Sensores nas asas ajudam pulgões a encontrar plantas raras

Estudo revela relação entre quantidade de sensores e dificuldade de localizar plantas hospedeiras

11.08.2025 | 08:02 (UTC -3)
Revista Cultivar

Pesquisadores identificaram que as asas dos pulgões da subfamília Eriosomatinae funcionam como parte de um sistema sensorial avançado. O estudo, de cientistas das universidades da Silésia (Polônia) e de Haifa (Israel), examinou estruturas chamadas sensilas campaniformes, capazes de detectar deformações mecânicas nas asas durante o voo.

A análise revelou que essas estruturas não se distribuem de forma aleatória. Espécies cujas fêmeas aladas precisam percorrer longas distâncias para encontrar plantas hospedeiras raras apresentam maior quantidade dessas sensilas. Essa diferença aparece especialmente nas chamadas sensilas de tipo 3, localizadas na parte distal da asa, próximas ao pterostigma.

Função das asas como sensores

As asas dos insetos desempenham mais do que a função de locomoção. Elas abrigam receptores capazes de transmitir informações em milissegundos sobre posição, movimento e até choques com objetos. No caso dos pulgões estudados, as sensilas tipo 1 concentram-se na base da asa e detectam a flexão. As do tipo 2 ficam na junção de veias principais e percebem mudanças estruturais. Já as do tipo 3 atuam como sensores de cisalhamento, detectando torções e perturbações durante o voo.

A presença mais intensa de sensilas na extremidade da asa sugere adaptação para responder rapidamente a turbulências e obstáculos. Isso aumenta a precisão no controle do voo, algo essencial para encontrar plantas específicas em ambientes extensos.

Sensilas campaniformes localizadas na asa anterior de <i>Slavum wertheimae</i> (esquerda), <i>Prociphilus bumeliae</i> (centro) e <i>Pachypappa tremulae</i> (direita) em microscopia óptica ((a–c)—fcs2, (d–f)—fcs3). Barra de escala 0,05 mm -&nbsp;doi.org/10.3390/insects16080828
Sensilas campaniformes localizadas na asa anterior de Slavum wertheimae (esquerda), Prociphilus bumeliae (centro) e Pachypappa tremulae (direita) em microscopia óptica ((a–c)—fcs2, (d–f)—fcs3). Barra de escala 0,05 mm - doi.org/10.3390/insects16080828

Diferenças entre morfos e ciclos de vida

Os cientistas analisaram 139 exemplares de 11 espécies usando microscopia óptica e eletrônica. Todos eram fêmeas aladas de diferentes fases do ciclo de vida: fundatrigênas (nascidas na primavera), exules (migrantes de verão) e sexuparas (retornando ao hospedeiro primário no outono).

O número de sensilas variou entre espécies e morfos. Em alguns casos, fundatrigênas apresentaram mais estruturas que sexuparas. Em outros, ocorreu o inverso. Contudo, a maior regularidade apareceu quando se comparou o destino do voo: indivíduos que voavam rumo a hospedeiros menos abundantes possuíam de 1,15 a 1,77 vezes mais sensilas tipo 3 por milímetro de asa do que aqueles buscando plantas comuns.

Relação com outros sensores corporais

A pesquisa encontrou correlação entre o número de sensilas nas asas e receptores olfativos localizados nas antenas, conhecidos como rinárias. Essa ligação indica que o sistema sensorial dos pulgões opera de forma integrada: as antenas detectam odores e sinais químicos das plantas, enquanto as asas fornecem informações mecânicas para otimizar a trajetória de voo.

Além disso, houve associação entre sensilas alares e sensores presentes nas pernas, sugerindo uma origem evolutiva comum para essas estruturas.

Implicações para o entendimento da migração

A eficiência de voo é determinante para o sucesso reprodutivo de pulgões que alternam entre hospedeiros. Em condições adversas, como dias mais curtos e temperaturas baixas no outono, encontrar o hospedeiro certo se torna mais difícil. Apenas uma fração mínima das fêmeas migrantes consegue chegar à planta correta.

Os resultados reforçam que a abundância ou escassez do hospedeiro molda adaptações sensoriais. Espécies que não precisam mudar de planta, ou que encontram hospedeiros facilmente, exibem menor número de sensilas tipo 3 e menor densidade por milímetro de asa.

Outras informações em doi.org/10.3390/insects16080828

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