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O pesquisador José Tadashi Yorinori fez sua carreira em instituições como IPEAME, IAPAR e Embrapa Soja combatendo as principais doenças que comprometem o rendimento e a qualidade dos grãos nas lavouras brasileiras. Hoje, à frente da TADASHI Agro, continua suas pesquisas em busca de controle para a mais devastadora das doenças da soja: a ferrugem asiática. Tadashi, como é conhecido pela comunidade técnico-científica, é o homenageado da 39ª Reunião de Pesquisa de Soja da Região Sul, que acontece de 24 a 26 de julho, na Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS). Confira a entrevista com o pesquisador:
As principais doenças nos últimos dez anos, na Região Sul, são ferrugem asiática; podridão vermelha da raiz (PVR) ou síndrome da morte súbita (SDS) ou podridão de fusarium; podridão radicular de fitóftora; mofo branco ou podridão de esclerotínia (uma das mais antigas doenças da soja); podridão de carvão ou podridão de macrofomina (consequência de estresse hídrico associado a manejo físico-químico deficiente do solo); mancha parda ou septoriose; crestamento foliar de cercospora e mancha púrpura da semente. Em algumas localidades, a mancha alvo tem sido problema.
Todas as doenças que afetam o rendimento, de algum modo, afetam também a qualidade da colheita. Na soja colhida de plantas que completaram o ciclo prematuramente, por desfolha antecipada, afeta principalmente o rendimento. Embora, geralmente de menor importância econômica, as doenças que mais afetam a qualidade da soja, resultando em menores teores de óleo e proteína e menor vigor da semente, são a antracnose, o Phomopsis da semente e o crestamento de cercospora. Os fungos causadores dessas doenças permanecem associados com a parte aérea das plantas, em seu estágio latente, raramente causando danos diretos. Isso pode ocorrer quando as plantas sofrem alguma debilidade por doenças radiculares, estresse hídrico ou deficiência nutricional, especialmente de potássio, manganês e magnésio. Todavia, podem causar sérios danos à qualidade dos grãos quando a soja está pronta, mas sofre atraso de colheita devido ao excesso de umidade em anos chuvosos na colheita. As perdas são causadas pela deterioração dos grãos que resultam em menor peso e posterior desconto de “grãos ardidos” na entrega da produção. Além desses efeitos negativos, campos de semente podem ser descartados dessa finalidade devido à redução do poder germinativo e vigor das sementes. As doenças radiculares (podridão de fusarium – PVR/SDS, podridão de macrofomina, podridão de fitóftora e nematoides de galhas) e o mofo branco, que ocorrem em forma de reboleiras, resultando em lavouras com desuniformidade de maturação, são também responsáveis por redução do rendimento e da qualidade da produção.
Por uma série de fatores e de circunstâncias que afetam ou dificultam seu controle. A ferrugem asiática continua sendo um desafio devido à sua agressividade, grande capacidade de multiplicação e pela disseminação extremamente favorecida pelo vento (dependendo da velocidade, o fungo pode ser disseminado a centenas ou milhares de quilômetros por dia), e seu controle exige alta tecnologia;. A variação anual do clima pode favorecer ou desfavorecer o início das ocorrências, dificultando a determinação do momento correto do início e do intervalo das pulverizações Há grande número de pulverizadores que não estão adequados para a eficiência de cobertura exigida para o controle da ferrugem, resultando em deficiência de cobertura foliar. Este fato ocorre principalmente com pequenos produtores, que utilizam os mesmos bicos para controle de doenças, pragas e plantas daninhas. Ocorrem falhas no monitoramento da eficiência da cobertura e a pulverização ocorre em momento inadequado, com temperatura elevada, ventos fortes e baixa umidade do ar. Fungicidas e/ou doses não adequados para o controle da doença ainda são usados Há presença contínua de plantas de soja guaxas no campo, tanto no Brasil como nos países vizinhos (Paraguai e Bolívia,) onde o fungo da ferrugem sobrevive e multiplica-se durante todo o ano, e longo período de sobrevivência do fungo (até 50 dias a temperaturas de 25 a 27 ºC). Outro problema é a duração (janela) de plantio muito extenso, fazendo com que plantios antecipados produzam o fungo para as semeaduras mais tardias, tornando mais difícil o controle adequado da ferrugem em lavouras tardias. É preciso evitar falhas no monitoramento da ferrugem na lavoura, com o acompanhamento das condições climáticas da safra e atenção ao alerta do consórcio antiferrugem (acessado no site consorcioantiferrugem.net), o qual fornece diariamente os locais das ocorrências da ferrugem no Brasil.
