Embrapa testa robô para diagnóstico de doenças em plantas

Sistema LumiBot detecta nematoides antes dos sintomas e promete ganhos à agricultura de precisão

14.10.2025 | 14:27 (UTC -3)
Joana Silva, edição Revista Cultivar
Fotos da matéria: Wilson Aiello
Fotos da matéria: Wilson Aiello

A Embrapa Instrumentação (SP), em parceria com a Cooperativa Mista de Desenvolvimento do Agronegócio (Comdeagro), de Mato Grosso, desenvolveu um robô capaz de identificar precocemente infecções por nematoides em plantas de algodão e soja, antes mesmo do surgimento dos sintomas visuais.

Batizado de LumiBot, o sistema robótico autônomo opera à noite, emitindo luz ultravioleta-visível sobre as plantas e capturando imagens da fluorescência emitida pelas folhas com câmeras científicas. A partir dessas imagens, o equipamento gera dados que alimentam modelos de diagnóstico por meio de algoritmos de reconhecimento de padrões.

Resultados promissores em experimentos

O protótipo foi testado em casa de vegetação ao longo de três anos, período em que coletou cerca de sete mil imagens. Os resultados indicam taxas de acerto superiores a 80% na detecção de nematoides e na diferenciação entre doenças e estresses hídricos.

“Conseguimos gerar dados e modelos com alto índice de acerto, o que reforça o potencial da técnica para uso no monitoramento de lavouras”, afirma Débora Milori, pesquisadora da Embrapa e coordenadora do estudo no Laboratório Nacional de Agrofotônica (Lanaf).

A próxima etapa do projeto prevê a adaptação do sistema óptico para operação em campo, possivelmente integrado a veículos agrícolas do tipo pulverizador gafanhoto ou rover.

Impactos econômicos e perdas na produção

O avanço da pesquisa ocorre em um contexto de grandes desafios para as culturas de algodão e soja, que têm peso estratégico na economia brasileira. A safra 2025/26 deve alcançar 4,09 milhões de toneladas de pluma e 177,67 milhões de toneladas de soja, segundo a Conab.

Entretanto, o ataque de nematoides continua sendo uma ameaça expressiva. “Há relatos de perdas de 50% a 60% em casos extremos, com média de 10% a 12% em algumas regiões”, relata Rafael Galbieri, pesquisador do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt). 

Estima-se que os prejuízos superem R$ 4 bilhões anuais apenas na cotonicultura. Na soja, o impacto chega a R$ 27,7 bilhões, de acordo com estudo da Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN), em parceria com a Syngenta e a Agroconsult.

Como funciona a tecnologia

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O LumiBot utiliza a técnica de Imagem de Fluorescência Induzida por LED, que estimula compostos moleculares como a clorofila a emitir luz por fluorescência. Essa resposta óptica é capturada em apenas sete segundos, em ambiente escuro, garantindo a precisão dos sinais.

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Segundo Débora Milori, além da detecção de doenças, a tecnologia também pode indicar diferentes tipos de estresses bióticos e abióticos, ampliando o potencial de aplicação em diagnósticos agrícolas.

Redução do uso de químicos

O método tradicional de controle de nematoides baseia-se no uso de nematicidas, produtos de alto custo e potencial impacto ambiental. Para Milori, o monitoramento localizado e precoce é uma alternativa mais sustentável e econômica.

“Com equipamentos capazes de identificar a infecção antes do aparecimento dos sintomas, o produtor pode agir apenas nas áreas afetadas, reduzindo o uso de defensivos e o impacto ambiental”, explica.

Na avaliação do consultor da Comdeagro, Sérgio Dutra, a tecnologia representa um avanço importante para a agricultura de precisão. “O diagnóstico antecipado permite ações mais rápidas e direcionadas, melhora a qualidade da fibra e contribui para maior rentabilidade ao produtor”, destaca.

Apresentação no Siagro

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O LumiBot será apresentado durante o Simpósio Nacional de Instrumentação Agropecuária (Siagro), que acontece de 14 a 16 de outubro, no Laboratório de Referência Nacional em Agricultura de Precisão (Lanapre), da Embrapa Instrumentação, em São Carlos (SP).

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