Lote da Cultivar MGS Paraíso 2 vence o Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy

Produzido no Cerrado Mineiro, Guima Café conquistou o “Best of the best”; cultivar foi desenvolvido pelo Programa de Melhoramento Genético da Epamig

06.12.2023 | 13:45 (UTC -3)
Mariana de Assis
Foto: Rob Kim/Getty Images
Foto: Rob Kim/Getty Images

O Guima Café, do Grupo BMG, conquistou o “Best of the best” no 8º Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy. O lote premiado é da cultivar MGS Paraíso 2, desenvolvido pelo Programa de Melhoramento Genético do Cafeeiro da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). O anúncio foi feito no mês de novembro, em evento realizado na New York Public Library, em Nova York.

O Guimá Café é produzido entre os municípios de Varjão de Minas e Patos de Minas, no Cerrado Mineiro, numa propriedade adquirida pelo Grupo BMG em 1977, com foco específico na cafeicultura e que, desde 2008, investe em sustentabilidade e na produção de bebidas especiais. “A visão da propriedade hoje é toda voltada para a produção sustentável. Uma parte da área é certificada como agricultura regenerativa e nossa prática convencional é toda voltada para o manejo sustentável, visando a redução do uso de defensivos, a utilização correta dos fertilizantes (adoção de fertilizantes orgânicos e organominerais), além do reaproveitamento e da destinação correta dos resíduos (palha do café, água residuária do lavador, tudo isso retorna para a lavoura em forma de fertilizante)”, explica o técnico agrícola, Ricardo Oliveira, responsável pelas práticas agronômicas.

A busca por certificação e pela adoção de práticas de manejo mais adequadas fez com que a equipe iniciasse a busca por novos materiais genéticos mais resistentes e que ao mesmo tempo resultassem em uma bebida de qualidade elevada. “Até 2008 predominava-se Catuaí 144 e Mundo Novo. A partir da conquista de certificações como a Rainforest, veio o investimento para a produção de cafés especiais e a renovação das lavouras com materiais genéticos voltados para a produtividade e qualidade (Bourbon amarelo e vermelho, Icatu e os Catuaís, que se sobressaem em função das características da região). Além da adoção de métodos de processamento pós-colheita que possibilitam a melhoria de vários lotes do nosso café”, detalha Ricardo Oliveira.

Escolha da cultivar

Foi essa a procura por materiais genéticos mais produtivos e de qualidade que levou o grupo a adquirir as primeiras mudas da cultivar MGS Paraíso 2. “A nossa história com a MGS Paraíso 2 começou em 2018, a nossa diretora à época conversou com o Marco Antônio de Castro, nosso classificador em Patrocínio, e perguntou sobre a cultivar que estava pontuando melhor na região e alcançando as melhores colocações. Ele apontou a Paraíso e ela nos deu essa orientação”, lembra Ricardo Oliveira.

A partir daí, Ricardo e a equipe buscaram mais informações e descobriram duas cultivares da Epamig, a Paraíso MG H419-1 e a MGS Paraíso 2. “Fomos em alguns dias de campo na região para conhecer as lavouras e a tomada de decisão veio em uma apresentação em Patrocínio feita pelo pesquisador Gladyston Carvalho, da Epamig, quando eu fiz a pergunta sobre qual das cultivares da Paraíso estava mais adaptada ao Cerrado Mineiro. A resposta foi categórica: MGS Paraíso 2. Dali mesmo já avisei a nossa gerente para agilizar a busca pelas mudas em viveiros próximos”, conta.

O plantio foi feito para a renovação de uma área onde havia sido cultivado o Catuaí Vermelho IAC 144 e os resultados foram visíveis rapidamente. “Esse café adaptou-se muito bem nas nossas áreas, aliando requisitos de resistência a pragas e doenças, produtividade e qualidade. E surpreendeu ainda mais nesse prêmio da Illy Caffè, conquistando a primeira posição nos concursos regional Cerrado Mineiro, Nacional e Internacional, disputando com os três campeões nacionais de nove países”, acrescenta o técnico.

A avaliação foi feita por um painel independente formado por nove especialistas que examinaram, em uma degustação às cegas, os melhores lotes da colheita de 2022-2023. Antes, cada lote de café foi analisado pelos laboratórios de controle de qualidade da illycaffè e classificado em termos de riqueza e complexidade aromática, elegância e equilíbrio do seu sabor e intensidade do seu aroma.

“Somos o primeiro café brasileiro a conquistar o primeiro lugar neste concurso internacional que possui grande credibilidade, o que é muito gratificante! Esse prêmio é também uma homenagem ao nosso patriarca, dr. Flávio, que nos deixou em janeiro, e a essa grande equipe envolvida, ao trabalho de muitas pessoas, de muitas famílias”, ressalta Ricardo Oliveira, que acrescenta: “O Café Illy adquire o cereja despolpado, sem nenhum processamento pós-colheita, indução, ou fermentação. O que prova que a região, o solo, a altitude entre 1000 e 1030m, o manejo e a cultivar, combinaram perfeitamente”, finaliza.

MGS Paraíso 2

Foto: Erasmo Pereira
Foto: Erasmo Pereira

Lançada no ano de 2012, a cultivar MGS Paraíso 2, tem se destacado por apresentar elevada produtividade e alto potencial para produção de cafés especiais. Derivada do cruzamento entre Catuaí Amarelo IAC 30 e Híbrido de Timor UFV 445-46, caracteriza-se pelo porte baixo, frutos amarelos, alto vigor vegetativo, resistência à ferrugem, precocidade de maturação dos frutos, ampla adaptação aos sistemas de cultivo irrigado e de sequeiro e excelente adaptabilidade aos sistemas de colheita manual e mecanizada.

A cultivar é uma das 21 desenvolvidas pelo Programa de Melhoramento Genético da Epamig, que  tem selecionado materiais capazes de atender às demandas da cafeicultura atual, principalmente no que se refere à produtividade, resistência a pragas e doenças e qualidade final da bebida.

Um grande projeto tem sido conduzido em diferentes regiões produtoras de Minas Gerais para a avaliação do desempenho de cultivares. O modelo, que já foi aplicado nas regiões do Cerrado Mineiro e Sul de Minas, compara as novas cultivares utilizando como testemunhas cultivares referência em produtividade e qualidade da bebida.

O pesquisador Gladyston Carvalho destaca que o bom desempenho de uma cultivar depende de diversos fatores. “Na mesma região podemos encontrar diferentes condições de altitude, relevo, tipo do solo, sistema de produção, temperatura e outros mais, que interferem no desempenho final da cultivar. Estes projetos nos permitem conhecer melhor o comportamento das cultivares em cada região para gerar indicações de cultivo mais precisas para a cafeicultura mineira”.

Os resultados dos projetos no Cerrado Mineiro e no Sul de Minas foram publicados em 2023 e confirmaram a versatilidade e o desempenho da Cultivar MGS Paraíso 2.  “No projeto do Cerrado, em parceria com a Federação dos Cafeicultores, essa foi a cultivar que alcançou a maior média de produtividade e de qualidade da bebida no somatório das 22 propriedades participantes nas quatro primeiras colheitas”, aponta o pesquisador da Epamig, Vinícius Andrade. “No Sul de Minas, a MGS Paraíso 2 ficou entre as três melhores em produtividade em cinco dos dez municípios avaliados e obteve as maiores pontuações na análise sensorial, no projeto realizado junto com a Cooxupé”, completa o pesquisador da Epamig, César Botelho.

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