Não há um número definido de pulverizações que se possa recomendar ou que seja adequado para controlar a ferrugem eficientemente, tudo depende do monitoramento eficiente e contínuo da presença da doença na região. Assim, o controle mais eficiente é obtido quando se inicia com a primeira pulverização preventivamente, ou seja, na ausência de infecção na lavoura. Apesar da inevitável deficiência de cobertura foliar, por mais técnica que seja a aplicação, sempre haverá folhas sem proteção na parte sombreada do dossel das plantas, mas, para uma doença cujo inóculo vem pelo vento, havendo uma pulverização eficiente e com fungicida eficaz, a possibilidade desse esporo é de cair na superfície da folha coberta pelo fungicida preventivo. Naturalmente, o fluxo contínuo de esporos que estarão atingindo a lavoura eventualmente fará com que a doença se estabeleça nas folhas não protegidas, permitindo que o fungo se estabeleça e se multiplique na parte interna da folhagem. Todavia, pulverizações posteriores, a intervalos regulares, permitirão obter alto nível de controle com uma a três pulverizações, dependendo da época de semeadura, das condições climáticas e do ciclo da cultivar. Em anos favoráveis à ferrugem, plantios tardios e com o fungo disponível no ar durante todo o ciclo da soja, tornarão impossível o controle eficiente e econômico da doença, mesmo com 4 a 5 pulverizações. As lavouras semeadas mais tarde sempre receberão o maior número de pulverizações.
Atualmente, nas regiões tradicionais de cultivo da soja, principalmente na Região Sul, que é a mais antiga no Brasil, é impossível colher uma lavoura isenta de doença. Sempre haverá algum tipo de doença e algum nível de perda. O limite tolerável ou aquele denominado de nível de dano econômico é aquele em que as perdas não ultrapassam o custo da produção ou que não comprometam a subsistência do produtor. Portanto, considero que o limite tolerável de perda é aquele inevitável em que, apesar da adoção das melhores práticas agronômicas ele ainda ocorre. Geralmente, os produtores mais bem sucedidos no controle das doenças são aqueles que contam com a assessoria de empresas especializadas ou tem um ou mais Engenheiros Agrônomos ou Técnicos Agrícolas experientes na propriedade. Dessa forma, no geral, creio que as falhas anuais do controle da ferrugem e de outras doenças são devidas a um conjunto de práticas agronômicas deficientes, falta de um manejo integrado da cultura da soja, que necessitam ser devidamente avaliadas e melhoradas. Considero que o uso atual de defensivos agrícolas no Brasil é exagerado, necessitando urgentemente de uma análise do seu impacto ambiental. Em média, em uma safra de soja, são feitas de 8 a 15 pulverizações de fungicidas, inseticidas e herbicidas, sem contar o que se aplica nas culturas de safrinha e de inverno. Mesmo assim, vemos que as perdas anuais por doenças, pragas e plantas daninhas, sob clima favorável a altos rendimentos, são bastante elevadas e preocupantes. Creio que isso mostra a falta de preparo técnico dos produtores e da assistência técnica no Brasil, ou da consequência da ausência de um forte programa de extensão rural oficial e de maior presença dos agentes da pesquisa no campo.
Acredito que não existe nenhuma ameaça que permaneceu latente por tanto tempo e se tornou tão devastadora como a ferrugem asiática. Todavia, uma possível ameaça pode ser a introdução da doença da soja denominada mancha vermelha (“red leaf blotch”), causada pelo fungo Pyrenochaeta glycines. Essa doença é nativa e ocorre nos países do continente africano, principalmente no Zimbabue e na Zâmbia. Comparando, seria mais agressiva dos que as doenças foliares que ocorrem no Brasil, a mancha parda e o crestamento de cercospora. Informações indicam que não há fonte confiável de resistência genética e seu controle poderá exigir o uso de fungicidas. Uma doença que já foi devastadora no Brasil, mas que foi erradicada graças ao forte programa de melhoramento genético e uso de cultivares resistentes, é a mancha “olho-de-rã”. No período de 1970/71 a 1989/90, esta foi a doença que mais causou prejuízos aos produtores de soja. Atualmente, ela está presente na Argentina onde, nas safras de 2008/09 a 2010/11, causou aumento progressivo de perdas, chegando a afetar seriamente a economia do país e a disponibilidade de semente na safra 2010/11. A ameaça para o Brasil é representada pelas extensas áreas de cultivo com cultivares argentinas, principalmente nas Regiões Sul e Centro-Sul e à falta de informações quanto à reação dessas cultivares à doença. Na safra 2010/11, foi constatado na Argentina que a maioria das cultivares era suscetível à doença.
Paulo Kurtz
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