Aranha usa bioluminescência de vagalumes como isca para capturar novas presas

Estudo revela que "Araneus ventricosus" manipula sinais luminosos emitidos por animais capturados para atrair mais machos para sua teia

20.08.2024 | 14:58 (UTC -3)
Schubert Peter, Revista Cultivar
Foto: 池田正樹 - Own work, CC BY-SA 3.0
Foto: 池田正樹 - Own work, CC BY-SA 3.0

Pesquisadores descobriram que a aranha Araneus ventricosus, conhecida por tecer teias orbiculares, utiliza uma forma de comunicação enganosamente sofisticada para capturar suas presas, em especial os vagalumes machos da espécie Abscondita terminalis. O comportamento foi revelado através de um estudo que investigou como as aranhas manipulam os sinais bioluminescentes emitidos pelos vagalumes já presos em suas teias, transformando-os em iscas vivas para atrair mais presas.

Enquanto a maioria dos predadores se move ativamente em busca de suas presas, Araneus ventricosus adotou uma abordagem mais passiva e engenhosa. Ela se aproveita da bioluminescência dos vagalumes machos, que normalmente emitem sinais luminosos para atrair fêmeas durante o acasalamento. Ao ficarem presos na teia da aranha, esses machos capturados começam a emitir sinais luminosos que se assemelham aos das fêmeas, atraindo outros machos para a mesma armadilha.

Os pesquisadores realizaram experimentos de campo usando um design 2x2, que envolveu a presença ou ausência da aranha na teia e a emissão ou não de sinais luminosos pelos vagalumes machos capturados. Os resultados mostraram que a taxa de captura de vagalumes machos livres foi significativamente maior quando havia sinais luminosos visíveis emitidos pelos vagalumes já capturados na presença de uma aranha.

Análise detalhada dos sinais emitidos pelos vagalumes capturados revelou que, na presença de uma aranha, esses machos modificam seus padrões de emissão de luz, utilizando apenas uma lanterna ao invés de duas e emitindo sinais de pulso único, que são mais característicos dos sinais emitidos pelas fêmeas. Isso sugere que a aranha, possivelmente através de suas mordidas, consegue manipular os neurotransmissores dos vagalumes, fazendo com que eles emulem os sinais típicos de fêmeas e, assim, atraiam mais machos para a teia.

O estudo também descartou a hipótese de que esses sinais modificados seriam meros sinais de angústia ou flashes de advertência entre machos. Os dados mostraram que os machos livres eram atraídos mais frequentemente para teias que continham aranhas e vagalumes capturados em comparação com teias que continham apenas vagalumes.

Os pesquisadores observaram que a aranha adotava um comportamento específico ao lidar com vagalumes machos capturados que ainda emitiam luz. Em 81,8% das vezes, a aranha realizou uma sequência de ataques de mordida e enrolamento em intervalos regulares, enquanto os vagalumes continuavam a emitir luz mesmo durante o ataque.

O estudo revela uma forma sofisticada de comunicação interespécies, onde a aranha Araneus ventricosus utiliza sinais luminosos de suas presas para enganar e capturar mais vagalumes. As descobertas sugerem que o veneno ou as mordidas da aranha podem estar alterando os padrões de sinalização dos vagalumes capturados, transformando-os em iscas que enganam outros machos.

Essa pesquisa abre novas perspectivas sobre como predadores podem utilizar sinais de suas presas para melhorar suas estratégias de caça, demonstrando uma complexidade até então subestimada em interações predador-presa. Mais estudos serão necessários para entender completamente os mecanismos neurobiológicos por trás dessa manipulação de sinais.

