Importância da escolha do híbrido para o resultado da silagem
Por Egon Henrique Horst, LongPing High-Tech
O pulgão-do-sorgo (Melanaphis sorghi) vem causando prejuízos milionários nas regiões produtoras. No Brasil, a partir da safra agrícola de 2018/2019, o pulgão vem infestando lavouras de sorgo, ocorrendo em praticamente todos os estados, seja para sorgo granífero, forrageiro ou biomassa. Em entrevista realizada com cerca de 170 produtores de sorgo, 87% dos entrevistados afirmaram a ocorrência do pulgão. E que ele tornou-se uma praga importante na cultura do sorgo a partir da safra de 2020, causando prejuízos em torno de 40% da produção, mas que em casos extremos toda a lavoura ficou comprometida.
Diante disso, instituições do setor público e privado e representantes do setor produtivo, vêm desenvolvendo pesquisas relacionadas à busca por soluções eficientes objetivando levar informações técnicas e eficazes aos produtores de sorgo.
Reconhecer as espécies de pulgão que ocorrem nas lavouras de sorgo no Brasil é fundamental para que o produtor tome a decisão correta para a espécie correta, sem causar prejuízos econômicos e ao ambiente.
No sorgo podem ser observados infestações de três espécies de pulgões (pulgão-do-milho, pulgão-verde e pulgão-amarelo).
O pulgão-do-milho (Rhopalosiphum maidis) (Figura 1), que possui coloração de verde azulada a negra, é geralmente encontrado no cartucho, por isso sua presença é fácil de ser constatada nas lavouras. A presença do pulgão em baixas densidades não causa prejuízos à lavoura e pode até mesmo ajudar a manter a população de inimigos naturais na área.
O pulgão-amarelo-do-sorgo (Melanaphis sorghi) é encontrado na parte abaxial das folhas, danificando-as através da sucção de seiva, injeção de toxinas, causando destruição da parede celular promovendo manchas necróticas características do ataque de afídeos (Figura 2). Quando a infestação de pulgões é intensa, podem promover o aparecimento de honeydew, em função do líquido açucarado que expelem, resultando no aparecimento de fungos que cobrem a folhagem do sorgo, reduzindo a capacidade fotossintética. Além disso, a quantidade de honeydew produzida, e o grande número de insetos acumulados nas folhas, dificultam a colheita mecanizada e a operação da colheitadeira.
O pulgão-verde Schizaphis graminum (Figura 3) também ocorre na cultura do sorgo. É normalmente encontrado nas folhas baixeiras e se caracteriza por apresentar uma coloração verde limão, o ataque se assemelha a outras espécies de afídeos, sendo pela inserção do estilete no floema, sungando e promovendo a sucção de seiva, onde ocorre a aparição dos primeiros sintomas do ataque nas plantas, que se dá pela descoloração das folhas e morte do tecido vegetal.
Além de causar danos ao desenvolvimento vegetal, são transmissores de doenças virais, como o vírus do mosaico anão do milho e o vírus do mosaico da cana-de-açúcar. Esse pulgão normalmente ocupa mesmo local de infestação da planta de sorgo, por isso recentemente com grandes infestações em lavouras de sorgo do pulgão M. sorghi essa praga não tem sido encontrada facilmente causando prejuízos em lavouras de sorgo.
A alta taxa de reprodução de Melanaphis no sorgo aumenta a preocupação com a praga, pois seu ciclo de desenvolvimento (pré-reprodutivo) é mais curto quando comparado com outras espécies de pulgões. Seu ciclo leva em torno de cinco dias, chegando a produzir de 50 a 80 ninfas por fêmea (o dos outros pulgões é em torno de 12 dias). As pesquisas indicam que existe diferença de resistência entre as cultivares de sorgo, por isso é importante o produtor saber quão tolerante é o híbrido plantado, além de evitar a utilização de um único cultivar. A porcentagem de mortalidade e número de ninfas por fêmea (Figura 4) variam de um híbrido para outro, sendo que alguns híbridos apresentam mortalidade maior de pulgões e menor multiplicação de ninfas.
No mercado nacional duas empresas já apresentaram híbridos com níveis médios de resistência, o que indica menor necessidade de pulverização química. Para a próxima safra espera-se maior número de cultivares resistentes.
Outra questão importante para se lembrar é que, como o inseto demora menos de uma semana para chegar à fase adulta (período reprodutivo), o monitoramento na lavoura semanalmente é fundamental. Esse é um ponto crítico para o sucesso do manejo da praga no campo, não deixando essa estratégia de manejo somente para o pós-emborrachamento das plantas. Quando os sintomas aparecerem na parte de cima da folha, o dano já ocorreu e o controle é inviável ou menos eficiente.
Para controle de áreas muito colonizadas pelos pulgões, alguns produtores têm feito a utilização de defensivos químicos sem cuidar do monitoramento, o que pode trazer consequências negativas, como a ocorrência de insetos resistentes com o passar do tempo. Dados coletados em uma pesquisa recente realizada pela Embrapa Milho e Sorgo, mostrou que entre 170 produtores entrevistados 64% relataram a aplicação de inseticida químico, sendo que 42% tomaram a decisão com base em conhecimento próprio, 29% o fez sob prescrição/recomendação de um profissional e 29% não aplicaram defensivos.
Contudo, no Brasil apesar de existirem inseticidas registrados para o controle do pulgão do milho no sorgo, ainda não existem produtos registrados para a espécie estudada. Ressaltamos aqui que por se tratar de uma cultura “minor crops”, a liberação de caráter emergencial de produtos pode ser feita com base no registro de outras culturas. Nos EUA produtos à base de sulfoxaclor foram liberados em caráter emergencial para os produtores de sorgo com grande sucesso.
Vale ressaltar também que, em função dos prejuízos causados e da rápida colonização por esta praga em áreas de cultivo de sorgo torna necessária a utilização de produtos químicos para o controle. Para tanto não é recomendado fazer controle preventivo. Deve-se, após o monitoramento da lavoura, tomar a decisão de controle quanto for observado 20% das plantas com colônias médias (em torno de 50 pulgões). Além disso, no monitoramento ter atenção de verificar a parte de baixo das folhas (Figura 2).
A área plantada de sorgo aumentou 30% considerando as últimas duas safras, de forma que há uma necessidade de alta tecnologia, a qual deve vir respeitando os preceitos da sustentabilidade do agroecossistema e da conservação ambiental. Assim, é de suma importância o conhecimento das bases do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Controlar a praga na hora certa e com o produto certo, pode levar à economia de dinheiro, tornar mais eficiente o programa de controle da praga alvo e ainda ajudar a preservar os organismos benéficos na propriedade rural.
Quando aplicado de forma correta o MIP combina múltiplas estratégias para garantir a convivência com o inseto-praga sem redução relevante do rendimento da cultura. O uso de cultivares resistentes como estratégia oferece vantagens de ser de fácil implantação e é compatível com controle biológico, cultural e químico, evitando o desequilíbrio biológico das lavouras.
Por Guilherme Avelar (UFSJ), Marcelo Vieira dos Santos (UFMG), Cicero Menezes e Simone Mendes (Embrapa Milho e Sorgo)
Artigo publicado na edição 291 da Revista Cultivar Grandes Culturas
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