Embrapa e USDA assinam acordo para pesquisa e eficiência de fertilizantes
Recurso é da ordem de 4 milhões de dólares, sendo 1 milhão para cada projeto de pesquisa para ser executado em 3 anos
O mercado brasileiro de hortaliças hoje é altamente diversificado e segmentado, com o volume de produção concentrado em seis espécies – batata, tomate, melancia, alface, cebola e cenoura -, sendo a agricultura familiar responsável por mais da metade da produção. As principais culturas cultivadas no território brasileiro hoje são capazes de apresentar alta produtividade e grandes volumes de produção. Mas há cinco décadas atrás a situação não era assim: quase todas as culturas dependiam de sementes importadas, normalmente produzidas por países de clima temperado. Não existiam sistemas de produção estabelecidos para as condições tropicais e os diferentes tipos de solo brasileiro.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que está completando 50 anos neste ano, teve um papel importante nesta transformação do mercado de hortaliças, principalmente por conta da atuação de um centro de pesquisa que foi criado na década de 70 justamente para gerar soluções e atender demandas do setor. A Embrapa Hortaliças nasceu em 1975, primeiramente como Unidade de Pesquisa de Âmbito Estadual de Brasília (UEPAE de Brasília), depois como no Centro Nacional de Pesquisa de Hortaliças e finalmente em 1997 passou a se chamar Embrapa Hortaliças. Entre os principais avanços alcançados por ela nesse período estão a adaptação de diversas cultivares às condições edafoclimáticas brasileiras, além do desenvolvimento de sistemas de produção mais adequados ao território nacional.
Um dos casos de sucesso mais emblemático é o do alho. Graças às inovações tecnológicas desenvolvidas pela ciência brasileira para essa cultura nas últimas 50 décadas, a produtividade do alho brasileiro aumentou entre 40% e 100%. Destaque especial vai para a recomendação do uso do alho-semente livre de vírus nas lavouras comerciais. Bastante democrática, a tecnologia é adotada tanto por grandes quanto por pequenos produtores. Estima-se que, sozinha, ela seja responsável por pelo menos 30% do aumento de produtividade na cadeia de produção de alho no Brasil.
No caso dos pequenos produtores, é comum observar a produtividade dobrar com a adoção do alho-semente livre de vírus, o que dá uma dimensão exata da importância social e econômica dessa tecnologia. Já grandes produtores da região do Cerrado conseguem produzir até 25 toneladas por hectare, bem distante das 8 toneladas produzidas no fim dos anos 90. Algumas cultivares tiveram um incremento de até 150% com a adoção do alho-semente livre de vírus.
As pesquisas com tomate, que desde o início encontraram grandes desafios no Brasil, ganharam um importante reforço com a criação da Embrapa Hortaliças. A tomaticultura sempre enfrentou problemas como o severo ataque de pragas e doenças, o que requer o uso constante e mais intenso de agrotóxicos; as chuvas torrenciais e as temperaturas elevadas no verão, bem como o frio do inverno.
Em meio a um cenário tão desafiador, a Embrapa apresentou tecnologias como o melhoramento genético e o manejo fitotécnico, por exemplo, que têm contribuído para a sustentabilidade do cultivo. Modernas cultivares apresentam fatores genéticos incorporados principalmente contra doenças de solo e de origem viral e já há disponível uma ampla coleção de cultivares multirresistentes. Ferramentas de biologia molecular também têm identificado patógenos e variantes de patógenos que afetam a cultura.
Assim, apesar dos obstáculos, todos esses avanços alcançados pela pesquisa nacional posicionaram o Brasil entre os 10 maiores produtores de tomate do mundo, com uma produção total de 3.753.595 toneladas, segundo dados da FAOSTAT (2022).
O desafio para viabilizar a produção de cenoura em larga escala no País também não foi menos complexo. Por ser uma cultura de inverno, era praticamente impossível produzi-la no Brasil durante a primavera e o verão. Foi assim até o lançamento da cultivar Brasília, em 1981, pelo Programa de Melhoramento de Cenoura da Embrapa Hortaliças. Além de permitir a semeadura nos períodos mais quentes do ano, a cenoura Brasília também possibilitou o deslocamento da produção, antes restrita ao Sul e Sudeste do Brasil, para outras regiões.