Mais informações em doi.org/10.1016/j.cub.2024.07.011

<b>(A)</b> Aranha envolvendo vagalume macho, exibindo flashes visíveis de suas lanternas. <b>(B)</b> Vagalume macho enredado em uma teia sem aranha, exibindo luminescência em uma de suas duas lanternas (indicada por uma seta). <b>(C)</b> Aranha com dois vagalumes machos enredados, um dos quais tem uma lanterna luminescente (indicada pela seta). <b>(D)</b> Vista ventral de um vagalume macho mostrando as duas lanternas em seu abdômen. <b>(E)</b> Vista ventral de uma vagalume fêmea apresentando uma única lanterna luminescente em seu abdômen. <b>(F)</b> Vagalume macho livre com ambas as lanternas luminescentes. <b>(G)</b> Vagalume fêmea com sua única lanterna luminescente. <b>(H) </b>Aranha se alimentando de um vaga-lume macho envolto com suas lanternas escurecidas usando tinta. <b>(I) </b>Vagalume macho envolto com suas lanternas escurecidas. Barras: 5 mm (A–I). <b>(J)</b> Vagalume macho livre (quatro sequências de flashes, cada uma consistindo de flashes multipulsados). <b>(K) </b>Vagalume fêmea (flashes de pulso único). <b>(L)</b> Vagalume macho preso em uma teia com uma aranha (flashes de pulso único). <b>(M)</b> Vagalume macho preso sozinho em uma teia (flashes de pulso único). A duração do flash para trens de flashes de múltiplos pulsos de vagalumes machos livres é o tempo decorrido do início do pulso até o fim do pulso. O intervalo entre flashes é o tempo decorrido do fim de um pulso até o início do próximo pulso. O período do flash é a soma da duração do flash e do intervalo entre flashes. A taxa de flash é o número de flashes por segundo. <b>(N)</b> Comparação do número de vagalumes machos presos em teias de aranhas em diferentes tratamentos por meio de comparações múltiplas post-hoc. S+F+ (N = 43): vagalume em uma teia com uma aranha (flashes visíveis). S+F– (N = 37): vagalume em uma teia com uma aranha (lanternas abdominais ventrais apagadas). S–F+ (N = 52): vagalume sozinho em uma teia, flashes visíveis. S–F– (N = 29): nem uma aranha nem um vagalume presentes em uma teia. Diferenças significativas são denotadas por diferentes letras minúsculas (P &lt; 0,05). <b>(O–R)</b> Características do sinal bioluminescente de vaga-lumes comparadas, com ANOVAs unidirecionais conduzidas para fêmeas (N = 7), machos livres (N = 14), machos enredados em uma teia com uma aranha (machos S+F+: N = 16) e machos enredados sozinhos em uma teia (machos S–F+: N = 7). <b>(O)</b> Duração do flash (F3,40 = 16,03, P &lt; 0,0001). <b>(P)</b> Intervalo do flash (F3,40 = 32,81 P &lt; 0,0001). <b>(Q)</b> Período do flash (F3,40 = 41,29, P &lt; 0,0001). <b>(R)</b> Taxa de flash (F3,40 = 43,11, P &lt; 0,0001). Comparações múltiplas pareadas post-hoc HSD: machos S+F+ não significativamente diferentes das fêmeas; para todas as características de flash, exceto intervalo de flash, machos S–F+ significativamente diferentes das fêmeas e machos S+F+. Letras minúsculas diferentes indicam as diferenças de significância (P &lt; 0,05) nos dados. Os boxplots (N–R) mostram a mediana (linha central), primeiro e terceiro quartis (caixa) e valores mínimo e máximo (bigodes)
(A) Aranha envolvendo vagalume macho, exibindo flashes visíveis de suas lanternas. (B) Vagalume macho enredado em uma teia sem aranha, exibindo luminescência em uma de suas duas lanternas (indicada por uma seta). (C) Aranha com dois vagalumes machos enredados, um dos quais tem uma lanterna luminescente (indicada pela seta). (D) Vista ventral de um vagalume macho mostrando as duas lanternas em seu abdômen. (E) Vista ventral de uma vagalume fêmea apresentando uma única lanterna luminescente em seu abdômen. (F) Vagalume macho livre com ambas as lanternas luminescentes. (G) Vagalume fêmea com sua única lanterna luminescente. (H) Aranha se alimentando de um vaga-lume macho envolto com suas lanternas escurecidas usando tinta. (I) Vagalume macho envolto com suas lanternas escurecidas. Barras: 5 mm (A–I). (J) Vagalume macho livre (quatro sequências de flashes, cada uma consistindo de flashes multipulsados). (K) Vagalume fêmea (flashes de pulso único). (L) Vagalume macho preso em uma teia com uma aranha (flashes de pulso único). (M) Vagalume macho preso sozinho em uma teia (flashes de pulso único). A duração do flash para trens de flashes de múltiplos pulsos de vagalumes machos livres é o tempo decorrido do início do pulso até o fim do pulso. O intervalo entre flashes é o tempo decorrido do fim de um pulso até o início do próximo pulso. O período do flash é a soma da duração do flash e do intervalo entre flashes. A taxa de flash é o número de flashes por segundo. (N) Comparação do número de vagalumes machos presos em teias de aranhas em diferentes tratamentos por meio de comparações múltiplas post-hoc. S+F+ (N = 43): vagalume em uma teia com uma aranha (flashes visíveis). S+F– (N = 37): vagalume em uma teia com uma aranha (lanternas abdominais ventrais apagadas). S–F+ (N = 52): vagalume sozinho em uma teia, flashes visíveis. S–F– (N = 29): nem uma aranha nem um vagalume presentes em uma teia. Diferenças significativas são denotadas por diferentes letras minúsculas (P < 0,05). (O–R) Características do sinal bioluminescente de vaga-lumes comparadas, com ANOVAs unidirecionais conduzidas para fêmeas (N = 7), machos livres (N = 14), machos enredados em uma teia com uma aranha (machos S+F+: N = 16) e machos enredados sozinhos em uma teia (machos S–F+: N = 7). (O) Duração do flash (F3,40 = 16,03, P < 0,0001). (P) Intervalo do flash (F3,40 = 32,81 P < 0,0001). (Q) Período do flash (F3,40 = 41,29, P < 0,0001). (R) Taxa de flash (F3,40 = 43,11, P < 0,0001). Comparações múltiplas pareadas post-hoc HSD: machos S+F+ não significativamente diferentes das fêmeas; para todas as características de flash, exceto intervalo de flash, machos S–F+ significativamente diferentes das fêmeas e machos S+F+. Letras minúsculas diferentes indicam as diferenças de significância (P < 0,05) nos dados. Os boxplots (N–R) mostram a mediana (linha central), primeiro e terceiro quartis (caixa) e valores mínimo e máximo (bigodes)

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