EUA registram produto à base de RNA contra ácaro Varroa destructor

A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) concedeu o registro do Norroa, produto à base de RNA desenvolvido para combater o ácaro Varroa destructor. O parasita é apontado como a maior ameaça às colônias de abelhas melíferas. O produto foi desenvolvido pela GreenLight Biosciences e será comercializada exclusivamente pela Mann Lake.

O registro surge em meio a uma crise na apicultura dos EUA. Entre junho de 2024 e março de 2025, apicultores relataram a perda de 1,7 milhão de colônias. A média de perda entre produtores comerciais chegou a 62%, segundo a Honey Bee Health Coalition. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) aponta a resistência dos ácaros V. destructor aos acaricidas químicos como uma das principais causas.

O Norroa traz um ingrediente ativo chamado Vadescana, que usa RNA de interferência (RNAi) para atingir os ácaros Varroa e interromper sua reprodução. A molécula, natural e biodegradável, pertence ao Grupo 35 do IRAC.

Ensaios de campo em várias regiões dos EUA mostraram controle prolongado dos ácaros por até 18 semanas. As colmeias tratadas registraram melhora na saúde geral, sem efeitos negativos para abelhas, humanos ou meio ambiente. O produto pode ser aplicado em qualquer temperatura, desde que o manejo da colmeia seja seguro.

Sobre o modo de ação de Vadescana

Vadescana é um dsRNA especificamente projetado para controlar o ácaro Varroa destructor em colmeias de abelhas, suprimindo a reprodução do ácaro via RNAi após o consumo.

Resumidamente, o dsRNA de vadescana fornecido exogenamente leva à inibição (ou silenciamento) do CAM do ácaro Varroa, interferindo no mRNA do gene. O CAM codifica um mRNA de 1.498 pares de bases (pb) (Acesso NCBI XM_022799184.1) que se traduz em uma proteína-chave de ligação ao cálcio, responsável pela regulação de vários alvos proteicos, incluindo alguns envolvidos em importantes processos de fertilização e desenvolvimento.

O Vadescana tem como alvo um subconjunto de 402 pb desse mRNA. O Vadescana deve ser consumida pelo ácaro, atravessar seu trato gastrointestinal e entrar em suas células (especificamente, no citoplasma), onde proteínas intracelulares do ácaro Varroa destructor, como a Dicer (uma endonuclease RNase III), clivam o dsRNA da vadescana em pequenos RNAs interferentes (siRNAs) de aproximadamente 21 pb. Os siRNAs resultantes são complementares às sequências do mRNA transcrito do cam. Os siRNAs duplex são então desenrolados, com uma fita (fita senso) sendo degradada e a outra fita (fita antissenso) sendo carregada no Complexo Silenciador Induzido por RNAi (RISC).

A fita antissenso guia o RISC até o mRNA alvo, e o Argonaute, um componente do RISC, degrada o mRNA alvo, levando à supressão gênica. A perda de um produto funcional da proteína cam no ácaro Varroa provavelmente resulta em uma interrupção de processos celulares importantes relacionados à fertilização ou desenvolvimento (por exemplo, ativação do óvulo), levando à eventual inibição reprodutiva no ácaro.