Depois do lançamento da cenoura Brasília, as empresas usaram essa população original e desenvolveram suas cultivares derivadas diretamente desse genótipo. A Embrapa Hortaliças seguiu o mesmo caminho. Estima-se que o melhoramento genético de cenoura foi responsável pelo aumento de 90% no rendimento da cultura nos últimos 50 anos.
Nas últimas décadas, a pesquisa nacional também ajudou a tirar a cultura do pimentão da estagnação nos anos 1990, com o desenvolvimento de novas cultivares, híbridos e novas tecnologias que permitem o plantio do pimentão em todas as regiões do País o ano inteiro. A Embrapa Hortaliças não dispõe de cultivares de pimentão no mercado, mas sua contribuição foi decisiva na adaptação da cultura ao País, inclusive no aperfeiçoamento de sistemas de cultivo protegido em estufas e casas-de-vegetação, fundamentais para a estabilidade da produção, pois praticamente neutralizam as influências do clima.
Assim, o pimentão saiu da estagnação dos anos 1990 para se tornar uma das 10 hortaliças mais produzidas em todo o Brasil. Hoje é cultivado em praticamente todo País, em estufas ou em campo aberto.
As demandas da cadeia produtiva da batata-doce - quinta colocada entre as culturas alimentícias no mundo – também têm encontrado respostas nas pesquisas da Embrapa Hortaliças. Nos últimos anos, a ciência nacional e a tecnificação dos produtores têm impulsionado a cultura no País. Todo esse interesse se deve a uma série de oportunidades e ameaças que devem se apresentar ao setor num futuro próximo.
Em 1980 a Embrapa Hortaliças montou um Banco Ativo de Germoplasma (BAG) da cultura. Os primeiros projetos avaliaram o potencial comercial e selecionaram os melhores acessos para lançamento de cultivares. A batata-doce também foi avaliada como alternativa de produção de álcool e marrom-glacê. Outras avaliações selecionaram os acessos com maior conteúdo de carotenóides, com cores de polpa alaranjada, para o mercado brasileiro de clones biofortificados.
A pesquisa se volta agora para viabilizar avanços que serão cruciais nas próximas décadas, como a adaptação da batata-doce para o processamento industrial. Cada vez mais indústrias demandam matéria-prima para a fabricação de suplementos alimentares, medicamentos e produtos sem glúten, demanda essa que pode ser suprida pela batata-doce em pó (farinha).
A sustentabilidade da cadeia produtiva também dependerá do desenvolvimento de cultivares que se adaptem às exigências advindas das previsões de mudanças climáticas em cenários futuros.
A Embrapa também tem contribuído para o desenvolvimento de soluções para cadeias produtivas de hortaliças como a alface - considerada a hortaliça folhosa mais consumida do planeta, e a de maior consumo no Brasil – que também teve sua produção alavancada nas últimas décadas.
Vencido o primeiro desafio da pesquisa nacional, de conseguir produzir alface também no verão, nos anos 1980 a Embrapa Hortaliças iniciou estudos envolvendo o manejo de patógenos e sistemas de cultivo dessa hortaliça. Ao longo das últimas décadas a Unidade também adaptou diversas cultivares de alface aos sistemas de cultivo convencional e orgânico. Além disso, mais recentemente entrou em execução a primeira fase do programa de melhoramento genético de alface da Embrapa.
Os resultados alcançados pela pesquisa nacional na produção de cebola, com ampla contribuição da Embrapa Hortaliças, também são relevantes. Segundo dados do IBGE sobre produção, produtividade e área colhida de cebola ao longo dos últimos 49 anos (1973 a 2021), em cinco décadas a produção decendial média brasileira quase triplicou. A produção anual, por sua vez, mais que quintuplicou no período, passando de 306.648 toneladas em 1973 para 1.640.628 toneladas em 2021.
Esse avanço foi possível graças à adoção de tecnologias como cultivares mais produtivas, resistentes e adaptadas ao verão tropical; pesquisas com produção e qualidade de sementes; produção de mudas e bulbinhos; aperfeiçoamento de sistemas produtivos e manejo de plantas daninhas, irrigação e fertirrigação.
Com uma equipe formada por 135 empregados, a Embrapa Hortaliças desenvolve soluções para muitas outras culturas, como abóbora, batata, berinjela, melão, pimenta, pulses como grão-de-bico e ervilha, morango, além de pesquisas que contemplam desde a alimentação tradicional – no caso das Plantas Alimentícias não Convencionais – à fronteira da ciência, como no caso das hortas verticais, projeto desenvolvido pela Unidade em parceria com a iniciativa privada.
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