Cevada domesticada surgiu de cinco populações

DNA antigo revela que cevada domesticada tem múltiplas origens no Crescente Fértil

24.09.2025 | 16:01 (UTC -3)
Revista Cultivar, a partir de informações de Christian Schafmeister
Foto: Howard F Schwartz - Colorado State University
Foto: Howard F Schwartz - Colorado State University

A cevada (Hordeum vulgare) não foi domesticada em um único local -- como se pensava até hoje. Estudo liderado pelo Instituto Leibniz de Genética de Plantas e Pesquisa de Cultivos (IPK), da Alemanha, revelou que a cevada cultivada tem uma origem genética em mosaico.

A pesquisa analisou o DNA de 682 variedades modernas da cevada conservadas em bancos genéticos, além de 23 grãos arqueológicos carbonizados, datados de até 6.000 anos.

O estudo concentrou-se em haplótipos (blocos de DNA herdados em conjunto) que funcionam como marcadores genéticos da evolução da planta.

Cinco populações selvagens

Os cientistas compararam 380 amostras de cevada selvagem de regiões da Ásia Central e Ocidental com 302 amostras de cevada domesticada. O resultado apontou que todas as populações analisadas contribuíram para a formação da cevada cultivada atual, com variações na intensidade dessa contribuição.

Essas populações selvagens estavam distribuídas ao longo do Crescente Fértil, que inclui áreas do atual Iraque, Turquia, Israel e países vizinhos.

A análise genética mostrou que algumas variantes fundamentais para a domesticação surgiram há mais de 27 mil anos, muito antes das evidências arqueológicas de cultivo.

Domesticação antes da agricultura fixa

Segundo os pesquisadores, o processo de domesticação da cevada começou por volta de 10 mil anos atrás, durante a Revolução Neolítica. Mas mutações genéticas importantes para a agricultura surgiram bem antes disso, sugerindo um longo período de cultivo pré-doméstico, antes mesmo da sedentarização humana.

Foto: Gerald Holmes - Cal Poly San Luis Obispo
Foto: Gerald Holmes - Cal Poly San Luis Obispo

O estudo também identificou que a cevada domesticada se dividiu, ao longo do tempo, em três grandes linhagens: uma ocidental (do Oriente Médio à Europa), uma oriental (da Ásia Central ao Extremo Oriente) e outra etíope. Cada linhagem apresenta características próprias, como espigas de duas ou seis fileiras de grãos, e grãos com ou sem casca.

Diversidade genética

Os dados mostram que, à medida que a agricultura se espalhou para além do Crescente Fértil, houve trocas genéticas entre variedades cultivadas e populações selvagens locais. Esse fluxo gênico foi influenciado por migrações humanas e rotas comerciais, o que explica a grande diversidade genética observada hoje.

Amostras de DNA extraídas de grãos encontrados em cavernas e sítios arqueológicos em Israel indicam um aumento da diversidade genética ao longo do tempo.

Essa tendência reflete a entrada de novos haplótipos oriundos de diferentes regiões, incluindo eventos de introgressão genética detectados há cerca de 3 mil anos, provavelmente associados ao comércio marítimo no Mediterrâneo durante a Idade do Bronze.

Cada gene, uma história

Os pesquisadores também dataram mutações específicas ligadas à domesticação. O alelo responsável por espigas não quebradiças surgiu por volta de 27 mil anos atrás. O alelo que confere grãos “nus”, sem casca, apareceu há cerca de 16 mil anos. Já os alelos associados à espiga com seis fileiras surgiram entre 25 mil e 7 mil anos atrás, em diferentes regiões.

Essas mutações ocorreram em populações selvagens distintas, reforçando a tese de múltiplas origens. Em muitos casos, os mesmos traços surgiram de formas independentes em locais diferentes, evidência de um processo de domesticação complexo e descentralizado.

Outras informações em doi.org/10.1038/s41586-025-09533-7

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