Como as mudanças climáticas interferem na agricultura

20.05.2009 | 20:59 (UTC -3)

Concentração de CO2 na atmosfera, aumento da temperatura global e conseqüente alteração no regime de chuvas. Esse cenário preocupante, principalmente para os setores ligados à atividade agrícola, foi o tema do painel “Mudanças Climáticas: impactos na agricultura”, realizado dia 19, durante o V Congresso Brasileiro de Soja e o Mercosoja 2009.

O painel discutiu os cenários climáticos globais e regionalizados, traçando um panorama do que irá ocorrer com o clima nos próximos 20, 50 e 100 anos. Além de ter projetado como se dará a produção de grãos, em especial a de soja.

Segundo o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária, Eduardo Assad, que participou do debate, o último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) apontou um aumento de até 4°C na temperatura global para 2100.

Assad afirma que as culturas de verão serão as mais afetadas, uma vez que quanto mais alta a temperatura, maior a necessidade de água. “Nas condições do aumento de temperatura, constatamos que áreas de baixo risco transformam-se em áreas de alto risco climático, o que afeta principalmente as culturas da soja, do milho e do café”, afirma.

Por outro lado, a cultura da cana-de-açúcar será beneficiada com o aquecimento, pois em uma temperatura elevada essa planta tende a respirar mais, aumentar a prática da fotossíntese e crescer rapidamente. “As regiões de produção que possuem limitações, principalmente provocadas por geadas, serão beneficiadas com o aquecimento da temperatura, pois o risco de geada diminui”, explica Assad.

De acordo com o presidente do evento e moderador do painel, José Renato Bouças Farias, o principal impacto que o aumento de temperatura pode provocar na cultura da soja é o aumento da demanda de água pela planta. Segundo ele, isso pode acarretar em uma vulnerabilidade econômica da produção do grão, já que a produtividade da cultura da soja é muito afetada pela disponibilidade de água.

Segundo os especialistas, a soja será a cultura mais afetada pelo aquecimento global, caso as condições de cultivo sejam mantidas e nenhuma alteração genética seja realizada.

A Embrapa está desenvolvendo pesquisas para produção de cultivares com maior tolerância ao aumento de temperatura e à seca. “Mas para reduzir os impactos dessas mudanças também serão necessárias práticas de manejo do solo e da cultura capazes de permitir maior armazenamento de água no solo e, consequentemente, maior disponibilidade de água nas estações de crescimento da planta”, orienta Farias. Segundo ele, o produtor deve tomar essas medidas o mais rápido possível, pois a maioria apresenta resultados a longo prazo.

Alternativas – O pesquisador Eduardo Assad afirma que a agricultura é o principal componente da economia que tem escala para reduzir a emissão de gases de efeito estufa. “O setor agrícola possui técnicas de manejo que colaboram com o processo de diminuição do carbono, como integração pecuária-lavoura, plantio direto, melhoria de pastagem, boa adubação, redução dos fertilizantes e reflorestamento. Essas técnicas aliadas ao fim das queimadas podem manter o equilíbrio da floresta amazônica e a qualidade da atividade agrícola produtiva, tornando o Brasil um dos maiores países ‘limpadores’ da atmosfera”, explica.

Segundo ele, teses apontaram que o plantio direto pode promover um balanço positivo de gases que provocam o efeito estufa, pois consegue retirar até 500 kg de carbono por hectare. “Se considerarmos o total de 24 milhões de hectares de plantio direto de soja no país, é possível tirar 13 toneladas de carbono da atmosfera”. Além disso, se forem recuperados 100 milhões de hectares de pastagem que estão em processo de degradação, será possível extrair até cinco toneladas de carbono.

Mariana Fabre

Embrapa Soja

(43) 3371-6078 / (62) 3219-3450 /

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