Mercado Agrícola - 23.set.2025
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A cevada (Hordeum vulgare) não foi domesticada em um único local -- como se pensava até hoje. Estudo liderado pelo Instituto Leibniz de Genética de Plantas e Pesquisa de Cultivos (IPK), da Alemanha, revelou que a cevada cultivada tem uma origem genética em mosaico.
A pesquisa analisou o DNA de 682 variedades modernas da cevada conservadas em bancos genéticos, além de 23 grãos arqueológicos carbonizados, datados de até 6.000 anos.
O estudo concentrou-se em haplótipos (blocos de DNA herdados em conjunto) que funcionam como marcadores genéticos da evolução da planta.
Os cientistas compararam 380 amostras de cevada selvagem de regiões da Ásia Central e Ocidental com 302 amostras de cevada domesticada. O resultado apontou que todas as populações analisadas contribuíram para a formação da cevada cultivada atual, com variações na intensidade dessa contribuição.
Essas populações selvagens estavam distribuídas ao longo do Crescente Fértil, que inclui áreas do atual Iraque, Turquia, Israel e países vizinhos.
A análise genética mostrou que algumas variantes fundamentais para a domesticação surgiram há mais de 27 mil anos, muito antes das evidências arqueológicas de cultivo.
Segundo os pesquisadores, o processo de domesticação da cevada começou por volta de 10 mil anos atrás, durante a Revolução Neolítica. Mas mutações genéticas importantes para a agricultura surgiram bem antes disso, sugerindo um longo período de cultivo pré-doméstico, antes mesmo da sedentarização humana.
O estudo também identificou que a cevada domesticada se dividiu, ao longo do tempo, em três grandes linhagens: uma ocidental (do Oriente Médio à Europa), uma oriental (da Ásia Central ao Extremo Oriente) e outra etíope. Cada linhagem apresenta características próprias, como espigas de duas ou seis fileiras de grãos, e grãos com ou sem casca.
Os dados mostram que, à medida que a agricultura se espalhou para além do Crescente Fértil, houve trocas genéticas entre variedades cultivadas e populações selvagens locais. Esse fluxo gênico foi influenciado por migrações humanas e rotas comerciais, o que explica a grande diversidade genética observada hoje.
Amostras de DNA extraídas de grãos encontrados em cavernas e sítios arqueológicos em Israel indicam um aumento da diversidade genética ao longo do tempo.
Essa tendência reflete a entrada de novos haplótipos oriundos de diferentes regiões, incluindo eventos de introgressão genética detectados há cerca de 3 mil anos, provavelmente associados ao comércio marítimo no Mediterrâneo durante a Idade do Bronze.
Os pesquisadores também dataram mutações específicas ligadas à domesticação. O alelo responsável por espigas não quebradiças surgiu por volta de 27 mil anos atrás. O alelo que confere grãos “nus”, sem casca, apareceu há cerca de 16 mil anos. Já os alelos associados à espiga com seis fileiras surgiram entre 25 mil e 7 mil anos atrás, em diferentes regiões.
Essas mutações ocorreram em populações selvagens distintas, reforçando a tese de múltiplas origens. Em muitos casos, os mesmos traços surgiram de formas independentes em locais diferentes, evidência de um processo de domesticação complexo e descentralizado.
Outras informações em doi.org/10.1038/s41586-025-09533-7
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