Microrganismo muda comportamento de Myzus persicae

Estudo testa se endossimbionte Rickettsiella altera resposta do percevejo à predação e mostra efeitos comportamentais sutis

25.09.2025 | 07:01 (UTC -3)
Revista Cultivar
Foto: Jim Baker, North Carolina State University
Foto: Jim Baker, North Carolina State University

Equipe de entomologistas da Universidade de Melbourne, na Austrália, investigou os efeitos comportamentais de uma infecção bacteriana em Myzus persicae (pulgão-verde). A pesquisa teve como foco o impacto do endossimbionte Candidatus Rickettsiella viridis, conhecido por causar alterações fisiológicas no inseto, como a coloração verde escura e a redução da fecundidade. O estudo explorou se essas mudanças também influenciariam o comportamento dos pulgões frente à predação por joaninhas (Hippodamia variegata).

Os cientistas compararam dois grupos de pulgões: um infectado com Rickettsiella (linha RCL+) e outro não infectado (linha RCL-), ambos geneticamente idênticos. Os testes em plantas inteiras de Brassica rapa var. chinensis analisaram preferências de micro-habitat, produtividade em cada lado e reações à presença de joaninhas predadoras.

Produtividade reprodutiva

A infecção com Rickettsiella não alterou a produtividade reprodutiva nem a preferência média por superfícies foliares. No entanto, pulgões infectados mostraram comportamentos mais consistentes ao longo do tempo. A linha RCL+ variou menos na escolha da superfície da folha, enquanto a linha RCL- apresentou flutuações maiores, possivelmente ligadas a uma maior mobilidade ou sensibilidade a estímulos ambientais.

<i>Hippodamia variegata</i> - Foto: Mary C Legg, Bugwood
Hippodamia variegata - Foto: Mary C Legg, Bugwood

Em condições com presença de predadores, os pulgões infectados passaram a ocupar mais frequentemente a face superior da folha, comportamento não observado nos não infectados.

Apesar disso, os experimentos de escolha não indicaram preferência das joaninhas por nenhum dos grupos, sugerindo que a infecção não afeta a atratividade dos pulgões para os predadores. Também não houve diferenças na taxa de predação entre os grupos.

Populações mistas

O experimento com populações mistas confirmou a ausência de seleção por parte das joaninhas. A distribuição de pulgões verdes (infectados) e amarelos (não infectados) permaneceu próxima de 50% após a intervenção dos predadores. Além disso, a escolha das superfícies foliares por ambos os grupos não indicou separação de nicho ecológico.

Mudanças comportamentais

A pesquisa mostra que a introdução de endossimbiontes pode gerar mudanças comportamentais discretas nos hospedeiros, sem comprometer a eficiência de agentes de controle biológico como as joaninhas.

Foto: David Cappaert, Bugwood
Foto: David Cappaert, Bugwood

O uso combinado de Rickettsiella e predadores naturais pode representar uma estratégia viável no manejo integrado de pulgões, especialmente considerando a crescente resistência aos inseticidas químicos.

Não foram observados ganhos reprodutivos associados à escolha de superfície foliar. Em dez dias de observação com gaiolas de clipe, o número de ninfas produzidas por fêmea adulta foi semelhante entre as linhas RCL+ e RCL-, tanto na face superior quanto inferior das folhas. Isso indica que o valor nutricional das duas superfícies pode ser equivalente para essa espécie de pulgão.

Diferenças de variância

As diferenças de variância observadas nos dados de escolha de superfície sugerem que o endossimbionte modula a consistência comportamental. Em gráficos individuais, a linha RCL+ apresentou padrões de ocupação mais estáveis. Essa estabilidade pode resultar em vantagens ou desvantagens contextuais, a depender de fatores ambientais como chuvas, temperatura e radiação UV.

A confirmação da infecção foi feita por testes de PCR quantitativo (qPCR) e por análise da coloração corporal. Pulgões infectados exibiram coloração verde escura, enquanto os não infectados mantiveram o tom amarelo característico da espécie. Essa diferença permitiu distinguir facilmente os grupos nos testes comportamentais.

O estudo destaca a importância de considerar variáveis comportamentais, e não apenas reprodutivas, ao avaliar o uso de microrganismos como agentes de controle. Embora Rickettsiella não tenha aumentado a vulnerabilidade dos pulgões a predadores, também não reduziu sua eficiência. Isso favorece o uso integrado em programas de manejo biológico.

Outras informações em doi.org/10.1093/aesa/saaf034

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