Seminário destaca programas de citros, baru e trigo sequeiro e irrigado
Seminário sobre Pesquisa e Inovação em Germoplasma e Melhoramento Genético na Embrapa Cerrados será realizado no dia 27 de agosto
Um acordo firmado entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Internacional de Pesquisa de Cultivos para os Trópicos Semi-Áridos (ICRISAT), sediado na Índia, possibilitou a importação da totalidade do banco de germoplasma (core collection) de grão-de-bico desse país para integrar a coleção brasileira, utilizada nas pesquisas de melhoramento genético para o desenvolvimento de novas cultivares.
Ao todo, o Brasil recebeu mais de 25 quilos de sementes de grão-de-bico, sendo 1853 amostras embaladas individualmente em envelopes de papel contendo aproximadamente 100 sementes em cada. O material ingressou no país no final de abril e, após os trâmites do dossiê de importação sob vistoria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), cumpre um período de quarentena na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, localizada em Brasília/DF, para análises e testes de sanidade vegetal, antes de ser liberado para fins de pesquisa agrícola.
“A transferência da coleção de sementes de grão-de-bico entre a Índia e o Brasil foi facilitada pelo Tratado Internacional de Recursos Genéticos Vegetais para Alimentação e Agricultura (TIIRFA), do qual ambos os países são signatários”, explica a técnica Danielle Biscaia, supervisora do Núcleo de Apoio à Programação da Embrapa Hortaliças (Brasília/DF).
Durante a quarentena, os materiais vegetais passam por análises em diferentes laboratórios para averiguar a possível presença de ácaros, insetos, plantas infestantes, bactérias, fungos, nematoides e vírus. “As análises buscam interceptar pragas quarentenárias (de acordo com a lista de publicada pelo MAPA) e pragas exóticas que possam causar danos a cultura que está sendo introduzida”, explica Norton Polo Benito, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
Segundo ele, as análises são feitas diretamente nas sementes, sendo que parte das sementes são reservadas para o plantio, para que o desenvolvimento da planta seja acompanhado e novas análises sejam feitas em plantas com sintomas de pragas.
Após o término do período de quarentena, que pode variar de quatro a seis meses, a coleção oriunda do ICRISAT passará a integrar o Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de grão-de-bico da Embrapa e, então, será utilizada para os cruzamentos entre diferentes materiais no âmbito do programa de melhoramento genético para obtenção de novas cultivares, com características de interesse para o setor produtivo nacional.
No BAG da Embrapa, a conservação das amostras acontece em câmara fria, mas antes elas passam por um processo de secagem para atingir a umidade recomendada de 10% e, então, são colocadas em embalagens aluminizadas à prova de umidade. Na câmara fria, elas ficam armazenadas em uma temperatura de 5 ºC a 10 ºC com 40% de umidade relativa.
“Ter acesso a um banco completo de um centro internacional de pesquisa, com amostras coletadas em diferentes locais do mundo e com muita variabilidade, aumenta nossa possibilidade de encontrar materiais com tolerância a pragas e doenças ou outras qualidades interessantes para o contexto da produção e do consumo de grão-de-bico no país”, avalia o pesquisador Warley Nascimento, da Embrapa Hortaliças, ao comentar que o mercado vem se tornando mais exigente ao requerer cultivares mais precoces, produtivas e com boas características agronômicas, industriais e nutricionais.
As amostras de grão-de-bico serão plantadas nas condições de clima e de solo do Brasil para avaliação do desempenho agronômico. Os especialistas estimam que, em média, a pesquisa levará cinco anos para conseguir avaliar todas as amostras recebidas. “O grão-de-bico é uma espécie originária do continente asiático e, por isso, quando plantarmos as amostras aqui, tudo vai ser novo e diferente do comportamento que se observa lá. É importante avaliar bem nas condições brasileiras e, assim, garantirmos uma perenidade das pesquisas com grão-de-bico no nosso país”, sinaliza Nascimento, que esteve na Índia em uma visita ao ICRISAT quando deu início às tratativas para recebimento da coleção.
Há duas frentes de trabalho com as novas amostras de grão-de-bico da coleção de germoplasma da Embrapa: no curto prazo, após testar os materiais nas condições brasileiras, caso algum material adapte-se completamente bem, ele pode ser disponibilizado como uma nova cultivar; e no médio prazo, as novas amostras serão inseridas nos cruzamentos realizados no programa de melhoramento genético, junto com as cultivares já desenvolvidas pela Embrapa, como o grão-de-bico BRS Aleppo, com o objetivo de obter cultivares com características superiores.
Segundo o pesquisador, todas as características serão consideradas ao longo do estudo, mas a busca terá foco maior em materiais tolerantes à lagarta-das-vagens, praga preocupante nas lavouras de grão-de-bico; materiais com que suportem melhor o déficit hídrico e condições de seca prolongada, para posicionar o plantio do grão na safrinha e em regiões semiáridas; e materiais com alto teor de proteína que facilitam o processamento na forma de alimentos plant-based, ainda mais por esse segmento apresentar um crescimento de 10 a 20% por ano.
Além disso, no horizonte da pesquisa, também está a possibilidade do país se tornar um exportador de grão-de-bico para o restante do mundo. Atualmente, as cultivares BRS da Embrapa são todas do tipo kabuli, que é o grão maior e na cor bege, mais consumido no mercado nacional. “Com as novas amostras fazendo parte do nosso banco de germoplasma, poderemos ampliar as pesquisas para o grão-de-bico do tipo desi, que possui sementes pequenas e na tonalidade amarronzada, e é mais consumido em outros países. Logo, ampliamos nosso leque de atuação da pesquisa com potencial de exportação para o mercado internacional”, conclui Nascimento.
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