Visando melhor identificação e manejo, publicação explica principais doenças do trigo

O Guia de Doenças do Trigo busca, de forma resumida, auxiliar os mais diversos profissionais do campo na identificação de doenças da cultura

07.03.2022 | 09:17 (UTC -3)
Daniela Wiethölter Lopes
Ricardo Casa e Paulo Kuhnem - Foto: Lucas Marques
Ricardo Casa e Paulo Kuhnem - Foto: Lucas Marques

“Num passado não tão distante, as lavouras de trigo sofriam danos significativos causados por diversas doenças com relativa frequência e, muitas vezes, em grande extensão de área”. Assim começa o Guia de Doenças do Trigo, publicação realizada pela Biotrigo Genética com o objetivo de auxiliar produtores, técnicos e estudantes na identificação das principais doenças que afetam a cultura. De acordo com o fitopatologista da Biotrigo e um dos envolvidos na produção do guia, Paulo Kuhnem, o material surgiu pela demanda em fazer a diagnose adequada das doenças no campo.

“Existem várias doenças que acometem a cultura do trigo. Alguns sintomas são clássicos e facilmente relacionados a determinadas doenças, no entanto, no campo podemos ter diversas interações planta-patógeno, além de condições ambientais e a ocorrência de mais de uma doença na mesma planta. Muitas vezes, isso acaba gerando uma identificação errada no campo, o que compromete o manejo daquela lavoura”, explica.

Aos agricultores que buscam compreender melhor os aspectos relacionados aos sintomas, epidemiologia e as medidas de controle das principais doenças da cultura, o guia será exposto e distribuído no estande da Biotrigo ao longo da 22ª Expodireto Cotrijal. Para o doutor em fitopatologia, professor da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e co-autor da publicação, Ricardo Casa, o material pode fornecer informações relevantes no dia a dia do produtor. “Essas informações podem diferenciar algumas doenças que são controladas por fungicidas, como o oídio, ferrugens ou manchas foliares, e outras doenças abióticas, no qual não há a necessidade de aplicação fúngica, o que ocorre com doenças de espiga”, declara.

Triângulo da fitopatologia

Mas, de modo geral, quais são os principais fatores que influenciam na ocorrência de doenças? Segundo Paulo, são a presença de um patógeno, de um hospedeiro suscetível e as condições climáticas para o desenvolvimento do patógeno. “Pode-se, ainda, acrescentar um quarto fator, que está relacionado às práticas agrícolas realizadas pelo homem, pois o manejo pode influenciar, para mais ou para menos, a intensidade de ocorrência de doenças”, indica o fitopatologista. No Sul do Brasil, por exemplo, o ambiente com excesso de dias chuvosos no inverno causa a predisposição de diversas doenças no trigo. “A prevalência dessas chuvas pode influenciar na ocorrência de doenças foliares e doenças na espiga, como giberela e brusone, bem como algumas enfermidades do sistema radicular, como o mal-do-pé”, destaca Ricardo.

Doenças mais frequentes

A giberela costuma ser uma das doenças mais comuns nos estados do Sul, com um potencial de dano significativo, principalmente pela contaminação com a micotoxina deoxinivalenol (DON). De acordo com Ricardo, esses estados ainda costumam, frequentemente, sofrer a incidência de manchas foliares e oídio, por exemplo. Porém, para ele, a ocorrência dessas doenças em um determinado ano não é uma regra. “Depende do manejo adotado para cada propriedade, ou seja, depende da decisão de quem cultiva o trigo”, diz. Tais decisões definem o quão bem-sucedido será o controle de determinada enfermidade. “As estratégias podem visar a diminuição ou erradicação do inóculo inicial do patógeno, reduzir sua reprodução e dispersão com o uso de cultivares moderadamente resistentes ou resistentes junto ao uso de fungicidas e com medidas de manejo que reduzam as condições favoráveis ao patógeno. Dentre essas medidas, estão a rotação de culturas, o uso de sementes sadias, o manejo de descompactação de solos sujeitos ao encharcamento, entre outras”, complementa Paulo.

A resistência de cultivares a patógenos de difícil controle foi, inclusive, um dos maiores avanços da triticultura brasileira nos últimos anos. Para Paulo, é notável o nível de investimento feito em melhoramento genético com o foco nas doenças em que, muitas vezes, a resistência genética é o meio de controle mais eficaz a campo. “Temos a brusone, que ocorre principalmente na região do Cerrado. No Sul do Brasil, temos a giberela, vírus do mosaico e bacterioses”, destaca. Segundo ele, o melhoramento genético vem trazendo, cada vez mais, cultivares adaptadas às diferentes regiões tritícolas do Brasil e que buscam um equilíbrio entre produtividade, qualidade de panificação e resistência às doenças.

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