altura de voo interfere na uniformidade de distribuição de calda ao longo da faixa de aplicação determinada pelo piloto. No entanto, para toda regra existem exceções. E o objetivo deste texto não é confrontar ou contestar a técnica de aplicação de pilotos, empresas ou fazendas. Temos como real objetivo neste texto compartilhar situações encontradas durante nossos trabalhos e assim colaborar com você, leitor, no entendimento deste fator altura de voo.

Primeiramente, é preciso mencionar que nas avaliações do efeito da altura de voo no padrão de deposição de calda é adotado o vento alinhado ou o vento de proa para as aplicações. Esta é a metodologia adotada nas Clínicas de Aeronaves aqui no Brasil pela Sabri e também pelas Clínicas de aeronaves nos Estados Unidos pela NAAA, entre outras. O motivo de ser usado vento alinhado ou de proa é simples, apenas assim poderíamos verificar irregularidades na distribuição de calda. Quando há vento lateral ou vento de través, as irregularidades na distribuição da calda são “mascaradas”. 

Isto posto, todo cuidado é pouco com relação a mudanças da direção do vento durante as avaliações. Por isso, monitoramos a direção do vento com auxílio de um anemômetro especial, que identifica a ocorrência de ventos laterais ou também chamados de “crosswind”.

Para demonstrar o efeito que a ocorrência de “crosswind” provoca no padrão de deposição de calda, apresentamos abaixo os resultados obtidos para uma mesma aeronave. Na Figura 1a, tem-se o gráfico em que houve ocorrência de vento lateral no sentido da asa esquerda para a direita. Já na Figura 1b, tem-se o gráfico em que não houve ocorrência de ventos laterais ou “crosswind”.

Figura 1a e 1b
Figura 1a e 1b

Note que, dentro da mesma faixa de aplicação determinada pelo piloto (faixa central pontilhada), existiam falhas e possíveis subdosagens que não seriam identificadas com ocorrência de ventos laterais e, consequentemente, se fossem adotados voos de través durante as avaliações feitas nas clínicas de aeronaves.

Uma vez demonstrada a importância de adotarmos o vento de proa, voltamos para as avaliações de altura de voo. Nelas, usamos uma metodologia parecida com a adotada em topografia. Temos um ponto de referência que chamamos de ponto zero, onde há uma bola branca como marco. A partir deste marco são posicionadas três bandeiras de sinalização para que a aeronave faça o voo alinhado e centralizado com estas bandeiras. Paralelo ao ponto zero há uma luneta com mira a laser e, por fim, entre o ponto zero e a luneta temos uma régua graduada para a orientação da altura de voo pela equipe em solo.

Esta metodologia simples permite avaliar a altura de voo em aeronaves que não possuem altímetro digital no cockpit. Sendo que, naquelas aeronaves que cotam com altímetro digital, as alturas obtidas em solo a partir desta metodologia conferem precisamente com as alturas informadas pelo piloto a partir do sistema digital dentro do cockpit.

Uma vez compreendida a metodologia que usamos para avaliar a altura de voo, seguimos para a prática e entra em ação a tecnologia de espectrometria de fio. Nela usamos um fio ou barbante composto por algodão e poliéster para capturar a deposição de gotas concentradas com marcador não tóxico a partir da aplicação aérea. Então, este fio especial é levado até o equipamento, que faz a leitura das três ou mais repetições feitas no campo e gera um laudo, ou melhor, um gráfico detalhado da aplicação feita pela aeronave.

Nas avaliações com vento alinhado ou vento de proa, temos observado dois tipos de desuniformidade na distribuição de calda quando são adotadas pelo piloto alturas de voo iguais ou inferiores a dois metros. Neste primeiro caso, apresentamos os resultados do padrão de distribuição de calda com um Air Tractor 502 B voando a 1,8m de altura (Figura 2) e a mesma aeronave voando a 4,5m de altura (Figura 3). Ambos configurados com bicos hidráulicos D6 core 46 perfazendo um volume de calda de 15 litros por hectare.

Figura 2
Figura 2
Figura 3
Figura 3

No primeiro caso, em que houve maior deposição de calda no centro da faixa de aplicação criando um desenho típico no gráfico em formato de U, acreditamos na hipótese de efeito do vortex da hélice prejudicando a distribuição de calda em função da altura de voo de 1,8m, pois verificamos em altura de voo de 4,5m que houve maior uniformidade de distribuição da calda.

Por outro lado, nas Figuras 4 e 5 apresentamos os resultados do padrão de distribuição de calda com outra aeronave. Agora um Thrush 510 G voando a 2m de altura (Figura 4) e a mesma aeronave voando a 3,5m de altura (Figura 5). Ambos configurados com bicos hidráulicos TeeJet 4015 perfazendo um volume de calda de 28 litros por hectare.

Figura 4 e Figura 5
Figura 4 e Figura 5

Neste segundo caso, em que houve menor deposição de calda nas extremidades da faixa de aplicação na altura de voo a 2m (Figura 4), nós também acreditamos na hipótese de que houve efeito negativo da menor altura de voo. Pois, ao adotar altura de voo de 3,5m, houve maior deposição de calda nos limites da faixa de aplicação (Figura 5). Portanto, verificamos ao aumentar a altura de voo que houve maior abertura de faixa, evitando falhas ou subdosagens nos limites da faixa de aplicação. 

Ainda neste segundo caso, verifica-se que houve maior depósito de calda no centro da faixa de aplicação também criando no gráfico uma deposição em formato de U. No entanto, neste caso em que é descartada a hipótese de ser resultado da menor altura de voo, o acúmulo de deposição no centro da faixa de aplicação pode ser devido à interferência de outros fatores, tais como: posicionamento inadequado dos bicos, interferência das rodas, ausência de bicos na barriga da aeronave, entre outros que serão abordados nos próximos textos.

Contudo, é intuitivo concluirmos que a altura de voo interfere na qualidade das aplicações. Porém, isto vai depender de diferentes fatores como tipo de aeronave, configuração e posicionamento das pontas na barra de pulverização, do modo como o piloto trabalha, da direção do vento durante as avaliações, entre outros. Logo, a realização de testes, pesquisas e ações extensionistas como as Clínicas de Aeronaves Sabri têm papel importante e fundamental para o desenvolvimento sustentável da aplicação aérea no Brasil.

*Por Henrique Campos, da Sabri

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