Autoridades e especialistas alertam para a importância da saúde do solo

Discussão engloba um dos grandes desafios mundiais e a garantia de bem-estar das futuras gerações

08.12.2021 | 15:10 (UTC -3)
IICA

Agricultores de diversos países das Américas, representantes da academia, ministros de agricultura, funcionários de organismos internacionais e diretores de importantes companhias do setor alimentar reuniram suas vozes para advertir que o cuidado com a saúde dos solos é uma das tarefas mais relevantes que a humanidade tem diante de si para garantir o bem-estar das futuras gerações.

Convocados pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), os atores do setor público e privado comemoraram o Dia Mundial dos Solos, celebrado no dia 5 de dezembro, para chamar a atenção sobre a sua importância decisiva para sustentar todas as formas de vida no planeta.

Também foi realizado um reexame das realizações do primeiro ano do programa “Solos Vivos das Américas”, lançado em dezembro de 2020 pelo IICA e o Centro de Gestão e Sequestro de Carbono (C-MASC), da Universidade do Estado de Ohio e dirigido pelo laureado cientista Rattan Lal.

A iniciativa já alcançou resultados concretos no combate à degradação dos solos, que ameaça solapar a capacidade dos países de satisfazer de maneira sustentável a demanda por alimentos, graças ao acompanhamento de diversos governos do hemisfério e do envolvimento de companhias privadas que já têm incorporado políticas tendentes à restauração dos solos em suas atividades produtivas.

Participaram do encontro o professor Lal, colaureado em 2007 com o Prêmio Nobel da Paz, Embaixador da Boa Vontade do IICA e considerado a autoridade máxima mundial em ciências do solo; a Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, Tereza Cristina; a Ministra da Agricultura do Chile, María Emilia Undurraga; o Ministro da Agricultura e Pecuária da Costa Rica, Renato Alvarado; o Presidente do Conselho Diretor da FONTAGRO, Arnulfo Gutiérrez; o Presidente da Comissão Diretora do Programa Cooperativo para o Desenvolvimento Tecnológico Agroalimentar e Agroindustrial do Cone Sul (PROCISUR), José Bonica; o Presidente da Comissão Interamericana de Agricultura Orgânica (CIAO), Rommel Betancourt; o Diretor do setor Agrícola de Pepsico na América Latina, Arturo Durán; a Vice-Presidente e Chefe de Estratégia e Assuntos para Atores Globais de Bayer, Nataha Santos; o Diretor Regional da Syngenta na América Latina, Juan Pablo Llobet; e o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero.

Durante a atividade foi exibida a experiência bem-sucedida que está sendo realizada no âmbito do programa Solos Vivos nas Américas em terras da região chilena de O’Higgins, onde, devido à erosão, a agricultura havia sido abandonada e só se praticava uma pecuária menor.

Também foram mostrados os melhores rendimentos obtidos graças a práticas que melhoram a saúde dos solos em plantações de café e hortaliças na Costa Rica, no contexto do programa AGRO-INOVA, implementado pelo IICA e a União Europeia.

O professor Lal explicou que a restauração da saúde dos solos é um elemento imprescindível para pensar na erradicação da pobreza, avançar na busca da equidade social, fortalecer a biodiversidade, melhorar a qualidade da água e reduzir as emissões de gases de efeito estufa, que geram a mudança do clima.

O cientista valorizou a recente criação da Coalizão de Ação para a Saúde dos Solos (CA4SH), por ocasião da Cúpula sobre Sistemas Alimentares das Nações Unidas.

A Coalizão congrega múltiplos atores do âmbito público e privado com o objetivo de melhorar a saúde dos solos pela implementação e o monitoramento das políticas e barreiras de investimentos públicos e privados que limitam os agricultores no momento de adotar práticas benéficas para os solos.

“O solo é vida. Não é apenas o esteio da produção agropecuária, mas o motor do desenvolvimento da vida rural”, disse a ministra chilena María Emilia Undurraga, que informou que 79% das terras em seu país apresentam algum tipo de degradação, e que a metade sofre erosão.

Undurraga destacou que a Comissão de Agricultura do Senado chileno acaba de aprovar um projeto-quadro de lei de solos para propiciar a gestão sustentável desse recurso.

“Temos maltratado o solo, por grandes explorações, práticas de arado agressivas e cargas excessivas de agroquímicos. Hoje entendemos que, para continuar a cultivar alimentos para as novas gerações, é necessário recarbonizar o solo”, explicou, por sua vez, o Ministro da Costa Rica, Renato Alvarado.

O Brasil tem uma longa experiência em implementação de práticas de conservação dos solos e, até 2020, havia mais de 52 milhões de hectares com modelos agrícolas de baixas emissões de carbono, explicou a Ministra Tereza Cristina, que anunciou que o objetivo é chegar a 72 milhões de hectares até 2030.

“Colaboração é a palavra do momento. Queremos compartilhar as nossas experiências, pois a sustentabilidade só funcionará se tiver alcance universal”, acrescentou.

Arnulfo Gutiérrez, em nome dos países que compõem a FONTAGRO, mecanismo de cooperação que promove a ciência e a inovação na agricultura da região, sustentou que hoje os solos do continente sofrem por salinização, erosão e contaminação devido às práticas extrativistas. “É possível restaurar a sua função ecológica e a sua biodiversidade, mudando as práticas”, afirmou.

José Bonica, do PROCISUR, ressaltou a expansão do plantio direto no continente, que ajudou a melhorar o diálogo sobre os solos. “Nossos produtores receberam a terra dos mais velhos — disse —, e querem deixá-la para seus netos”.

Rommel Betancourt enfatizou que a CIAO se soma ao programa Solos Vivos nas Américas por acreditar na necessidade de gerar políticas públicas que oferecem ferramentas aos produtores do continente para fazer uma agricultura mais sustentável.

Durante o evento, três grandes companhias explicaram por que decidiram se juntar à iniciativa Solos Vivos nas Américas.

“Por muitos anos temos descuidado de nossos solos e agora temos uma grande oportunidade para compensá-lo, com o trabalho conjunto de governos, da indústria, de instituições, de instituições de ensino, ONGs e, obviamente, de agricultores”, disse Arturo Durán, da Pepsico.

Juan Pablo Llobet, da Syngenta, enfatizou “os desafios sem precedentes enfrentados pela humanidade graças à mudança do clima e que nos obrigam a promover uma coexistência entre a produção e a proteção do meio ambiente”.

Na Bayer, Natasha Santos ressaltou que não se deve fazer cobranças aos agricultores, se não se está perto deles: “Há carência de mudanças sistêmicas na produção, que são de responsabilidade de todos”.

“Os solos são essenciais para as nossas vidas”, afirmou o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, que destacou que o programa Solos Vivos nas Américas busca promover a transformação dos sistemas agroalimentares abraçando o enfoque de Uma Só Saúde.

Otero precisou que o Brasil, Chile, Costa Rica, Granada, México e Uruguai já têm somado esforços ao programa Solos Vivos nas Américas, juntamente com agricultores, organismos e empresas.

“Convidamos entidades dos setores público e privado, ONGs e a organizações internacionais — finalizou Otero — a que se unam a nós para promover a conservação e a saúde dos solos, que representam um ativo único e no qual vivemos e cultivamos nossos alimentos”.

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